Folha de S.Paulo

Senado aprova PEC do Calote e Auxílio Brasil

Governo articula mudança para que acesso de novos benefícios só ocorra quando houver verba

- Thiago Resende e Renato Machado

Após concessões feitas pelo governo, o plenário do Senado aprovou ontem a PEC dos Precatório­s, conhecida como PEC do Calote. Como o texto foi alterado, precisará passar de novo pela Câmara. A proposta é o mecanismo para destravar o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil, cuja criação também foi aprovada ontem pelos senadores e seguiu para sanção.

Por articulaçã­o do governo, o Senado alterou a proposta que cria o Auxílio Brasil e retomou a brecha para que haja fila de espera no programa social. O Auxílio Brasil foi elaborado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para substituir o Bolsa Família —marca ligada a gestões petistas.

Por votação simbólica, o plenário do Senado fez alterações na versão que já havia sido aprovada pela Câmara e derrubou um mecanismo que tinha potencial de ampliar o número de famílias atendidas pelo programa. O texto aprovado pelos deputados iria pressionar a verba do Auxílio Brasil já no próximo ano.

A proposta que cria o Auxílio Brasil segue para sanção.

Houve apoio à mudança inclusive de partidos de oposição, como o PT.

Por ter criado o Auxílio Brasil por meio de uma MP (medida provisória), o ato de Bolsonaro teve efeito imediato. No entanto, o projeto precisava do aval das duas Casas do Congresso até 7 de dezembro para não perder a validade.

A Câmara havia aprovado mudanças nas regras do programa que elevariam a cobertura da transferên­cia de renda à população mais vulnerável, pressionan­do a verba do programa social para 2022. O orçamento de quase R$ 86 bilhões, que tem sido planejado para o ano que vem, poderia não ser suficiente.

Segundo o relator da MP na Câmara, deputado Marcelo Aro (PP-MG), a versão da proposta que passou pela Câmara elevaria o número de famílias beneficiad­as para 20 milhões.

O governo trabalha com o cenário de que o Auxílio atenderá 17 milhões de famílias —a cobertura hoje é de 14,7 milhões.

Após atuação do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e do ministro João Roma (Cidadania), o relator MP no Senado, senador Roberto Rocha (PSDBMA), retomou um trecho em que condiciona o atendiment­o das famílias à disponibil­idade de recursos financeiro­s.

Hoje, por lei, o governo não é obrigado a atender todas as famílias que se encontram dentro das faixas de pobreza e extrema pobreza.

A fila, que atualmente está em torno de 1,2 milhão de cadastros, se forma porque a verba do Bolsa Família tem ficado menor que o necessário para atender a todos que tiveram o pedido analisado.

No entanto, além da fila que já se formou, houve um aumento no número de famílias que se inscrevera­m na faixa de pobreza e extrema pobreza pelo Cadastro Único (sistema para programas sociais), como relataram técnicos do governo à Folha em outubro diante do fim do auxílio emergencia­l.

Rocha alterou a versão da MP aprovada na Câmara, que obrigava o governo a manter a fila sempre zerada, independen­temente de verba disponível no programa.

“Ao longo do ano que vem, se forem se formando novos cadastros, vai ser formada uma fila, mas o Orçamento já foi aprovado e nós não temos como fazer essas pessoas serem atendidas dentro do próprio ano. Então, elas serão atendidas no ano subsequent­e”, argumentou Bezerra.

O Senado, porém, manteve uma mudança aprovada pelos deputados que eleva as faixas de pobreza e extrema pobreza (critérios de entrada de uma família no programa social). Isso também abre margem para que mais pessoas se enquadrem na transferên­cia de renda.

No início de novembro, o governo atualizou esses critérios. Hoje, para entrar no Bolsa Família, o Cadastro Único considera em extrema pobreza pessoas com renda mensal de R$ 100 por membro da família. Rendimento­s entre R$ 100,01 e R$ 200 são classifica­dos como situação de pobreza.

O texto aprovado pela Câmara eleva essas faixas para R$ 105 por membro da família (extrema pobreza) e R$ 210 (pobreza). Com isso, mais pessoas se tornam aptas a receber a transferên­cia de renda pelo Auxílio Brasil.

A versão aprovada também flexibiliz­a as regras para calcular essa renda per capita. Não entram no cálculo, por exemplo, rendas eventuais ou sazonais.

Apesar de flexibiliz­ar os critérios de entrada no programa social, o novo texto aprovado pelo Senado determina que o atendiment­o dessas famílias ocorra apenas se houver verba. Ou seja, abre brecha para ao cresciment­o da fila de espera mais uma vez.

A Mesa Diretora do Senado afirmou que as alterações feitas por Rocha não configurav­am uma mudança de mérito na proposta, o que obrigaria a uma nova apreciação na Câmara. Por esse motivo, a MP seguiu já para a sanção.

Apesar de ter aprovado a MP que cria o Auxílio Brasil, o governo precisa concluir o aval do Congresso para ampliar a margem de gastos no Orçamento e, com isso, cumprir a promessa de Bolsonaro para elevar o benefício médio do programa do patamar atual de R$ 220 por mês para, no mínimo, R$ 400.

A ampliação da margem de gastos se dará pela PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) do Calote, que foi aprovada pelo Senado nesta quinta, mas, por causa de mudanças feitas pela Casa, precisará ser votada novamente pela Câmara.

Com essa PEC, será possível expandir o orçamento do programa para cerca de R$ 86 bilhões no próximo ano, quando Bolsonaro pretende concorrer à reeleição.

As bases do Auxílio Brasil seguem o formato do Bolsa Família. Quem já está no programa criado na gestão do PT é automatica­mente transferid­o para a versão de Bolsonaro.

O programa de Bolsonaro altera a forma de calcular o benefício de cada família. Ao todo, serão nove tipos de benefício que, ao final da conta, serão reunidos no valor a ser recebido.

No entanto, a principal diferença entre o Auxílio Brasil e o Bolsa Família é a intenção do governo de ampliar a verba para o programa.

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