Ômicron se soma a juros e eleição como obstáculo à retomada
O resultado do PIB corrobora um esperado cenário de estabilidade da atividade econômica influenciado negativamente pelas quedas da produção agropecuária, da indústria de transformação, do comércio e outros.
A indústria vem sofrendo impactos negativos relacionados aos problemas das cadeias produtivas, que geram escassez de insumos e, por consequência, aumentos de custos —já elevados devido ao câmbio desvalorizado. A indústria automotiva, por exemplo, vem produzindo um volume abaixo da demanda, gerando filas de espera por carros novos e inflacionando o mercado de usados.
Os fatores que contrabalançaram positivamente o resultado do terceiro trimestre deste ano foram alguns segmentos dos serviços, impulsionados pela melhora do quadro epidemiológico da Covid-19, e da construção, que continua refletindo o aumento da demanda por imóveis residenciais.
Em relação ao setor agropecuário, o regime de chuvas muito abaixo da média e as geadas explicam as quebras de safras de lavouras importantes como milho, cana e algodão. Boa parte das perdas do setor deve-se a esses problemas de safra, mas, no terceiro trimestre, a produção de bovinos também foi significativamente afetada pela imposição de barreiras sanitárias do maior importador do produto brasileiro, a China.
A boa notícia é que se espera para o ano que vem um crescimento das principais lavouras e da produção pecuária. Ou seja, as perspectivas para o PIB do setor agropecuário de 2022 são de crescimento.
Em relação ao restante da economia, vivemos um momento desafiador. As reformas microeconômicas feitas nos últimos anos podem impulsionar os investimentos, especialmente em infraestrutura. Esses investimentos devem contar também com impulso dos governos subnacionais, que estarão com boa disponibilidade de caixa em ano de eleições.
Os segmentos dos serviços mais dependentes de interação presencial, como os serviços prestados às famílias, também podem contribuir para o resultado de 2022. Embora o mercado de trabalho ainda mostre um quadro geral ruim, com desemprego e subutilização elevados, a população ocupada continua a mostrar tendência de alta —o que é positivo para a demanda. Por outro lado, a confiança do consumidor está em baixa, e a inflação elevada reduz o poder de compra especialmente da população de baixa renda.
O aumento dos juros desestimula o crédito ao consumidor e os investimentos produtivos. Esse fator se soma às incertezas inerentes ao ano eleitoral e à dinâmica da pandemia de Covid-19, com a ômicron.
Em resumo, um problema que parecia estar sob controle pode voltar a causar prejuízos à economia, embora ainda seja muito difícil fazer qualquer projeção dos impactos dessas questões sobre o Brasil.