Crescimento de 2021 deve configurar mais um voo de galinha
Este tem sido um ano errático, começou com a esperança de que o pior havia ficado para trás, e ignorando a segunda onda de contágio entre fevereiro e março. Já em meados do ano, parecia não haver tempo ruim para atividade econômica. O governo se vangloriava e a recuperação econômica foi um devaneio rápido.
O terceiro trimestre já foi chancelado por incertezas, seja no cenário internacional com a chegada de outra variante (a delta), seja pelo “balança
mas não cai” da China com o caso da empresa do setor imobiliário, a Evergrande, seja pelas condições fiscais locais que escancararam a má administração do país.
Um bom desempenho econômico passa em boa medida pela confiança dos agentes, afinal as decisões de investir, contratar, tomar crédito ou consumir estão intimamente ligadas ao quão confortável estamos com a conjuntura econômica. E aí é a questão: nossa conjuntura econômica foi machucada várias e várias vezes, não só pela pandemia mas principalmente pelas decisões locais, com destaque para os discursos errados e desafetos das autoridades brasileiras.
A conclusão pode ser vista em números. Nesta quinta-feira (2), o IBGE divulgou o PIB do terceiro trimestre, que, dado o quadro descrito acima, apresentou ligeira queda de -0,1% em relação ao segundo trimestre, com queda em segmentos importantes, como agropecuária, e estabilidade da indústria.
Para não trazer só notícias desagradáveis, o PIB também mostrou uma face positiva, vinda de serviços, motivada ainda pelo consumo das famílias. Acredito que esse movimento se deve a nossa atual política fiscal expansiva, o que, por sinal, tem mantido a inflação em dois dígitos. Ou seja, até o que pode ser bom não é tanto assim.
Olhando para a frente, a conjuntura pior deve continuar pesando na confiança. Pois enquanto fomos monotemáticos em pandemia por quase dois anos, em 2022, seremos monotemáticos em eleições. Tudo será ao redor da decisão das urnas. É impossível adivinhar o que vai acontecer, quem vai ganhar, mas sabemos que as eleições presidenciais por si só, historicamente, já geram muita incerteza.
Adicionalmente, a popularidade do presidente atual já não está lá tão boa. Considerando
seu perfil, e o fato de que hoje ele enfrenta uma rejeição de cerca de 60%, é factível esperar medidas populistas para conseguir ser reeleito num ambiente fiscal fragilizado.
Finalmente, em anos eleitorais, o Congresso foca suas energias nas articulações e votos (leia-se sem espaço para reformas ). Portanto, esses são anos com crescimento mais modesto. Essa combinação joga ainda mais para baixo as expectativas de crescimento (ou seria gera mais força para recessão econômica?).
Com isso, o crescimento a ser visto no acumulado de 2021 deve configurar apenas mais um voo de galinha.