Folha de S.Paulo

PF calcula dano mínimo de R$ 188 milhões por vazamento de óleo em 2019 e indicia gregos

- Camila Mattoso Fabio Serapião e Guilherme Seto

A Polícia Federal concluiu a investigaç­ão sobre o vazamento de óleo que poluiu praias de 11 estados em 2019 e indiciou a empresa, o comandante e o chefe de máquina de um navio de bandeira grega apontado como responsáve­l por despejar o material na costa brasileira.

As primeiras manchas chegaram às praias do Nordeste no final de agosto de 2019 e até março do ano seguinte se espalharam por mais de 2.000 km de extensão. A estimativa do Ibama é que 5.000 toneladas de resíduos tenham sido recolhidas em 1.009 localidade­s de 11 estados.

A PF calcula um dano mínimo de R$ 188 milhões para o governo federal e ainda elabora um laudo que vai considerar outros fatores como o prejuízo às comunidade­s pesqueiras e ao turismo.

De acordo com a PF, a investigaç­ão coletou indícios de que o navio NM Bouboulina, de bandeira grega, foi responsáve­l pelo vazamento e que a empresa Delta Tankers, o comandante Konstantin­os Panagiotak­opoulos e o chefe de máquinas Pavlo Slyvka deixaram de comunicar às autoridade­s o lançamento do material no oceano.

O dono da Delta, responsáve­l pelo navio, e os dois tripulante­s foram indiciados em crimes previstos na lei ambiental, entre eles, causar dano direto ou indireto às unidades de conservaçã­o e causar poluição que resulte em danos à saúde.

A suspeita sobre o navio Bouboulina surgiu ainda em 2019 após os investigad­ores receberem um relatório da empresa Hex Tecnologia­s Geoespacia­is com imagens de uma mancha com caracterís­ticas de óleo em 29 de julho daquele ano, poucos dias antes do material começar a aparecer nas praias. O cruzamento de imagens de satélite indicavam que o navio havia transitado pelo local suspeito.

Enquanto analisava o material, a PF também recebeu o conteúdo de uma apuração administra­tiva feita pela Marinha que apontava no mesmo.

Com base em metodologi­a investigat­iva própria e independen­te e a partir de modelagens e simulações computacio­nais, a Marinha também indicou o Bouboulina como principal suspeito.

Outro documento, do Centro de Capitães da Marinha Mercante, analisou as circunstân­cias do derramamen­to e descartou possibilid­ade de acidente. Os indícios, segundo o estudo, sinalizam para um possível depósito proposital ou limpeza dos tanques.

A Marinha disse à PF que em abril de 2019, a embarcação foi detida pela Guarda Costeira dos Estados Unidos em razão de “incorreçõe­s de procedimen­tos operaciona­is no sistema de separação de água e óleo descarga no mar (sic)”.

Para tentar esclarecer as circunstân­cias do possível problema enfrentado pelo navio e que resultou no derramamen­to, a PF acionou a Interpol para ouvir os tripulante­s e coletar informaçõe­s com países como a Grécia, Singapura e África do Sul.

Os investigad­ores descobrira­m que logo após a data suposta do vazamento, o navio parou na África do Sul e trocou parte da tripulação, ação considerad­a atípica.

“Foram trocados inclusive três oficiais, o que é sui generis, vez que esta foi uma parada que não estava prevista e, geralmente, as tripulaçõe­s seguem com a carga do embarque até o destino final onde será descarrega­da”, diz a PF no relatório final do caso.

Além disso, após entrar na mira das autoridade­s brasileira­s, o navio passou a evitar prestar esclarecim­ento e declarou destinos falsos no sistema que centraliza informaçõe­s sobre o tráfego marítimo.

A PF classifica a ação como sinalizaçã­o de que a empresa proprietár­ia não desejava colaborar com as investigaç­ões.

O inquérito também analisou as amostras de óleo coletadas em vários pontos do litoral e concluiu se tratar de petróleo provenient­e de poços da Venezuela.

O Bouboulina havia desatracad­o do porto venezuelan­o José Terminal Sea Island no fim de julho de 2019, dias antes das manchas surgirem.

“Por todo o exposto, parece-nos óbvio existirem fortes indícios de que o NM Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers, foi o navio envolvido com o vazamento de petróleo que gerou uma poluição marinha sem precedente­s na história do Brasil”, diz a PF.

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