Djaimilia Pereira de Almeida discute os silêncios e a justiça em mesa forte na Flip
A angolana Djaimilia Pereira de Almeida e a turca Elif Shafak protagonizaram nesta quintafeira uma das mesas mais fortes da festa literária até agora.
Com uma discussão que refletiu sobre o poder dos silêncios, o peso das heranças e a multiplicidade contida em cada pessoa, duas das autoras mais talentosas em atividade teceram um diálogo natural sobre suas últimas obras.
Djaimilia afirmou que “A Visão das Plantas”, romance curto que lançou no Brasil pela Todavia, não foi escrito com qualquer interesse em julgar o seu protagonista, um capitão de navio negreiro que termina a vida cuidando do jardim de sua casa com a consciência plenamente limpa.
“O livro trabalhava sobre uma possibilidade desconcertante, a de não existir justiça no mundo, nada que nos conforte”, argumenta. A autora, premiada com o Oceanos, afirmou que não lhe interessa nada impingir seus juízos pessoais sobre as personagens, mas apresentar todas “em sua espetacular multiplicidade e contradição”.
Shafak também defendeu, que todos os humanos contêm multitudes, como disse Walt Whitman. “Acredito em pertencimentos múltiplos, não quero pensar na identidade como uma coisa singular”, afirmou a escritora, que se disse interessada também nos “silêncios das famílias que passam por grandes traumas ou imigrações”. “Os mais idosos passaram pelos maiores obstáculos, mas os mantêm enterrados em si mesmos. A segunda geração não parece ter tempo para o passado. São as gerações seguintes que perguntam sobre seus ancestrais.”
Na segunda mesa do dia, a jornalista Eliane Brum e o escritor de ficção científica Kim Stanley Robinson debateram políticas que podem guiar o mundo a um futuro habitável.
Brum defendeu uma “mudança geopolítica que desloque para o centro um outro tipo de pensamento que não seja binário, patriarcal e de matriz europeia”, mas sim do que chama de “povos-natureza”.
Robinson elogiou uma ideia do presidente Joe Biden de deixar parte dos Estados Unidos desabitada. “Me anima a ideia de que os políticos percebam os animais e a floresta também como cidadãos.”