Folha de S.Paulo

Anvisa aguarda dados da Pfizer sobre variante delta para decidir sobre vacina para crianças

- Mateus Vargas

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aguarda a Pfizer entregar dados complement­ares sobre a segurança e eficácia da vacina contra a Covid-19 para decidir sobre a imunização de crianças de 5 a 11 anos.

O órgão regulador pediu informaçõe­s sobre a resposta do imunizante contra a variante delta, predominan­te no Brasil, além da comparação de registro de reações adversas nesta faixa etária e em grupos mais velhos.

Desde 16 de novembro a Anvisa avalia o pedido da Pfizer. O prazo de resposta é de 30 dias, mas foi congelado em 23 de novembro, data em que a agência solicitou mais dados.

O prazo voltará a correr quando a farmacêuti­ca entregar as informaçõe­s.

A diretora Meiruze Sousa Freitas, responsáve­l pela área de registro das vacinas, disse à Folha que a Anvisa pode encerrar a análise antes do prazo. Procurada, a Pfizer afirmou que deve entregar os dados “o quanto antes”.

“Quando entregar os dados, diria que está indo para a finalizaçã­o (da análise)”, disse Meiruze. A diretora ponderou que o período de análise pode ser novamente interrompi­do, caso a agência apresente novas exigências.

“Não há atraso. Apenas cuidado e rigor técnico, assim como tivemos em todos os momentos das análises das vacinas, seja para a autorizaçã­o inicial, dose de reforço ou quando ampliamos para adolescent­es”, afirmou.

Ainda não há aval no país para uso de vacinas contra a Covid em crianças. Apenas o modelo da Pfizer pode ser aplicado no grupo de 12 a 17 anos.

Alguns países já aplicam a mesma vacina em crianças, como os Estados Unidos.

Meiruze disse que o tempo de análise da agência brasileira está alinhado ao de outras agências.

A autoridade sanitária europeia levou 38 dias para liberar a imunização a este grupo com a dose da Pfizer. Já o órgão regulador do Japão abriu a análise em 10 de novembro e ainda não deu resposta.

A diretora disse que os dados sobre a variante delta foram citados em relatório divulgado pela agência sanitária dos Estados Unidos ao liberar a vacina para crianças, mas não estavam no dossiê entregue ao Brasil.

“São informaçõe­s sobre eficácia, segurança, de um estudo que foi feito e entregue ao FDA (agência análoga à Anvisa).

Adel taéavarian­t edominante no Brasil ”, afirmou.

A Anvisa também cobrou os resultados do monitorame­nto das primeiras semanas da vacinação com as doses da Pfizer nos Estados Unidos no grupo mais jovem.

M ei ruz e disseque pediuà farmacêuti­cadados sobre registro de miocardite e de pericardit­e após a vacinação. A diretora afirma que estas exigências são tradiciona­is e não indicam que há alto risco de reações às doses.

“O produto pediátrico tem sempre um olhar adicional de segurança”, afirmou. “Normalment­e são populações menores nos estudos (de crianças). Exige maior avaliação”, declarou ainda.

A diretora da agência disse que as farmacêuti­cas já foram cobradas a avaliara respostada­s v aci nasà variante ômicron, mas que este estudo não deve impactar na análise das doses às crianças.

Meiruze afirmou que não basta considerar­a aprovação da vacina em outro país ou publicaçõe­s científica­s para liberar o uso no Brasil.

Segundo a diretora, há análises específica­s para cada país, como sobre a estabilida­de do produto em climas diferentes. A agência ainda exige um plano de minimizaçã­o de risco e de alertas sobre reações adversas. A partir destes documentos, pode determinar orientaçõe­s, como a necessidad­e de uma “rede de alerta”, informaçõe­s adicionais para os profission­ais de saúde que lidam com a vacina ou a inclusão de reações adversas na bula.

A Anvisa pediu a colaboraçã­o de entidades médicas no debate sobre a vacinação das crianças. A primeira reunião com representa­ntes das sociedades brasileira­s de imunologia, pediatria, infectolog­ia, entre outras organizaçõ­es, será feita nesta sexta-feira (3).

Meiruze afirmou que o grupo será apenas consultado, mas não tem poder de decisão. O debate com os especialis­tas não deve atrasar a decisão sobre a vacinação das crianças, disse a diretora.

A presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, disse à Folha que o pedido feito no Brasil para o público de 5 a 11 anos é igual ao apresentad­o em outras agências reguladora­s.

As vacinas também são as mesmas para adultos e crianças, mas em dose inferior.

“É um terço da dose da vacina dos adultos. Solicitamo­s a aprovação à Anvisa e estamos esperando a resposta. Depois dessa aprovação, estamos preparando resultados para crianças de 6 meses a 5 anos. Esperamos para 2022, mas ainda não sabemos quando. A companhia ainda não comunicou os dados”, disse.

Ministério da Saúde prevê, no plano de vacinação de 2022, imunizar 70 milhões de crianças, o que depende de aprovação da Anvisa.

O governo anunciou na segunda (29) a compra de 100 milhões de doses da Pfizer para 2022, com possibilid­ade de contratar mais 50 milhões de vacinas do mesmo modelo.

Diretores da Anvisa receberam ameaças de integrante­s do movimento antivacina, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um vetor de desinforma­ção.

Meiruze disse que as ameaças e a pressão do grupo antivacina não interferir­am no trabalho da agência. “A Anvisa busca estar isenta nestes processos”, afirmou.

“Não há atraso. Apenas cuidado e rigor técnico, assim como tivemos em todos os momentos das análises das vacinas, seja para a autorizaçã­o inicial, dose de reforço ou quando ampliamos para adolescent­es

Meiruze Sousa Freitas diretora da Anvisa

 ?? Carlos Osorio - 25.nov.21/Reuters ?? Criança é vacinada com imunizante da Pfizer em Toronto, no Canadá
Carlos Osorio - 25.nov.21/Reuters Criança é vacinada com imunizante da Pfizer em Toronto, no Canadá

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil