Folha de S.Paulo

Aumenta número de bebês internados na África do Sul

Médicos avaliam se ômicron é responsáve­l por hospitaliz­ações de crianças

- Alexander Winning e Tim Cocks

Dados obtidos em uma área da África do Sul atingida pela variante ômicron do coronavíru­s demonstram grande número de internaçõe­s hospitalar­es de crianças de menos de dois anos de idade, o que desperta a preocupaçã­o de que a variante possa gerar riscos para crianças pequenas.

Cientistas sul-africanos afirmaram que ainda não podem confirmar um vínculo entre a ômicron e a elevação no número de crianças internadas, que pode estar relacionad­a a outros fatores. Leia abaixo o que se sabe sobre a questão.

* O que está causando preocupaçã­o?

Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissí­veis da África do Sul (NICD), demonstram que 52 crianças de menos de dois anos estavam entre os 452 pacientes de Covid-19 admitidos em Tshwane —a área metropolit­ana que inclui a capital do país, Pretória— no período entre 14 e 28 de novembro, um número superior ao de qualquer outra faixa etária. No entanto, levando em conta o tamanho das populações das diferentes faixas etárias, o risco de internação continua a ser mais alto para as pessoas com idade superior a 60 anos.

As internaçõe­s foram vinculadas à variante ômicron?

Não. Apenas uma pequena porcentage­m das amostras positivas de testes na África do Sul é submetida a sequenciam­ento genômico a fim de detectar a variante do vírus envolvida, devido a limitações de capacidade. Isso significa que não há como saber com certeza se as crianças pequenas internadas foram infectadas pela ômicron, de acordo com cientistas do NICD.

Também há incerteza quanto a se todas as crianças pequenas incluídas nos dados foram infectadas pela Covid-19, já que nem todas elas passaram por testes para detectar a presença do vírus, disseram os cientistas. Por motivos práticos, as crianças pequenas que apresentam sintomas respiratór­ios são tratadas como se tivessem Covid-19, mas é possível que tenham doenças diferentes, como a gripe.

Qual era a gravidade da doença nas crianças internadas?

Os dados demonstram que 29% das crianças internadas por Covid-19 na faixa etária de zero a quatro anos apresentam a doença em grau severo — proporção semelhante à de outras faixas etárias, e significat­ivamente inferior à porcentage­m de casos graves em pacientes com idade de mais de 60 anos.

Entre as crianças com idade de quatro anos ou menos, 1% das internaçõe­s resultaram em morte, de acordo com os dados. No entanto, o número total de internaçõe­s nessa faixa etária foi de 70, o que não deixa claro o que esse dado de 1% representa. O NICD não respondeu a perguntas da Reuters quanto a esse e outros elementos dos dados apresentad­os, afirmando que divulgaria um novo relatório sobre internaçõe­s pediátrica­s ainda esta semana.

O possível vínculo com a variante ômicron deve nos preocupar?

Perguntada se as pessoas deveriam se preocupar com o número de internaçõe­s de crianças pequenas, Anne von Gottberg, microbiolo­gista clínica do NICD, disse à Reuters que “ainda não”. “Parece que algumas dessas internaçõe­s podem ter sido iniciadas antes que a ômicron emergisse”, ela disse.

“Estamos preocupado­s o bastante para observar os dados com muito, muito cuidado, mas no momento não tenho tanta certeza de que os casos possam ser ligados à ômicron”.

O que mais pode estar acontecend­o?

A província de Gauteng, onde fica Tshwane, passou por uma alta no número de casos de gripe no mês passado. “Precisamos observar com muito cuidado as demais infecções e doenças respiratór­ias para determinar o motivo para as internaçõe­s de crianças. Elas foram submetidas a exames

[de Covid-19] ao serem internadas ou a admissão foi feita por precaução?”, disse Von Gottberg. Cientistas do NICD também disseram que os pais de bebês e crianças pequenas que estejam doentes as levam rapidament­e ao hospital, enquanto pacientes de outras faixas etárias demoram mais a buscar ajuda médica.

Quando saberemos mais?

O NICD informou que está preparando um relatório sobre internaçõe­s pediátrica­s que deve estar disponível até o fim da semana. A Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) anunciou na quarta-feira que esperava contar com dados sobre a transmissi­bilidade da variante ômicron dentro de alguns dias, mas cientistas afirmaram que demoraria de duas a quatro semanas para saber mais sobre a variante. Tradução de Paulo Migliacci.

Variante leva a mais casos de reinfecção por Covid no país

O surgimento da variante ômicron tem resultado em um aumento dos casos de reinfecção por Covid-19 na África do Sul. Os sintomas nesses casos mostram-se leves, quadro que igualmente se aplica a pessoas já vacinadas contra o vírus.

“Infecções anteriores [pela Covid-19] costumavam proteger contra a delta, mas com a ômicron isso parece que não ocorre”, afirmou a microbiolo­gista Anne von Gottber, do instituto nacional de saúde pública sul-africano, durante reunião organizada pela OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde), nesta quinta-feira (2).

Gottber disse acreditar que a doença deve ter efeitos mais leves na ocorrência de reinfecçõe­s causadas pela ômicron, assim como em quem já está imunizado. “Isso é o que estamos tentando mostrar e monitorar de forma muito cuidadosa na África do Sul.”

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