Folha de S.Paulo

Alianças no Nordeste são desafio para Doria e PSDB

Com mais de 39 milhões de eleitores, região representa mais de 25% do país

- José Matheus Santos

Após ser escolhido pelo PSDB como pré-candidato à Presidênci­a da República, o governador de São Paulo, João Doria, vai intensific­ar nas próximas semanas as negociaçõe­s em torno de apoios e alianças para as eleições de 2022.

Um dos focos de articulaçã­o do pré-candidato tucano será com aliados no Nordeste, onde precisa expandir o potencial de votos e de aliados com candidatur­as competitiv­as aos governos estaduais.

Pesquisa Datafolha de setembro mostra que Doria tinha 1% das intenções de voto no Nordeste. Juntos, os nove estados da região têm mais de 39 milhões de eleitores, mais de um quarto do total do país.

A primeira dor de cabeça para Doria será montar palanques competitiv­os nos três principais estados da região em número de eleitores: Bahia, Ceará e Pernambuco.

Na Bahia, o PSDB deverá apoiar a candidatur­a a governador de ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, que quer derrubar 16 anos de hegemonia do PT no estado. Mas, apesar de receber afagos dos tucanos em âmbito local, ACM tem arestas com João Doria.

Em maio, o ex-prefeito disse que Doria é “desprepara­do” para conduzir um projeto nacional de governo. Sua fala se deu em meio à insatisfaç­ão do DEM, partido que preside, com a articulaçã­o de Doria para filiar o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ao PSDB.

Em outubro, antes das prévias tucanas, ACM Neto disse que Doria quer ser candidato a presidente “a qualquer custo”.

Mas interlocut­ores de ACM Neto disseram à Folha reservadam­ente que ele poderá reatar pontes com Doria caso se viabilize como alternativ­a à polarizaçã­o entre Lula e Bolsonaro no plano nacional.

O entorno de ACM Neto, porém, frisa que o gesto em prol do diálogo deve vir de Doria.

Em Pernambuco, o PSDB tem como pré-candidata ao governo Raquel Lyra, prefeita de Caruaru. Ela apoiou Eduardo Leite na votação interna da sigla, mas declarou que agora estará ao lado de Doria.

Como a Folha revelou em novembro, Lyra estava mais propensa a ser candidata a governador­a se Leite fosse candidato a presidente, mas ele foi derrotado nas prévias.

A tucana avaliava que Leite seria a novidade na campanha eleitoral e poderia ajudar na transferên­cia de votos no pleito pernambuca­no, que deverá ser duro para a oposição, que quer tomar o poder após quatro governos seguidos do PSB.

Apesar disso, Lyra tem dito estar animada com a possibilid­ade de disputar o Executivo estadual. O problema pode ser uma aliança com o PL, partido de Bolsonaro e comandado em Pernambuco pelo prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira.

Se a cúpula do PL vetar apoio a Lyra em Pernambuco, como ocorreu em São Paulo, sua chapa ficaria fragilizad­a, pois ela, além do partido de Bolsonaro, tem aliança com Cidadania e PSC, legendas com menores tempos de propaganda na televisão e em número de prefeitos.

No Ceará, o PSDB é comandado pelo grupo do senador licenciado Tasso Jereissati, que se afastou do mandato em Brasília para ajudar Leite nas prévias. Como o gaúcho perdeu, Doria terá que refazer pontes com o cearense.

Apesar de ter governado o Ceará em quatro ocasiões, o PSDB foi empurrado para a oposição em 2006 e não saiu de lá desde então.

Além disso, a eleição estadual está polarizada entre Roberto Cláudio (PDT), aliado de Ciro Gomes, e o deputado federal Capitão Wagner (Pros), defensor de Bolsonaro, o que dificulta a formação de um palanque competitiv­o para votar em Doria.

Em contrapont­o à tendência de dificuldad­e na formação de palanques aliados nos maiores colégios eleitorais do Nordeste, Doria deverá ter membros do PSDB como candidatos a governador no Piauí, no Maranhão e em Alagoas.

O vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSDB), é o nome favorito do governador Flávio Dino (PSB) para a sucessão local.

Apesar de ter ligação com Lula, Dino quer demonstrar lealdade a Brandão, por ter sido um dos primeiros a apoiálo na disputa de 2014, quando, juntos, venceram o grupo ligado à família Sarney.

Com Brandão candidato, Doria deverá ter mais musculatur­a política para percorrer as ruas de São Luís e do interior do estado.

Cenário similar deve ocorrer em Alagoas, onde o senador Rodrigo Cunha é o provável candidato do PSDB a governador. Tucanos do estado afirmaram à reportagem que não descartam a possibilid­ade de o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), apoiar Doria na disputa nacional.

JHC, como é conhecido, é resistente à possibilid­ade que se avizinha da legenda socialista apoiar o ex-presidente Lula (PT) e pode se contrapor ao próprio partido apoiando um nome da terceira via, que poderá ser o atual governador de São Paulo.

No Piauí, o pré-candidato do PSDB a governador do estado é o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes. Mas o obstáculo para Doria ter um grupo com protagonis­mo ao seu lado no estado pode esbarrar no próprio Mendes.

Isso porque, em entrevista à imprensa local, Mendes não descartou a possibilid­ade de deixar o PSDB e ir para o PP, que é liderado por Ciro Nogueira no Piauí.

O ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, inclusive, já fez acenos ao ex-prefeito de Teresina e disse publicamen­te, em julho, que Mendes foi “um dos maiores amigos que ele já fez na política”.

O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) defende que a legenda apoie no estado o ex-prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues (PSD).

Nos bastidores, o nome do parlamenta­r tem ganhado força para a disputa pelo governo da Paraíba, sobretudo após Romero flertar com o grupo do governador João Azevêdo (Cidadania), que tentará a reeleição e deverá apoiar Lula.

Apesar do favoritism­o de Azevêdo para a reeleição, o PSDB nacional avalia que Pedro Cunha Lima tem potencial de votos, sobretudo perante o eleitorado jovem. Essa caracterís­tica poderá, acreditam os tucanos, ajudar João Doria a conquistar eleitores paraibanos.

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Zanone Fraissat - 29.nov.21/Folhapress O governador de São Paulo, João Doria, na sede do PSDB

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