Folha de S.Paulo

Mendonça será decisivo em casos de minorias e prisão em 2ª instância

- Matheus Teixeira

brasília O ex-advogado-geral da União André Mendonça tomará posse no STF (Supremo Tribunal Federal) em 16 de dezembro e assumirá a relatoria de processos importante­s em tramitação na corte.

Ele herdará o acervo de Marco Aurélio Mello, que se aposentou em julho, e responderá por ações que tratam da prisão após condenação em segunda instância e o caso que discute se o presidente Jair Bolsonaro (PL) pode bloquear seguidores em redes sociais.

A discussão sobre a criação da taxação de grandes fortunas também será relatada por ele. Ao todo, chegará com 991 processos em sua mesa.

Outro caso sensível sob sua responsabi­lidade será um inquérito contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados de Bolsonaro, que o indicou.

A Primeira Turma da corte já aceitou a denúncia contra Lira nesse caso, em que responde por corrupção passiva. Ele é acusado de ter aceitado, por meio de seu assessor, propina oferecida pelo então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Francisco Colombo.

Além disso, há outros casos em que seu voto será decisivo.

O debate sobre a possibilid­ade de travestis e transexuai­s com identidade de gênero feminino poderem optar em qual presídio cumprirão pena, por exemplo, está 5 a 5, e Mendonça definirá se o grupo tem ou não esse direito.

Outro caso que deve voltar à pauta da corte e no qual Mendonça terá papel fundamenta­l é o julgamento do marco temporal para demarcação de terras indígenas. A análise do caso foi interrompi­da por pedido de vista (mais tempo para analisar o processo) do ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaro já deu declaraçõe­s a favor da fixação do marco temporal, bandeira da bancada ruralista do Congresso.

Mendonça também participar­á do julgamento de ações questionan­do decretos de Bolsonaro que flexibiliz­am o porte e a posse de armas no país.

Parte dessas normas já foi suspensa por decisões dos ministros Rosa Weber e Edson Fachin e caberá ao plenário decidir se mantém ou não as ordens individuai­s dos dois. Ainda não há data marcada para análise dos casos.

Por causa da demora na aprovação de Mendonça, o Supremo teve de redistribu­ir processos urgentes que estavam com Marco Aurélio.

A regra do tribunal determina que as ações de emergência, nessas situações, vão para o ministro mais antigo do tribunal —no caso, Gilmar Mendes. A discussão sobre a obrigatori­edade de o IBGE realizar o Censo, por exemplo, foi para o atual decano da corte.

No final, o STF mandou o Executivo fazer o levantamen­to no próximo ano, e o caso já está praticamen­te encerrado na corte, sem tempo para uma atuação de Mendonça.

O ministro também cumprirá um papel importante no tribunal porque será um dos integrante­s da Segunda Turma.

Além do plenário composto pelos 11 ministros, há dois colegiados com 5 integrante­s que costumam julgar temas criminais. A Segunda Turma, por exemplo, é responsáve­l por processos ligados à Lava Jato.

São nesses julgamento­s que a posição do futuro ministro será testada. Grande parte da resistênci­a ao seu nome no Senado ocorria pelo histórico de Mendonça de defender pautas ligadas à operação.

A senadores, porém, ele prometeu que adotará uma linha garantista, que costuma dar prevalênci­a aos direitos dos réus em investigaç­ões.

Sua posição em temas criminais é aguardada com apreensão porque o Supremo costuma ter placares apertados em julgamento­s dessa natureza. Na análise das ações mais delicadas ligadas à Lava Jato, por exemplo, a maioria acabouem6a­5.

Como Marco Aurélio tinha um perfil mais garantista, um voto de Mendonça no sentido oposto ao do antecessor pode reverter uma série de jurisprudê­ncias da corte. Esse é o caso, por exemplo, da prisão após condenação em segunda instância.

Ele será o relator das ações, que estavam com Marco Aurélio, e ainda poderá dar um voto decisivo para voltar a permitir a execução antecipada de pena. A princípio, porém, não há previsão de o Supremo voltar a debater esse tema.

O cenário é similar em relação ao entendimen­to fixado pela corte que retira da Justiça Federal e leva à Justiça Eleitoral a competênci­a para analisar crimes que tenham relação com campanhas políticas.

Além da prisão em segunda instância, Mendonça também será relator do processo em que partidos de oposição pedem para o Supremo obrigar o governo federal a elaborar um plano de prevenção e combate de incêndios no Pantanal e na Amazônia.

Em setembro, 32 ONGs protocolar­am uma solicitaçã­o para que a corte trate essa ação com urgência.

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