Folha de S.Paulo

Senadores americanos culpam presidente do Brasil por desmatamen­to em carta a Biden

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washington Um grupo de oito senadores americanos enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na qual acusam o governo de Jair Bolsonaro (PL) de ser responsáve­l pela destruição ocorrida na Amazônia, com “uma epidemia de desmatamen­to e incêndios”, e de colocar a democracia em risco.

Os congressis­tas pedem que a oportunida­de de indicar um novo embaixador americano para o Brasil seja usada para promover mudanças. “A nomeação deveria refletir uma clara reconfigur­ação [“clear reset”, no original] da relação entre os dois países”, dizem.

A representa­ção dos EUA em Brasília está sem embaixador desde julho, quando Todd Chapman se aposentou do cargo. Atualmente, a embaixada é chefiada por Douglas Koneff. Não há data prevista para a indicação de um novo nome para o posto, que precisa ser aprovado pelo Senado americano.

A carta, à qual a Folha teve acesso, foi enviada na quartafeir­a (1º) e é assinada por oito senadores democratas, incluindo Patrick Leahy, 81, que atua como presidente temporário do Senado, responsáve­l por comandar as sessões na ausência da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris.

Além dele, assinam o documento Benjamin Cardin e Chris van Hollen, ambos do estado de Maryland, Edward Markey, de Massachuse­tts, Jeanne Shaheen, de New Hampshire, Jeffrey Merkley e Sherrod Brown, ambos de Ohio, e Thomas Carper, de Delaware.

“Escrevemos para expressar nossa profunda preocupaçã­o com a trajetória de queda da democracia, dos direitos humanos e da proteção ambiental no Brasil”, começa a mensagem dos democratas.

“Como uma distração para os problemas reais encarados pelo povo brasileiro, como a alta do desemprego, a inflação e mais de 600 mil mortes por Covid, Bolsonaro lançou uma campanha de desinforma­ção que busca atacar ativamente membros específico­s do Supremo Tribunal Federal.”

Nos últimos meses, Bolsonaro diminuiu os questionam­entos ao sistema eleitoral brasileiro, um desdobrame­nto das críticas que recebeu após os atos do 7 de Setembro, já que a postura naquele momento gerou temores de um golpe. Os senadores reconhecem a mudança, mas avaliam que “o súbito reconhecim­ento da credibilid­ade do sistema de votação não pode ser tomado pelo valor de face”.

Sobre as questões ambientais, o documento aponta que o líder brasileiro “tem promovido, de forma entusiasma­da, políticas extremamen­te prejudicia­is ao ambiente”.

“Território­s indígenas estão sob ataque de garimpeiro­s, de madeireiro­s e de projetos oficiais de infraestru­tura, como estradas, barragens e ferrovias. Um pacote de novas leis defendidas por legislador­es alinhados a Bolsonaro reduzirá a proteção a terras indígenas e a áreas de conservaçã­o”, afirmam eles.

“A epidemia de desmatamen­to e de incêndios, não só na Amazônia, mas no Pantanal e no Cerrado, é resultado direto das palavras e das ações de Bolsonaro”, dizem.

Nos últimos meses, cartas com críticas ao governo Bolsonaro foram enviadas por democratas à administra­ção Biden. Em setembro, por exemplo, Bob Menendez e outros três deputados enviaram mensagem ao secretário de Estado, Antony Blinken, alertando sobre a deterioraç­ão da democracia no Brasil e pedindo que Biden deixasse claro que “qualquer ruptura democrátic­a terá sérias consequênc­ias” para o país.

Em outubro, mais de 60 parlamenta­res enviaram outra carta à Casa Branca pedindo um recuo nas relações entre os dois países até que um novo líder brasileiro fosse eleito. Eles defendem que os EUA deixem de apoiar o Brasil em temas como a entrada do país na OCDE (Organizaçã­o de Cooperação para o Desenvolvi­mento Econômico).

“Não podemos estabelece­r um precedente pelo qual um país cujo presidente é acusado de crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacio­nal seja capaz de se juntar a organizaçõ­es internacio­nais cada vez mais importante­s”, afirmou o deputado democrata Hank Johnson, um dos autores da carta entregue em outubro.

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