Produção industrial acumula 5 meses de queda e está 4,1% abaixo do pré-pandemia
RIO DE JANEIRO Afetada pela escassez de insumos e pelo aumento de custos, a produção industrial brasileira voltou a patinar e caiu 0,6% em outubro, na comparação com setembro, informou nesta sexta (3) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Foi a quinta retração consecutiva do setor, o que não ocorria desde 2015. O resultado ficou abaixo das previsões do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,8%.
“Mais do que o resultado do mês em si, chama a atenção a própria sequência de resultados negativos, cinco meses de quedas consecutivas na produção, período em que acumula retração de 3,7%”, disse André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
“A cada mês que a produção industrial vai recuando, se afasta mais do período prépandemia. Nesse momento, está 4,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.”
O IBGE também informou que, na comparação com outubro de 2020, a produção industrial recuou 7,8%. Nesse recorte, a projeção de analistas era uma queda menor, de 5%.
Ao longo deste ano, até outubro, o indicador ainda acumula alta, de 5,7%. Em período de 12 meses, o crescimento também é de 5,7%.
Esses dois resultados já foram mais robustos ao longo de 2021, o que ilustra a perda de fôlego da produção. Em maio, o acumulado do ano estava em 13,2%. Já o de 12 meses chegou a alcançar 7,2% em agosto.
Segundo Macedo, parte da indústria continua sofrendo com a escassez de insumos e a alta dos custos de produção. Os dois fatores ganharam corpo ao longo da pandemia, em um reflexo do desarranjo das cadeias produtivas globais.
A produção de bens industriais também é impactada pela escalada da inflação para os consumidores e pelo mercado de trabalho em dificuldades. Os dois obstáculos, indicou Macedo, retiram poder de compra da população brasileira.
“Ainda se verifica desabastecimento de matérias-primas e encarecimento da produção”, disse.
“Pelo lado da demanda doméstica, temos inflação em patamar mais elevado, diminuindo a renda das famílias, juros mais altos, encarecimento do crédito e o mercado de trabalho está longe de mostrar uma recuperação mais consistente”, completou.
O recuo de 0,6% da produção industrial em outubro reflete uma queda disseminada em 19 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE. Segundo o instituto, as principais influências negativas foram das indústrias extrativas (-8,6%) e dos produtos alimentícios (-4,2%)
No ramo extrativo, houve o impacto da queda na produção de minério de ferro e petróleo. Os dois vinham de resultados positivos, conforme Macedo.
No caso dos alimentos, a retração é associada, em parte, ao clima adverso. Ao longo deste ano, o Brasil amargou seca e teve registros de geada. Os extremos climáticos prejudicaram plantações diversas, incluindo cana-de-açúcar, café e milho.
A indústria de alimentos também sentiu o efeito da suspensão das exportações das carnes para a China, lembrou o analista do IBGE. A paralisação ocorreu após o registro de dois casos atípicos de vaca louca em setembro.
Na comparação mensal, a produção da indústria, em termos gerais, cresceu apenas duas vezes entre janeiro e outubro de 2021. Os avanços ocorreram em janeiro (0,2%) e maio (1,2%).