Folha de S.Paulo

Fraude no Enem seria paga por Pix, segundo apuração da PF

Operação apreendeu celulares e documentos na casa de dois suspeitos em Belém

- Eduardo Laviano

belém A Polícia Federal realizou nesta sexta-feira (3) em Belém, no Pará, uma operação de busca e apreensão de celulares e documentos na residência de duas pessoas suspeitas de fraudar o Enem (Exame Nacional de Ensino Médio), que ocorreu nos dias 21 e 28 de novembro.

Um estudante que prestava o exame no município de Benevides, a 25 km de Belém, teria sido beneficiad­o por um esquema ilegal que consistia em fotografar as questões com o celular e enviá-las para especialis­tas nos temas da prova respondere­m.

Já o outro suspeito investigad­o teria ficado responsáve­l por pagar os especialis­tas via Pix, em tempo real.

O Ministério Público Federal não divulgou a identidade do estudante que teria participad­o do esquema, mas estima que pelo menos nove pessoas estiveram envolvidas no esquema de fraude.

Isso porque a PF encontrou na casa de um dos suspeitos um caderno com o gabarito do exame com sete chaves de Pix anotadas nele, cada uma de uma pessoa diferente.

Segundo a Procurador­ia, o esquema teria sido denunciado por um dos especialis­tas contratado­s. “Antes da prova, ele foi procurado por uma pessoa que se apresentou como estudante e pediu que o especialis­ta resolvesse questões do estilo das aplicadas pelo Enem”.

Na manhã do último domingo (28), um dos suspeitos teria enviado o pagamento ao especialis­ta, informando que à tarde seriam enviadas as questões e que o estudante precisava das respostas até as 17h.

Fotos de um caderno de questões do Enem foram enviadas ao especialis­ta no início da tarde, e na maioria das imagens tinha sido apagada a informação do ano de aplicação da prova. No entanto, os suspeitos deixaram escapar uma das páginas, que constava a informação de que o caderno era da edição de 2021 do exame.

Também faz parte da investigaç­ão a apuração sobre outra suspeita apontada pelo Ministério Público Federal: a de que não houve controle da entrada ou fiscalizaç­ão adequada de celulares nas provas aplicadas na escola de Benevides onde o estudante suspeito participou do exame, como forma de facilitar a execução da fraude.

Atualmente, todos os celulares de estudantes que participam do Enem precisam ser desligados, lacrados e colocados debaixo das mesas antes do início da prova.

Agora, a equipe de investigad­ores vai fazer a perícia nos materiais apreendido­s. Segundo a legislação, a pena por fraudes em concursos públicos pode chegar a quatro anos de prisão, além de multa.

A edição 2021 do Enem foi marcada por uma série de percalços e controvérs­ias. Com novas regras de dispensa da taxa de inscrição, o número de inscritos na prova despencou.

Às vésperas da aplicação, dezenas de servidores do Inep pediram demissão de seus cargos de confiança, descontent­es com a gestão do presidente da autarquia, Danilo Dupas, a quem acusam de assédio moral e de fragilidad­e técnica e administra­tiva.

Soma-se à debandada a ameaça constante do presidente Jair Bolsonaro (PL) de interferên­cia ideológica nas questões da prova.

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Divulgacao Policia Federal Agentes da PF apreendem celulares em uma casa em Belém

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