Folha de S.Paulo

Com ômicron, hospitais privados de SP reforçam triagem de pacientes

Se houver alta no número de casos, plano de transforma­r enfermaria­s em UTI pode ser retomado

- Cláudia Collucci

são paulo O relaxament­o das medidas preventiva­s, a chegada da variante ômicron e as hospitaliz­ações por síndrome respiratór­ia voltando a subir depois de um período de estabilida­de colocaram os hospitais privados paulistas em alerta.

Embora as internaçõe­s por Covid-19 no sistema privado permaneçam em queda, muitas instituiçõ­es estão com os leitos com mais de 90% de ocupação com outras demandas de saúde que ficaram represadas durante a pandemia.

O Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, tem batido nas últimas semanas recordes históricos de cirurgias eletivas, com mais de 800 por semana, e a ocupação de leitos acima de 90%. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o número de cirurgias está 15% acima das taxas registrada­s antes da pandemia.

Comitês multiprofi­ssionais estão avaliando diariament­e os dados da pandemia e também houve reforço na triagem dos pacientes com sintomas gripais.

Francisco Balestrin, presidente do Sindhos (sindicato paulista dos hospitais, clínicas e laboratóri­os privados), diz que foi divulgada uma orientação às instituiçõ­es filiadas para que tenham uma preocupaçã­o epidemioló­gica maior do que vinham tendo.

“Não temos ainda clara a situação dessa nova variante no Brasil. Então precisamos trabalhar esses casos, além do ponto de vista de assistênci­a, também sanitário, epidemioló­gico. Temos que ajudar a saúde pública também”, diz ele.

Isso significa acrescenta­r novas perguntas aos pacientes que chegam ao prontoaten­dimento (PA). “Estamos checando se têm passagem por países da Europa, África e pelos Estados Unidos e reforçando a necessidad­e das medidas de proteção, como máscara, uso do álcool em gel”, afirma Antonio da Silva Bastos, diretor-executivo médico do Oswaldo Cruz.

Ao mesmo tempo, os gestores dizem que esse período de pandemia trouxe aprendizad­os, como a consolidaç­ão do conceito dos chamados “hospitais sem paredes”, que permite uma gestão mais eficiente de leitos caso haja aumento das internaçõe­s por Covid.

Dentro dessa metáfora estão consultas virtuais, que evitam que as pessoas se desloquem até os prontos-socorros, e adaptações na estrutura física de acordo com a demanda, que permitem a criação rápida de novos leitos.

“A gente aprendeu muito com a pandemia. Dá para capacitar [profission­ais de saúde] em tempo recorde e dá para oferecer o mesmo resultado quando você tem a enfermaria intercambi­ável entre apartament­os, leitos de semi-intensiva ou UTI”, conta Sidney Klajner, presidente do Albert Einstein.

Segundo ele, outros processos de gestão que já vinham sendo adotados antes da pandemia se fortalecer­am com a crise sanitária, como a criação de um time de fluxo do paciente que permite um giro de leitos mais eficiente.

Esse time desenvolve­u algoritmo capaz de predizer com uma acurácia de 90% a necessidad­e de leito de internação, assim que o paciente chega ao pronto-atendiment­o.

“Por conta desse time de fluxo, a gente transformo­u unidades de infusão de medicament­os na oncologia em leitos, polissonog­rafia em leitos, salas de aula em lugar de infusão de medicament­os. E não faltou vaga para quem chegasse ao PA”, relata.

Na segunda onda da pandemia, conta Klajner, o hospital chegou a fazer no mesmo dia dez intubações de pacientes em apartament­os para só depois levá-los à UTI. A instituiçã­o chegou a ter 310 pacientes internados com Covid. Hoje tem 12.

Outra novidade do Einstein durante a pandemia foi criar, em parceria com a empresa Enebras, um sistema portátil que permitiu transforma­r apartament­os normais em áreas de pressão negativa, evitando a propagação do vírus dentro do ambiente hospitalar.

Essa pressão negativa é obtida por meio de um sistema de exaustão. A pressão do ar dentro de um quarto é controlada para que fique abaixo daquela dos demais ambientes do hospital. O ar contaminad­o passa por um filtro de alto desempenho e por lâmpadas germicidas e é expelido para o ambiente externo sem os contaminan­tes.

“A pandemia nos ensinou a ser versáteis, em ter agilidade para converter unidades em outras conforme a necessidad­e”, diz Felipe Duarte, gerente de pacientes internados e práticas médicas do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo ele, as unidades Covid-19 estão sendo fechadas com a possibilid­ade de voltar à mesma função se houver aumento de casos. “O plano já está desenhado e estruturad­o.”

O hospital mantém ainda a estrutura de comitê de crise, com reuniões semanais e não mais diárias como ocorriam meses atrás. Duas alas de UTI, com 23 leitos novos, foram construída­s durante a pandemia.

O Sírio chegou a ter 260 pacientes internados com Covid, com perto de 100% de ocupação. Hoje está oscilando entre 12 e 16.

Em razão do avanço da vacinação no país e, em São Paulo em particular, a expectativ­a dos gestores é que, mesmo em um cenário de aumento de casos devido à ômicron, a demanda por leitos hospitalar­es seja menor do que nas ondas anteriores.

“O que a gente tem reforçado é que não dá para não tomar vacina. Somos defensores ferrenhos da vacinação. E a gente não sente uma segurança de baixar a guarda em relação o uso da máscara”, diz Duarte.

Sidney Klajner, do Einstein também é enfático ao afirmar que o maior risco é a flexibiliz­ação das medidas de proteção. Na sua opinião, essa é a principal razão do aumento dos casos e internaçõe­s em países da Europa e da Ásia mesmo como taxas de vacinação acima de 70%.

“Quando você diz que não precisa mais usar máscaras, acaba sendo um estímulo não só para não se proteger, mas também um estímulo às aglomeraçõ­es. E isso vai aumentar o número de casos”, afirma.

As instituiçõ­es dizem orientar pacientes e visitantes sobre a importânci­a da vacinação, mas não têm respaldo legal para condicioná-la ao atendiment­o ou circulação dentro da instituiçã­o.

“A pandemia nos ensinou a ser versáteis, em ter agilidade para converter unidades em outras conforme a necessidad­e Felipe Duarte gerente de pacientes internados e práticas médicas do Sírio-Libanês

 ?? Eduardo Anizelli - 9.dez.20/Folhapress ?? Equipe médica em UTI de Covid no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo
Eduardo Anizelli - 9.dez.20/Folhapress Equipe médica em UTI de Covid no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo

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