Escritora pede desculpas para condenado injustamente de estuprá-la 40 anos atrás
the new york times Alice Sebold, autora do livro de memórias best-seller “Sorte”, pediu desculpas publicamente na terça-feira para o homem que foi injustamente condenado de estuprá-la em 1982 após ela o ter identificado em tribunal como seu agressor.
As desculpas vieram oito dias após a condenação do homem, Anthony J. Broadwater, ter sido anulada por um juiz em Nova York, que concluiu que o caso teve erros profundos em sua condução. Broadwater, 61, passou 16 anos na prisão, antes de ser solto em 1998 e foi forçado a se registrar como um criminoso sexual.
Em um texto publicado no site Medium, Sebold, que descreveu o estupro e o julgamento do caso em “Sorte”, disse que se arrepende de “involuntariamente” ter cumprido um papel em “um sistema que mandou um homem inocente para a cadeia”.
“Lamento, sobretudo, pelo fato de que a vida que você poderia ter tido foi injustamente roubada de você”, escreveu. “E eu sei que nenhuma desculpa pode mudar o que aconteceu com você, nem nunca vai mudar. Levei esses últimos oito dias para compreender como isso pode ter acontecido.”
Scribner, a editora de Sebold nos Estados Unidos, disse na terça-feira que interromperia a distribuição de “Sorte” enquanto a editora e a autora “analisam como o trabalho deve ser ajustado”.
Broadwater, em entrevista ao jornal The New York Times disse que estava “aliviado e grato” pelas desculpas de Sebold. “É difícil para ela fazer aquela declaração, considerando que ela é uma vítima como eu”, disse ele.
Sebold tinha 18 anos quando o estupro que levou à condenação de Broadwater ocorreu.
Alice Sebold, 58
A escritora americana é responsável por bestsellers como o livro de memórias ‘Sorte’ e a ficção ‘Uma Vida Interrompida’, que deu origem ao longa ‘Um Olhar do Paraíso’, de 2010, dirigido por Peter Jackson. Em ‘Sorte’, ela narra suas memórias e, em particular, relata um estupro que sofreu quando tinha 18 anos, na época em que era estudante universitária, e o trama causado por esse acontecimento.
Ela narra também o julgamento que levou à prisão de Anthony Broadwater, que ela apontou ter reconhecido na rua meses após o estupro. Ele ficou preso por 16 anos, e só neste ano, a partir de uma investigação particular, provou-se sua inocência Em “Sorte”, publicado em 1999, ela traz um relato do ataque e do trauma que ela enfrentou. Ela também detalha o julgamento e como se convenceu de reconhecer Broadwater, a quem ela se refere com um pseudônimo, como seu agressor após encontrá-lo na rua, meses após o estupro.
O livro de memórias narra percalços no caso, incluindo o fato de que um desenho do agressor não batia com a aparência de Broadwater. O livro também descreve o medo de Sebold de que a acusação pudesse desandar após ela ter identificado um homem diferente em um reconhecimento de suspeitos da polícia.
“Sorte” foi o início da carreira da autora, e pavimentou o seu caminho para o famoso romance “Uma Vida Interrompida”, que virou um longa.
Broadwater tentou repetidas vezes provar a sua inocência, mas sem sucesso —até que uma adaptação de “Sorte” para os cinemas ajudou a trazer uma dúvida para o caso.
Timothy Mucciante, produtor executivo desse filme, apontou que começou a duvidar do caso quando leu o livro e o roteiro da adaptação neste ano. Ele se surpreendeu pelas poucas evidências que foram apresentadas no caso —e essas dúvidas o levaram a ser demitido da produção.
Mucciante contratou um detetive particular que, assim que conversou com Broadwater, ficou convencido de que ele era inocente. O detetive recomendou, então, um advogado para ele que, analisando o caso, viu um argumento forte para reverter a acusação. Os argumentos principais foram o próprio reconhecimento de Sebold e um hoje descreditado método de análise microscópica usado então.
Agora, Mucciante trabalha em “Unlucky” —ou “azarado”, em tradução livre— um documentário sobre o caso.