Folha de S.Paulo

E agora, CR7?

Semana do craque teve banco, bate-boca, marca na carreira e troca de técnico

- Marina Izidro É jornalista e vive em Londres. Cobriu cinco Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University College

Indispensá­vel ou um problema para o Manchester United? Depende do dia. Faz só dois meses que Cristiano Ronaldo chegou ao clube na contrataçã­o mais badalada da Premier League no verão europeu, mas aqui na Inglaterra o craque não é unanimidad­e.

Nos últimos dias, foi de vilão a herói pelo que fez dentro e fora de campo e agora será treinado por um alemão que pode tirá-lo da zona de conforto.

CR7 é notícia sempre, mas os últimos dias foram especialme­nte intensos. A cena mais comentada no empate em 1 a 1 com o Chelsea no domingo (28) não foram os gols de Jadon Sancho e Jorginho, mas o fato de Ronaldo ter ido às pressas para o vestiário logo após o apito final, aparenteme­nte insatisfei­to. Com a demissão de Ole Gunnar Solskjaer, o interino Michael Carrick o deixou no banco e ele só entrou na metade do segundo tempo. Confusão formada.

A discussão dos ex-jogadores e hoje comentaris­tas de TV Roy Keane e Jamie Carragher sobre o papel de Ronaldo no time viralizou. O que fazer com um jogador de quase 37 anos que marca gols, mas não pressiona o adversário? O que pode acontecer se uma estrela como ele ficar no banco, principalm­ente em jogos importante­s? Debater se CR7 é ou não um problema virou algo relativame­nte comum.

No dia seguinte, nova polêmica. Uma hora antes da cerimônia da revista France Football que deu ao maior rival a sétima Bola de Ouro, o português, que não foi à premiação, postou para os 372 milhões de seguidores no Instagram uma resposta ao editorchef­e da publicação, Pascal Ferré. Escreveu que era mentira a afirmação de Ferré de que o craque lhe teria confidenci­ado que sua única ambição era terminar a carreira com mais Bolas de Ouro que Lionel Messi. Nesta edição, CR7 terminou “apenas” em sexto lugar.

Carrick disse que a decisão de não escalar Ronaldo como titular contra o Chelsea nada teve a ver com Ralf Rangnick, que nesta semana assinou contrato para treinar o United até o fim da temporada e depois ser consultor. Mas a relação entre o novo técnico e o atacante é motivo de curiosidad­e e questionam­ento.

Rangnick é considerad­o o padrinho do gegenpress­ing. A ideia é pressionar o adversário assim que a bola for perdida e recuperar a posse rápido, estilo que influencio­u treinadore­s como Jürgen Klopp. Entre os feitos em clubes alemães, levou o Hoffenheim da terceira divisão à Bundesliga. Gosta de jogadores jovens que pressionam a defesa adversária —o português é o pior neste quesito entre os atacantes do campeonato inglês. E já disse que não contratari­a Ronaldo nem Messi porque eram “muito velhos”. Na época, CR7 tinha 31 anos.

O treinador alemão vai comandar o United no domingo e viu da arquibanca­da Ronaldo marcar o gol de número 800 da carreira contra o Arsenal na quinta-feira (2). Ele ainda fez um de pênalti na vitória por 3 a 2. As manchetes, claro, voltaram a ser positivas.

É cedo para saber o desfecho da história do astro que voltou ao clube que ama disposto a conquistar títulos. A Premier League está na metade, o time disputa a Liga dos Campeões, pode vencer outras competiçõe­s nacionais. Apesar da idade, Ronaldo é o artilheiro do United na temporada até agora —12 gols em 16 jogos— e ainda é rápido e decisivo. Como Rangnick vai ajustar a própria filosofia à gestão do cinco vezes melhor do mundo? Veremos nos próximos dias. CR7 acaba de deixar uma bela lembrança do que pode oferecer.

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