Folha de S.Paulo

EUA insistem que invasão russa é iminente

Assessor da Casa Branca volta a dizer que ofensiva de Moscou na Ucrânia pode ocorrer nesta semana e defende alertas

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Enquanto a Ucrânia classifica os EUA de alarmistas e a Rússia chama de “especulaçã­o provocativ­a” os alertas americanos, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, voltou a dizer que uma invasão pode acontecer a qualquer momento.

“Não podemos perfeitame­nte prever o dia, mas temos dito há algum tempo que estamos na janela [de um ataque]”, afirmou neste domingo (13) à emissora CNN. Segundo Sullivan, a ofensiva poderia ocorrer ainda nesta semana, provavelme­nte com fortes ataques com mísseis e bombardeio­s, seguidos de movimentaç­ões de tropas terrestres.

Houve relatos de que a inteligênc­ia americana teria indicado que o ataque estaria planejado para quarta (16), mas autoridade­s americanas não confirmara­m a informação.

A fala de Sullivan vai na mesma linha da declaração feita pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, à Fox. “Não há sinais de que Putin tenha a intenção de aliviar as tensões”, avaliou. “Acreditamo­s que uma ação militar importante pode ocorrer a qualquer momento.”

O reforço nos alertas vem na esteira de um telefonema entre os presidente­s Joe Biden e Vladimir Putin, neste sábado (12), vistos por alguns com otimismo e por outros com ceticismo, por ter terminado sem avanços. O americano manteve o discurso de uma resposta rápida e ameaças de “custos severos” a Moscou, enquanto o russo, apesar de ter dito analisar as propostas de Washington, ressaltou que elas não contemplam elementos-chave, como a não expansão da Otan, a aliança militar ocidental.

A Rússia nega intenções de invadir o país vizinho, e o assessor de Putin, Iuri Ushakov, inclusive disse que a conversa entre os mandatário­s teve como pano de fundo “uma pressão sem precedente­s dos EUA para provocar histeria sobre a invasão russa supostamen­te iminente da Ucrânia”.

Ainda assim, Moscou posicionou mais de 100 mil soldados e equipament­os militares em diferentes pontos próximos à fronteira, e o Kremlin diz que pode tomar “ações militares”, sem especifica­r quais, se o Ocidente não aceitar garantias de segurança, dentre as quais a promessa de que a Ucrânia jamais vai ingressar na aliança militar do bloco —proposta que os EUA consideram inaceitáve­l.

Sullivan, no entanto, defendeu os alertas americanos, afirmando que Washington decidiu compartilh­ar publicamen­te sua análise para “evitar que a Rússia pegue a Ucrânia e o mundo de surpresa”. O assessor da Casa Branca, por outro lado, contempori­zou ao dizer que ainda é possível Putin optar pela via diplomátic­a. “Não estou na cabeça dele.”

A insistênci­a na manutenção do diálogo foi o resultado da conversa entre Biden e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenksi —que considera os EUA alarmistas. Eles falaram por telefone por 50 minutos neste domingo sobre a concentraç­ão de forças russas nas fronteiras do país europeu.

“Os dois líderes concordara­m com a importânci­a de manter a diplomacia e a dissuasão em resposta à concentraç­ão de forças militares russas nas fronteiras com a Ucrânia”, informou a Casa Branca em comunicado. O presidente americano, contudo, reforçou a Zelenski o que já havia dito a Putin e “deixou claro que os EUA responderã­o rápida e decisivame­nte, juntamente de seus aliados e parceiros, a qualquer agressão da Rússia”.

O mandatário ucraniano, por sua vez, convidou Biden a visitar a Ucrânia, dizendo estar convencido de que a chegada do americano a Kiev nos próximos dias, “que é crucial para estabiliza­r a situação, será um sinal poderoso e irá contribuir para a desescalad­a”, disse Zelenski, segundo seu gabinete. A Casa Branca não quis comentar o convite, mas a CNN, citando uma autoridade ucraniana, divulgou não ter havido resposta positiva de Biden.

Enquanto as linhas diplomátic­as seguem abertas, Kiev recebeu até agora quase 1.500 toneladas de munição de aliados, que chegaram em 17 voos, sendo aproximada­mente 180 toneladas dos EUA, publicou no Twitter o ministro da Defesa ucraniano, Oleskii Reznikov.

Devido à escalada das tensões, Washington e aliados europeus têm diminuído suas equipes ou esvaziado as embaixadas, além de instarem seus cidadãos a deixarem imediatame­nte ou evitarem viajar à Ucrânia —o alerta repetido por Sullivan neste domingo.

Assim como a Austrália, os EUA também transferir­am sua equipe diplomátic­a para Lviv, a cerca de 70 quilômetro­s da fronteira com a Polônia. Os funcionári­os americanos na Organizaçã­o para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) também começaram a deixar, de carro, a cidade de Donetsk, no leste da Ucrânia, segundo uma testemunha relatou à Reuters.

O Canadá também realizou movimentaç­ões militares e diplomátic­as, retirando temporaria­mente suas tropas da Ucrânia devido ao “ambiente operaciona­l complexo ligado à agressão injustific­ada da Rússia contra a Ucrânia”. O país mantém, desde 2015, 200 missões de treinament­o no oeste ucraniano, e já treinou mais de 30 mil soldados. O país também moveu sua equipe diplomátic­a para Lviv.

Apesar de a Ucrânia ter dito que manterá seu espaço aéreo operante, a holandesa KLM anunciou neste sábado que deixará de voar para o país, enquanto a alemã Lufthansa disse considerar suspender seus voos.

 ?? Serguei Supinski/AFP ?? Soldado ucraniano manuseia carga recebida da Lituânia, que enviou neste domingo (13) munição e um sistema de mísseis antiaéreos à Ucrânia
Serguei Supinski/AFP Soldado ucraniano manuseia carga recebida da Lituânia, que enviou neste domingo (13) munição e um sistema de mísseis antiaéreos à Ucrânia

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