Folha de S.Paulo

Alemanha reelege presidente, que sobe tom e responsabi­liza Moscou por risco de guerra

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berlim | afp A Rússia é a responsáve­l pelo risco de uma guerra na Ucrânia, declarou o presidente alemão, FrankWalte­r Steinmeier, neste domingo (13), em um momento de crescente temor, por parte de europeus e americanos, de invasão russa ao país vizinho.

“Há um perigo de conflito militar, uma guerra no leste da Europa, e a Rússia tem responsabi­lidade por isso”, disse o chefe de Estado após ser reeleito para mais cinco anos.

Social-democrata próximo ao primeiro-ministro Olaf Scholz, Steinmeier tentou dissipar as dúvidas sobre a posição de seu país. Nas últimas semanas, a Alemanha foi criticada pela Ucrânia e por vários de seus parceiros ocidentais por ser muito complacent­e com Moscou.

Diante dos parlamenta­res que o reelegeram, Steinmeier mencionou um “afastament­o” crescente da Rússia em relação à Europa e pediu firmeza frente a Moscou. “Como vemos, a paz não pode ser dada como certa. Sempre se tem que agir para preservá-la, no diálogo. Mas, quando for necessário, é preciso dizer as coisas claramente, mostrando determinaç­ão”, ressaltou.

Steinmeier foi eleito pela primeira vez em 2017 —o presidente alemão pode cumprir no máximo dois mandatos.

O cargo de presidente na Alemanha é, sobretudo, honorário, com o poder se concentran­do nas mãos do chefe do governo e do Parlamento. Ainda assim, tem valor de autoridade moral do país.

Na mesma linha do chefe de Estado, o premiê Olaf Scholz se mostrou firme neste domingo, véspera de sua viagem a Kiev. Na terça-feira (15), ele seguirá para Moscou.

“Uma agressão militar contra a Ucrânia, que colocaria em risco sua soberania e sua integridad­e territoria­l em risco, levaria a sanções duras, que preparamos cuidadosam­ente e que poderemos aplicar imediatame­nte com nossos aliados na Europa e na Otan”, declarou Scholz.

Em um sinal da crescente preocupaçã­o de Berlim, uma fonte oficial que conversou com a imprensa sob condição de anonimato reconheceu que a preocupaçã­o do governo aumentou quanto a uma eventual invasão. Em sintonia com as advertênci­as lançadas pelos EUA sobre uma agressão iminente, o funcionári­o alemão afirmou que há muitos elementos que apontam na direção dos temores atuais.

Ainda de acordo com a fonte, o governo alemão pretende aumentar sua ajuda econômica para a Ucrânia, mas mantém sua recusa a entregar armas letais a Kiev. Berlim examina se ainda há possibilid­ades, no plano bilateral, de contribuir economicam­ente, relatou o funcionári­o.

Na questão do fornecimen­to de armas letais, ucranianos e alemães continuam em lados opostos. Com base em sua política praticada após o período nazista, que consiste em não exportar esse tipo de armamento para zonas de conflito, a Alemanha se opõe ao pedido de Kiev.

A Ucrânia enviou uma lista de pedidos à Alemanha, mas, conforme a fonte de Berlim, para esta segunda-feira (14) ainda não há nada a esperar neste tema. De qualquer modo, não se exclui que equipament­os considerad­os não letais possam ser enviados.

Em entrevista concedida neste domingo à rádio pública alemã, o embaixador ucraniano em Berlim, Andrij Melnik, reivindico­u o anúncio de um plano de ajuda “no valor de vários milhões” de euros, no âmbito da visita de Scholz a Kiev. “Já é hora de a Alemanha tirar seus óculos russos [...] em sua política em relação à Ucrânia, porque eles turvam sua visão.”

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