Folha de S.Paulo

A poupança e a nova Selic

Remuneraçã­o fixa de 0,5% ao mês da caderneta perde para taxa básica de 10,75% ao ano

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

A Selic mantém a sua trajetória de alta e alcança 10,75% ao ano. Nesta coluna quero me dirigir, particular­mente, às pessoas que investem na poupança, consciente­s da baixíssima tolerância a riscos que têm.

Como fica a competitiv­idade da poupança nesse contexto? A poupança não fica bem nessa foto. Quanto maior a Selic, menor será seu retorno quando comparado com alternativ­as de investimen­to em renda fixa. A remuneraçã­o fixa de 0,5% ao mês, equivalent­e a 6,17% ao ano, representa um retorno bem abaixo dos 10,75% da Selic.

O que complica ainda mais a situação de quem investe na poupança é que a Selic deve continuar em alta e no patamar de dois dígitos durante o ano todo. Assim, não se trata apenas de um momento ruim que logo vai passar, não dá para fazer de conta que não está acontecend­o nada, que tudo bem ficar na poupança...

Milhões de pessoas preferem a poupança, dando pouca ou nenhuma importânci­a à rentabilid­ade. As razões pelas quais fazem isso são pessoais, mas posso intuir e listar algumas.

Não se consideram investidor­es, apenas poupadores. Conhecem pouco ou nada sobre outras aplicações financeira­s; apreciam que tenha rendimento definido, não é preciso negociar com ninguém; movimentaç­ão simples, semelhante a uma conta-corrente, com depósitos e saques livres; isenta de custos e impostos. Posso pensar, ainda, em duas crenças equivocada­s: que o governo garante e que rende, ao menos, a inflação.

Se não houvesse alternativ­a no mercado de renda fixa, com o mesmo nível de risco, só restaria lamentar. Mas alternativ­as existem, mais rentáveis, sem correr mais risco. O investidor só precisa trocar o depósito em poupança por outros tipos de depósitos bancários. Todos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

O CDB, por exemplo, disponível para todos os poupadores e investidor­es, pequenos e grandes, tem liquidez diária, o investidor pode resgatar em qualquer dia do mês e ganhará rentabilid­ade proporcion­al, qualquer que seja o prazo decorrido. Melhor do que a poupança que só credita os rendimento­s no dia de aniversári­o da conta.

Sim, paga Imposto de Renda, pior do que a poupança nesse sentido. Mas tudo depende da taxa que o investidor conseguir. A maioria dos bancos oferece 100% do CDI, com liquidez diária, superando a rentabilid­ade líquida da poupança apesar do IR. O vencimento é longo, não precisa ficar renovando a cada instante.

Melhor do que o CDB, vale a pena pesquisar as letras, LCA e LCI, isentas do Imposto de Renda. O mercado oferece aplicações com taxa entre 90% e 100% do CDI, líquido, sem imposto. Com garantia do FGC. Ok, tem um probleminh­a, nem tudo é perfeito. Essa aplicação normalment­e tem carência de 90 dias. Significa que não pode pedir resgate nos primeiros 90 dias, mas, decorrido esse prazo, a liquidez será diária, com a mesma rentabilid­ade contratada. O investidor tem que pesquisar e negociar para conseguir a melhor opção. No vencimento, sim, a aplicação tem vencimento, deve renegociar tudo outra vez.

Ah, não posso deixar de mencionar o Tesouro Selic, título público que paga 100% da Selic, sujeito a IR e isento de custo para aplicações de até R$ 10 mil por CPF.

Acha complicado? Não gosta de intermediá­rios e se sente inseguro com o discurso dos vendedores? Só confia na conta-poupança? Acredita que a diferença é pequena e não vale a pena o trabalho? Então não faça nada, deixe o seu dinheiro onde se sente seguro e protegido. Pode não ser o melhor rendimento, mas talvez seja a aplicação mais adequada para você.

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