Palmeiras e Fla mostram que abismo não é grande
O Mundial de Clubes é desigual desde 1995 a ponto de haver 23 vitórias europeias e apenas seis sul-americanas nesse período. Mas as duas últimas decisões tiveram prorrogações e jogos de igual para igual, Palmeiras x Chelsea, Flamengo x Liverpool.
Apesar da inegável superioridade europeia, do interesse menor deles em relação ao Mundial, da transformação que faz a América do Sul jogar na estratégia contra os europeus no ataque, mesmo com tudo isso, a distância não está gigante.
Há detalhes a se cuidar, como Abel Ferreira alertou em sua entrevista antes da decisão. “Os gramados. As pessoas dizem que o jogo no Brasil é mais lento e não entendem que esse é um cuidado com o gramado. Não adianta ter uma Ferrari para andar nas ruas de São Paulo.”
À parte o recado para prefeito e governador, Abel falou uma verdade nua e crua. O jogo no Brasileirão pode melhorar com uma simples atenção: a grama.
Por outro lado, Abel usou uma estratégia tipicamente da América do Sul, que parece superada no velho continente: marcação individual. Assim como Cuca, ou Marcelo Bielsa, ou Giampiero Gasperini, fez seu time marcar homem a homem.
Rony e Scarpa marcavam os alas, Hudson-Odoi e Azpilicueta. Havertz era perseguido por Marcos Rocha, Mount por Piquerez, Gustavo Gómez marcava Lukaku com Luan na sobra –atuação brilhante de Luan, mesmo com o toque de mão.
No meio, Danilo marcava Kovacic, e Zé Rafael perseguia Kanté. Sobravam Dudu e Raphael Veiga para os contra-ataques, pelos lados.
A estratégia era defensiva, mas o Palmeiras ameaçou o Chelsea. Três finalizações certas para cada lado.
Óbvio que a medida certa das disputas entre europeus e sul-americanos se dará na Copa do Mundo. Mas as duas últimas finalíssimas dão noção de que pode haver mais equilíbrio do que faz supor nossa visão dos jogos de todos os finais de semana, Premier League x Brasileirão.
Veiga passou mal, Rony não tinha mais pernas, Dudu saiu esgotado, tudo isso porque é muito difícil jogar uma partida inteira em nível de total concentração, sabendo que o adversário é melhor e pode decidir a partida num mínimo vacilo.
Um mísero cochilo, e Rony deixou Hudson-Odoi sob o controle de Marcos Rocha. O cruzamento que chegou à cabeça de Lukaku e foi parar na rede. O pênalti de Luan, como o de Thiago Silva, foi marcado pelo vídeo.
Ao mesmo tempo em que é triste a constatação de que o clube sul-americano sempre tem de se defender, em vez de atacar como no passado, é importante entender que tem dado jogo. Não existe igualdade econômica, e mesmo assim dá jogo.
Em 2019, tinha gente que dizia que o Liverpool ia jogar com reservas em vez de escalar os titulares disponíveis. E, mesmo assim, deu jogo.
Tem muita coisa para transformar no futebol brasileiro, da gestão à capacidade de apostar em trabalhos de técnicos por longo prazo. Mas parecem faltar poucos detalhes para que os times brasileiros possam, de fato, voltar a competir e vencer.
Um pouquinho só de investimento em cultura... Parece um país que a gente conhece.