Folha de S.Paulo

Palmeiras e Fla mostram que abismo não é grande

- Paulo Vinicius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

O Mundial de Clubes é desigual desde 1995 a ponto de haver 23 vitórias europeias e apenas seis sul-americanas nesse período. Mas as duas últimas decisões tiveram prorrogaçõ­es e jogos de igual para igual, Palmeiras x Chelsea, Flamengo x Liverpool.

Apesar da inegável superiorid­ade europeia, do interesse menor deles em relação ao Mundial, da transforma­ção que faz a América do Sul jogar na estratégia contra os europeus no ataque, mesmo com tudo isso, a distância não está gigante.

Há detalhes a se cuidar, como Abel Ferreira alertou em sua entrevista antes da decisão. “Os gramados. As pessoas dizem que o jogo no Brasil é mais lento e não entendem que esse é um cuidado com o gramado. Não adianta ter uma Ferrari para andar nas ruas de São Paulo.”

À parte o recado para prefeito e governador, Abel falou uma verdade nua e crua. O jogo no Brasileirã­o pode melhorar com uma simples atenção: a grama.

Por outro lado, Abel usou uma estratégia tipicament­e da América do Sul, que parece superada no velho continente: marcação individual. Assim como Cuca, ou Marcelo Bielsa, ou Giampiero Gasperini, fez seu time marcar homem a homem.

Rony e Scarpa marcavam os alas, Hudson-Odoi e Azpilicuet­a. Havertz era perseguido por Marcos Rocha, Mount por Piquerez, Gustavo Gómez marcava Lukaku com Luan na sobra –atuação brilhante de Luan, mesmo com o toque de mão.

No meio, Danilo marcava Kovacic, e Zé Rafael perseguia Kanté. Sobravam Dudu e Raphael Veiga para os contra-ataques, pelos lados.

A estratégia era defensiva, mas o Palmeiras ameaçou o Chelsea. Três finalizaçõ­es certas para cada lado.

Óbvio que a medida certa das disputas entre europeus e sul-americanos se dará na Copa do Mundo. Mas as duas últimas finalíssim­as dão noção de que pode haver mais equilíbrio do que faz supor nossa visão dos jogos de todos os finais de semana, Premier League x Brasileirã­o.

Veiga passou mal, Rony não tinha mais pernas, Dudu saiu esgotado, tudo isso porque é muito difícil jogar uma partida inteira em nível de total concentraç­ão, sabendo que o adversário é melhor e pode decidir a partida num mínimo vacilo.

Um mísero cochilo, e Rony deixou Hudson-Odoi sob o controle de Marcos Rocha. O cruzamento que chegou à cabeça de Lukaku e foi parar na rede. O pênalti de Luan, como o de Thiago Silva, foi marcado pelo vídeo.

Ao mesmo tempo em que é triste a constataçã­o de que o clube sul-americano sempre tem de se defender, em vez de atacar como no passado, é importante entender que tem dado jogo. Não existe igualdade econômica, e mesmo assim dá jogo.

Em 2019, tinha gente que dizia que o Liverpool ia jogar com reservas em vez de escalar os titulares disponívei­s. E, mesmo assim, deu jogo.

Tem muita coisa para transforma­r no futebol brasileiro, da gestão à capacidade de apostar em trabalhos de técnicos por longo prazo. Mas parecem faltar poucos detalhes para que os times brasileiro­s possam, de fato, voltar a competir e vencer.

Um pouquinho só de investimen­to em cultura... Parece um país que a gente conhece.

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