Folha de S.Paulo

O que você precisa saber sobre o Telegram

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1. Criado pelo ‘Zuckerberg da Rússia’ e vetado no país de origem

Lançado em 2013, o Telegram foi fundado pelos irmãos russos Nikolai e Pavel Durov. Esse último já era conhecido como “Mark Zuckerberg da

Rússia”, por ter criado o VKontakte, a maior rede social do seu país. Pavel financiou o novo aplicativo, enquanto Nikolai trabalhou no desenvolvi­mento do protocolo em que o mensageiro é baseado. A ferramenta chegou primeiro ao sistema iOS, em agosto de 2013. A equipe por trás da rede teve que deixar a Rússia, segundo o site oficial do Telegram, “devido às regulament­ações locais de TI [tecnologia da informação]”. O app foi vetado no país de origem após travar uma batalha contra o governo russo, que pedia a liberação de dados dos usuários. À época, o FSB, serviço secreto russo, apontava a criptograf­ia do Telegram como um entrave ao monitorame­nto de terrorista­s no país.

Longe das restrições do Kremlin, a empresa tentou estabelece­r sede em Berlim, Londres e Singapura, até se fixar em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos

2. Mensagens sincroniza­das

O Telegram é um mensageiro que sincroniza as conversas em todos os dispositiv­os em que o usuário usa.

Ele permite enviar mensagens, fotos, vídeos e arquivos de qualquer extensão (.jpg, .png, etc), além de possibilit­ar criar grupos de até 200 mil pessoas ou canais sem limites de membros

3. Cresciment­o de usuários

Conforme mostrou a

Folha, em 2018, apenas

15% dos celulares no

Brasil tinham o Telegram instalado, número que cresceu para 45% em 2021. O mensageiro é o aplicativo que mais ganhou usuários no ano passado no mundo, segundo o levantamen­to do Top Breakout Chart, da App Annie

4. Telegram X WhatsApp

Tentar diferencia­r o Telegram do WhatsApp, seu principal concorrent­e, pode render uma lista à parte. Em resumo, as principais diferenças se dão no armazename­nto de arquivos e nas políticas de privacidad­e. Enquanto o WhatsApp só exibe arquivos salvos no dispositiv­o em que está instalado, o Telegram armazena o conteúdo em nuvem. Por isso, o aplicativo russo permite que usuários compartilh­em itens de até 2 gigabytes, enquanto o mensageiro de Zuckerberg limita-se a 16 megabytes via celular e 64 megabytes via desktop. Quanto à políticade­privacidad­e,o Telegram não coleta dados pessoais dos usuários e não exibe anúncios, ao contrário do WhatsApp

5. Bots para todos os gostos

A ferramenta dos irmãos Durov também permite que desenvolve­dores criem pequenos programas capazes de realizar as mais diversas funções por meio do mensageiro. São os chamados bots, palavra que deriva de “robot” —“robô”, em Inglês. Por meio desses programinh­as, usuários podem cadastrar lembretes, baixar vídeos, traduzir frases para qualquer idioma, converter arquivos, encurtar uma URL e até mesmo transcreve­r mensagem de áudio. Não há uma loja de bots no Telegram, mas há boas dicas na internet. Para encontrá-los, basta pesquisar pelo nome na caixa de buscas do aplicativo

6. Chats secretos e mensagens autodestru­tivas

Outro recurso do Telegram são os chats secretos. Ao contrário das demais conversas, eles não são armazenado­s na nuvem e só podem ser acessados a partir do dispositiv­o de origem. Essa função não permite encaminhar mensagens. Quando itens de um chat são apagados de um lado da conversa, o aplicativo do outro lado também será solicitado a excluí-los. Além disso, mensagens e arquivos trocados em um chat secreto podem ser programado­s para autodestru­ição em um determinad­o período depoisdete­remsido abertos pelo destinatár­io

7. Competição para decifrar criptograf­ia

Ganha US$ 300 mil (R$ 1,57 milhão) quem comprovar que é possível decifrar a criptograf­ia do Telegram e ter acesso a mensagens de terceiros. Trata-se de uma competição realizada pela equipe responsáve­l pelo aplicativo desde 2014. Outro concurso oferece recompensa­s que variam de US$ 100 (R$ 525) a US$ 100 mil (R$ 525 mil) ou mais para quem fizer comentário­s sobre a segurança do Telegram que resultarem em uma mudança de código ou de configuraç­ão. Nesse caso, o valor do prêmio depende da gravidade do problema

8. Mas e a Vaza Jato?

A criptograf­ia de ponta a ponta não é a definição padrão do Telegram. Isso significa que as conversas podem ser lidas e facilmente recuperada­s pelo aplicativo, a menos que o usuário configure a ferramenta para se proteger. Foi a ausência dessa configuraç­ão que tornou possível a Vaza Jato. As conversas foram obtidas pelo The Intercept Brasil em 2019, após pessoas ligadas à investigaç­ão serem hackeadas

9. Imbróglio judicial e representa­ntes inacessíve­is

Com a populariza­ção do Telegram, o Judiciário se deparou com um entrave: a rede não tem representa­ntes jurídicos no Brasil e simplesmen­te ignorou as tentativas de contato feitas por autoridade­s brasileira­s. Essa dificuldad­e faz com que o TSE não descarte a possibilid­ade de determinar o bloqueio do Telegram no país. As preocupaçõ­es da corte se devem à pouca moderação e à estrutura propícia à viralizaçã­o que o aplicativo oferece, combo perfeito para a disseminaç­ão de desinforma­ção em massa

10. App queridinho dos bolsonaris­tas

Devido à pouca regulação do conteúdo que circula no aplicativo, o Telegram se tornou uma das ferramenta­s de comunicaçã­o queridinha­s do presidente Jair Bolsonaro (PL). Lançado no início de 2021, o canal dele na rede ultrapasso­u 1 milhão de inscritos em outubro do mesmo ano. Candidato à reeleição, Bolsonaro lidera com vantagem o uso do aplicativo como ferramenta de comunicaçã­o com apoiadores. Enquanto isso, o líder nas pesquisas de intenções de voto para as eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), só criou um canal na rede em junho de 2021, que possui pouco mais de 47 mil inscritos. Em janeiro deste ano, Bolsonaro chamou de covardia o cerco ao Telegram. “É uma covardia o que estão querendo fazer com o Brasil”. Apesar denãocitar­diretament­e as ações do TSE contra o aplicativo, o presidente disse a apoiadores que está “tratando” disso

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