Folha de S.Paulo

Agarrado ao boxe, Newton Campos morre aos 96

- Alex Sabino

SÃO PAULO No corredor do seu apartament­o na alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo, Newton Campos tinha pendurado vários quadros. Só um não tinha referência ao boxe: rosto de Carlos Gardel esculpido com o trecho do tango “Adios Muchachos”.

O cantor nascido na França e disputado por argentinos e uruguaios era uma das paixões de Campos. Não a maior. Perdia de lavada para o esporte ao qual se dedicou até o final da vida. Jornalista, comentaris­ta de TV e presidente da Federação Paulista de Boxe há 32 anos, Campos morreu nesta segunda, aos 96 anos. Ele sofreu enfarto em casa.

Até as últimas semanas, Campos atualizava as redes sociais da Federação e cuidava da organizaçã­o da Forja dos Campeões, o mais tradiciona­l torneio de boxe amador do país. Ele tomava à frente de tudo. Do sorteio das lutas, marcação de pontos, divulgação da tabela e premiação. Nas noites em que o evento acontecia, era o primeiro a chegar e o último a ir embora.

Continuava a entrar em contato com treinadore­s e lutadores para saber de novidades. Telefonava para jornalista­s amigos para pegar informaçõe­s e cobrava quando eles não iam ao embarque ou desembarqu­e de atletas que fariam lutas internacio­nais e por disputas de título. Ele contava em detalhes exibição que viu Eder Jofre, aos sete anos, fazer no Ginásio do Pacaembu.

Ele foi o único jornalista do país na histórica luta entre Muhammad Ali e George Foreman na África, em 30 de outubro de 1974. E considerav­a Joe Louis o maior boxeador de todos os tempos.

Viúvo, Newton deixa dois filhos, Marcel e Carlos, e quatro netos. Seu corpo será enterrado em São Carlos (SP).

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? ‘Sem entusiasmo, você não chega a lugar algum’, disse Newton à Folha em sua casa, no centro, em 2020
Zanone Fraissat/Folhapress ‘Sem entusiasmo, você não chega a lugar algum’, disse Newton à Folha em sua casa, no centro, em 2020

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