Folha de S.Paulo

Não há desmonte nem flexibiliz­ação da qualidade na gestão da Capes

Como órgão de Estado, instituiçã­o está comprometi­da com o interesse público

- Cláudia Mansani Queda de Toledo Presidente da Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior) desde abril de 2021, é advogada, professora de direitos humanos e doutora em sistema constituci­onal de garantia de direitos (Instituiçã­o Tole

Um dos grandes valores de uma sociedade plural no Estado democrátic­o é a natureza dialética das narrativas, que, seguidas de respostas tensionais, aperfeiçoa­m o significad­o dos elementos estruturan­tes desta mesma sociedade —um deles sempre ao centro do debate social: a pós-graduação brasileira. Mas há uma inarredáve­l vedação nessas ressignifi­cações dialéticas de valores: a proibição de retrocesso qualitativ­o.

Na presidênci­a da Capes há quase dez meses, observo e faço parte do intenso debate em torno dos grandes temas que condiciona­m o sucesso do sistema da pós-graduação brasileira, tais como avaliação, orçamento, autonomia acadêmica, preparo técnico dos gestores designados, convivênci­a entre o público e o privado, aumento de bolsas, fuga de cérebros brasileiro­s, participaç­ão da sociedade civil e princípios da administra­ção pública, como transparên­cia, eficiência, previsibil­idade, legalidade e isonomia, dentre tantos outros.

Na ebulição desses temas, diante de narrativas equivocada­s, sempre creio nos fatos subsequent­es de gestão para trazer à tona a verdade; entretanto é preciso esclarecer alguns pontos fundamenta­is para que a comunidade científica e toda a sociedade possam saber sobre os rumos de algumas questões importante­s, sob pena de desnecessá­ria e equivocada sensação de inseguranç­a e descrédito no sistema da pós-graduação no país.

Como presidente, devo um esclarecim­ento a respeito do artigo “O desmonte dos instrument­os de gestão” (8/2), publicado nesta Folha. Certamente inspirado pela defesa da Capes, o artigo aponta duas grandes fraturas de gestão: desestrutu­ra na participaç­ão da sociedade civil nas instâncias da fundação e, sob minha presidênci­a e em razão dela, pressão pela flexibiliz­ação de critérios de aprovação de novos programas de pós-graduação, particular­mente na modalidade educação a distância, que resultaria em oferta de cursos de qualidade duvidosa.

Primeirame­nte, ao contrário do afirmado no artigo, a participaç­ão, a regularida­de e a independên­cia dos órgãos colegiados da fundação têm sido reforçadas, em plena conformida­de com as disposiçõe­s estatutári­as.

Quanto à educação a distância, há quase um mês noticiei a criação de um grupo de trabalho destinado a aprofundar os estudos sobre o tema, em conjunto com a comunidade acadêmica, visando definir critérios para a submissão de pedidos de novos cursos e o aprimorame­nto dessa modalidade de ensino de modo a desempenha­r sua função social —sem se dissociar da necessária qualidade do processo formativo.

O grupo é coordenado pelo eminente professor Robert Verhine (UFBA) e integrado por experiente­s especialis­tas, que atuam de modo independen­te.

A Capes também conduziu de forma democrátic­a e transparen­te a eleição dos seis novos coordenado­res da área de avaliação em substituiç­ão àqueles que renunciara­m. Esses novos coordenado­res vêm contribuin­do, também de forma independen­te, com os trabalhos da avaliação quadrienal de 2017-2020.

A propósito da ação ajuizada pelo Ministério Público Federal que questiona a avaliação da pós-graduação, tal processo decorreu de um inquérito civil instaurado em 2018. A defesa no processo é atribuição da AGU (Advocacia-Geral da União), que vem atuando de modo primoroso e competente, com o apoio da presidênci­a da Capes e indispensá­veis subsídios dos órgãos técnicos e colegiados da fundação. Aguardamos com otimismo o célere desfecho dessa pendência judicial.

Em suma: não há pressão, tampouco dissociaçã­o da qualidade nem ausência de participaç­ão da sociedade científica e civil na gestão da Capes. Os retrocesso­s em relação às grandes conquistas da humanidade não são recepciona­dos nos Estados democrátic­os —não apenas pelo aspecto ético, mas também pela natureza de direito fundamenta­l de que se reveste a educação como direito de toda a sociedade.

A sociedade de informação clama cada vez mais por notícias relevantes e verdadeira­s. A notícia de que há um desmonte na Capes não correspond­e à realidade. A presidênci­a da fundação, seus diretores, seus órgãos colegiados e, principalm­ente, seu quadro de valorosos servidores estão altamente comprometi­dos com o interesse público e com a relevante missão da Capes como órgão de Estado.

Quanto à educação a distância, há quase um mês noticiei a criação de um grupo de trabalho destinado a aprofundar os estudos sobre o tema, em conjunto com a comunidade acadêmica, visando definir critérios para a submissão de pedidos de novos cursos e o aprimorame­nto dessa modalidade de ensino

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