Quatro maiores bancos lucram R$ 81,6 bi em 2021
Expectativa para 2022 é de freio na carteira de crédito e de alta da inadimplência
SÃO PAULO Beneficiados por um ambiente de retomada das atividades após a paralisação provocada pela pandemia, os quatro grandes bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil) reportaram lucro líquido consolidado de R$ 81,632 bilhões em 2021.
O valor nominal (sem descontar a inflação) representa um crescimento de 32,5% na comparação com 2020, segundo levantamento elaborado pela provedora de informações financeiras Economatica —um recorde, tendo ficado ligeiramente acima do pico anterior de R$ 81,508 bilhões, registrado em 2019.
Ajustado pela inflação, medida pelo IPCA, o lucro consolidado dos quatro grandes bancos é o quarto maior da série histórica. Por esse critério, o melhor resultado até aqui foi obtido pelo quarteto em 2019, de R$ 93,761 bilhões.
Segundo analistas, o resultado do último ano foi influenciado pela própria base de comparação mais fraca de 2020, fragilizada pela pandemia, bem como pelo crescimento de dois dígitos das carteiras de crédito às pessoas físicas e jurídicas de um modo geral.
“Na pandemia, os bancos fizeram mais provisões para devedores duvidosos, que é basicamente tirar um pouco do dinheiro dos lucros e provisionar para uma inadimplência maior. E, no ano passado, com a melhora da economia, eles reverteram parte dessas provisões”, diz Bruce Barbosa, sócio-fundador da empresa de análise de investimentos Nord Research.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Wealth Management, diz que os destaques positivos ficaram com os números de Itaú e BB.
“O melhor resultado em minha avaliação foi o do BB, com forte crescimento de receita e da carteira de crédito, mantendo o índice de inadimplência comportado”, afirma Galdi. “A visão que fica depois da temporada de balanços é que as ações do BB estão muito descontadas ante os pares privados”, acrescenta o analista da Mirae, lembrando ainda que os resultados de Bradesco e Santander vieram um pouco abaixo do consenso de mercado, com queda nos principais indicadores de rentabilidade.
Depois de um ano marcado pela recuperação dos lucros, a expectativa para 2022 é que o baixo crescimento do PIB, somado ao juro alto, provoque um arrefecimento no ritmo de expansão das carteiras, com aumento na inadimplência, afirma João Daronco, analista da Suno Research.
“Para 2022, o principal ponto de atenção é como o índice de inadimplência irá se comportar”, diz Daronco, acrescentando que os próprios bancos sinalizaram esperar um aumento das contas em atraso.
“O cenário macro é diferente em 2022 daquele que observamos em 2021. E a gente vem de um crescimento de carteira importante nos últimos anos. Estamos sempre comparando o crescimento do ano ante o ano anterior, e, como tivemos um ano muito forte em 2021, é natural que haja um arrefecimento em 2022, seja pela base de comparação, seja pelo que estamos vendo de perspectiva macro olhando para a frente”, disse o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, após a divulgação do balanço.
Na mesma toada, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., assinalou que a incerteza sobre a capacidade do governo Bolsonaro de equilibrar as contas públicas, bem como a inflação pressionada e os juros altos, deve afetar a recuperação da economia.
“Infelizmente, ainda há incertezas fiscais e a inflação elevada, um fenômeno global, e com algum tempero local, que acabaram levando a uma forte alta de juros. O aperto da política monetária já causou efeitos em 2021 e certamente deverá afetar a recuperação da economia em 2022.”
Sérgio Rial, presidente do conselho de administração do Santander Brasil, também comentou esperar por uma desaceleração do crédito, em especial em linhas mais dependentes do patamar em que se encontram os juros.
“Acho que a gente vai ver naturalmente uma desaceleração no crédito imobiliário, quando comparamos com os últimos dois anos.”
No caso do BB, o presidente do banco, Fausto Ribeiro, afirmou nesta terça (15) que a instituição irá focar sua atuação em linhas de maior risco e rentabilidade, de modo a manter a lucratividade da operação.
“Vamos explorar linhas mais rentáveis. A ideia é investir bastante no não correntista”, afirmou Ribeiro. Nesse sentido, o executivo citou o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) Não Consignado e o cartão de crédito entre as linhas que devem receber um enfoque maior por parte do banco nos próximos meses.
Segundo Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, ainda que o ritmo de crescimento dos bancos aponte para um arrefecimento, as ações do setor na Bolsa se encontram em níveis atraentes.
“Devemos ver os lucros dos bancos crescendo uma média ao redor de 20% em 2022, e são ativos negociados a múltiplos baixos na Bolsa.”
Ele lembra que a rotação em curso motivada pela alta dos juros em escala global, de ações de alto crescimento de tecnologia para negócios de caráter mais cíclico, deve contribuir para um desempenho positivo das ações do setor bancário ao longo do ano.
“Os bancos foram deixados um pouco de lado pelo investidor nos últimos anos diante da percepção de que as fintechs iriam tomar o mercado. E elas atingiram, de fato, um número absurdo de clientes, mas que ainda não se tornaram rentáveis, enquanto os bancos continuam crescendo suas receitas.”