Folha de S.Paulo

Especialis­tas criticam programas criado pela Prefeitura de São Paulo para moradores de rua

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sÃo paULo Especialis­tas em políticas urbanas e moradia criticaram os projetos da Prefeitura de São Paulo criados em reação ao aumento de 31% da população de moradores de rua na capital paulista de 2019 para 2021, segundo censo recém-divulgado.

A Folha mostrou com exclusivid­ade nesta terça-feira (15) o conteúdo da minuta de um edital para a contrataçã­o da empresa que será responsáve­l pela preparação profission­al e socioemoci­onal dos sem-teto antes de incluí-los no mercado de trabalho.

A iniciativa faz parte do programa Reencontro, anunciado pela administra­ção após a divulgação do último censo da população de rua.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) planeja contratar mil sem-teto para serviços de zeladoria urbana, como varrição e manutenção de hortas e jardins, assim como ocorreu no extinto De Braços Abertos, iniciado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

Além da prestação de serviços de zeladoria, os beneficiár­ios deverão ter acesso a moradias transitóri­as. Eles poderão morar por até um ano em construçõe­s pré-fabricadas de até 18 m².

Para o pesquisado­r Aluizio Marino do Lab Cidade (Laboratóri­o Espaço Público e Direito à Cidade), ligado à faculdade de Arquitetur­a e Urbanismo da USP (Universida­de de São Paulo), a proposta é “mais do mesmo de projetos anteriores”.

“É bem parecido com o Trabalho Novo, algo que já não deu certo”, afirma ele em relação ao programa de empregabil­idade para moradores de rua extinto em 2019.

O pesquisado­r explica que oferecer a sem-teto vagas para serviços de zeladoria resolve apenas parte do problema porque não se considera o perfil variado de pessoas que vivem nas ruas. “Nem todo mundo quer varrer calçadas”, diz Marino.

Para a professora de economia da USP e coordenado­ra da Rede Brasileira de Pesquisado­res sobre População em Situação de Rua, Silvia Maria Schor, a oferta de vagas aos sem-teto é um programa de transferên­cia de renda, que pode gerar resultados positivos, mas não a longo prazo.

“Não me parece que essas atividades podem gerar mudanças em relação à inserção no mercado de trabalho, apesar de serem úteis para manter a população ocupada”, afirma a professora.

A disponibil­idade de casas de até 18 metros quadrados, a serem montadas pela administra­ção na região central da cidade, é outra proposta vista com preocupaçã­o pelo pesquisado­r do Lab Cidade. “Há o risco de criar um gueto e todas as consequênc­ias sociais a partir disso”, diz Marino.

Apesar de considerar inovadora a proposta de criar moradias transitóri­as, a professora Silvia se preocupa com os resultados a longo prazo. “O que se espera dessas pessoas quando se encerrar o período de permanênci­a?”, questiona.

“Não me parece que essas atividades podem gerar mudanças em relação à inserção no mercado de trabalho, apesar de serem úteis para manter a população ocupada Silvia Maria Schor coordenado­ra da Rede Brasileira de Pesquisado­res sobre População em Situação de Rua

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