Folha de S.Paulo

Conheça dois famosos problemas matemático­s não resolvidos

Conjectura dos primos gêmeos e de Goldbach estão ainda sem solução

- Marcelo Viana Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France

Volta e meia, leitores me pedem que escreva sobre os problemas não resolvidos mais importante­s da matemática. Alguns são complicado­s demais para um jornal, tomariam muito espaço só para explicar do que se trata. Mas há vários que dá para comentar aqui, e esses são mesmo os mais interessan­tes. Começo a lista com dois problemas famosos da teoria dos números.

1. Conjectura dos primos gêmeos. Este é o problema não resolvido mais velho, remontando à Grécia antiga. Primos gêmeos são pares de números primos cuja diferença é igual a 2, por exemplo, 41 e 43.

À medida que consideram­os números maiores, os primos vão se tornando cada vez mais espaçados (isso é explicado pelo Teorema dos Números Primos, de que falarei aqui em outra ocasião).

O mesmo acontece com os primos gêmeos, só que bem mais rápido: sabemos que os primos gêmeos são muito mais raros do que os primos. A questão é provar que, assim mesmo, a quantidade de primos gêmeos ainda é infinita.

Em 2013, Yitang Zhang provou que existe um número N e uma quantidade infinita de pares de primos cuja diferença é no máximo N. Inicialmen­te,

N era enorme (70 milhões!), mas uma rede internacio­nal de matemático­s liderada por Terence Tao reduziu-o para N=246. Chegar a N=2 provaria a conjectura, mas para isso serão necessária­s novas ideias.

2. Conjectura de Goldbach. Em carta enviada a Leonhard Euler em 7 de junho de 1742, o alemão Christiab Goldbach propôs a seguinte conjectura: todo inteiro maior do que 5 pode ser escrito como soma de três primos (por exemplo, 33=23+7+3). Euler respondeu em 30 do mesmo mês, observando que isso seria o mesmo que mostrar que todo inteiro par maior do que 2 é soma de dois primos (por exemplo, 42=23+19). E acrescento­u: “considero isso um teorema garantido, embora não seja capaz de provar”.

Continuamo­s não sabendo provar, embora a afirmação tenha sido conferida computacio­nalmente para todos os números até 18 dígitos. Além disso, em 2013, o matemático peruano de origem alemã Harald Helfgott provou que todo inteiro ímpar maior do que 7 é soma de três primos. Isso é chamado conjectura de Goldbach fraca porque não basta para provar a conjectura original, mas é um bom indício da sua veracidade: se a conjectura original fosse falsa, a fraca também teria que ser.

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