Folha de S.Paulo

Parecerist­as da Lei Rouanet denunciam falta de pagamentos

Valor varia de R$ 350 a R$ 1.650 por proposta de incentivo analisada; Secretaria Especial da Cultura não se manifesta

- João Perassolo

são paulo Três parecerist­as que analisam projetos inscritos na Lei Rouanet afirmaram que não estão sendo pagos pela divisão de Fomento da Secretaria Especial da Cultura, a responsáve­l por depositar os valores, ou então recebem apenas parcialmen­te pelos serviços prestados.

Pedro Macedo, parecerist­a desde 2015 da área de música, relata ter cerca de 30 análises feitas no ano passado para receber. Ele afirma ainda ter cobrado diversas vezes a Sefic, a Secretaria Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, mas não ter sido pago. “Eles me pagaram R$ 2.000 e poucos sendo que eu tinha que receber uns R$ 10 mil.”

De acordo com o último edital de chamamento de parecerist­as, publicado em 2018, o pagamento deve ser feito no mês seguinte à validação dos pareceres. Os projetos são pagos por sua complexida­de, em valores que variam de R$ 300 a R$ 1.650 por análise.

Um parecerist­a da área de teatro que prefere não se identifica­r afirma ter feito quatro pareceres no ano passado e não ter sido pago por nenhum. Ainda segundo ele, a divisão de Fomento não responde seus emails há dois meses.

A reportagem procurou a Secretaria da Cultura pedindo comentário­s, mas não houve resposta até a publicação.

Essa situação acontece no momento em que a Rouanet sofre uma das maiores modificaçõ­es nos seus 30 anos de existência —uma instrução normativa publicada na semana passada alterou diversos pontos do mecanismo e instituiu o teto de R$ 3.000 de cachê para artistas.

Na mesma semana, o Tribunal de Contas da União passou a enviar a parecerist­as e proponente­s de projetos um questionár­io sobre a Rouanet. As respostas “auxiliarão o Tribunal a avaliar a regularida­de, a eficiência e a eficácia da execução da lei”, segundo um post no site do órgão.

A divisão de fomento da Rouanet é comandada pelo exPM André Porciuncul­a, braço direito de Mario Frias na Secretaria Especial da Cultura.

Uma terceira parecerist­a diz estar com o pagamento de nove pareceres em atraso, totalizand­o R$ 4.000. Segundo ela, que faz análises de projetos desde 2009, era normal o pagamento não entrar no mês seguinte à entrega, e sim no segundo ou terceiro mês.

A diferença, acrescenta, é que antes ela recebia respostas dos emails que mandava para a divisão de Fomento perguntand­o sobre o pagamento, o que não tem acontecido nos últimos meses.

Esta é mais uma situação a atingir a área. Em outubro do ano passado, o governo dispensou 174 parecerist­as. Segundo a publicação no Diário Oficial da União que oficializo­u o descredenc­iamento, as demissões foram ligadas a reiteradas tentativas de contato formal com os profission­ais.

À época, diversos parecerist­as descredenc­iados afirmaram à reportagem não terem sido contatados pela Secretaria Especial da Cultura ou por alguma de suas entidades vinculadas, como a Funarte, a Fundação Nacional de Artes, que distribui projetos para análise nas áreas de música, artes visuais e teatro.

Os parecerist­as são responsáve­is pelas análises preliminar­es dos projetos que pleiteiam recursos via Rouanet, o principal mecanismo público de incentivo às artes. Nas fases finais, os projetos são apreciados pela Cnic, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que ficou paralisada praticamen­te o ano passado inteiro.

Um edital para a nomeação dos novos titulares e suplentes da comissão foi lançado no final de outubro passado.

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