Diretor de ‘Pam & Tommy’ conta que procurou reabilitar Pamela Anderson
Craig Gillespie afirma que machismo e sensacionalismo imperaram no vazamento de sex tape da atriz
sÃO pAUlO Pamela Anderson, hoje com 54 anos, era uma das maiores estrelas da TV nos anos 1990. Na época, estava no elenco principal de “S.O.S. Malibu”, que até hoje sustenta o recorde estabelecido em 1996 de série mais vista do mundo —com audiência estimada de 1,1 bilhão de telespectadores por semana em 142 países.
No papel da salva-vidas C.J., frequentou os sonhos dos adolescentes daquela geração com suas corridas em câmera lenta à beira-mar usando um cavado maiô vermelho.
Na vida pessoal, estava feliz no casamento-relâmpago com o roqueiro Tommy Lee, de 59 anos, baterista do Mötley Crüe. Mas tudo ruiu quando uma fita dos dois transando vazou.
É na história de como uma das primeiras “sex tapes” de celebridades viralizou que se centra a série “Pam & Tommy”. A direção é de Craig Gillespie, de “Cruella” e “Eu, Tonya”.
“Eu percebi uma oportunidade de deixar as pessoas chegarem com uma noção preconcebida sobre esse casal”, afirma, em entrevista a jornalistas da América Latina, da qual este jornal participou. “Usamos isso no primeiro episódio, no qual não se chega a conhecer o casal direito. Só a partir do segundo episódio é que nós vamos descobrindo os dois como pessoas.”
A trama se desenvolve a partir do olhar de Rand Gauthier, papel de Seth Rogen, o responsável por roubar a fita da casa onde Anderson e Lee moravam. O sujeito era um empreiteiro que estava fazendo um serviço na casa deles, mas se desentendeu com o roqueiro.
Mesmo que ambos tenham sido vítimas do vazamento, o efeito foi muito mais sentido pela atriz, tachada de “piranha”, enquanto o roqueiro ficou com fama de “bem dotado”. A imprensa sensacionalista nadou de braçada.
“O que eu queria era olhar para esse episódio com as lentes de hoje e comparar com como as mulheres eram tratadas naquela época”, diz Gillespie. “O que aconteceu com ela foi atroz e indignante.”
O diretor espera que a série mude a perspectiva das pessoas sobre o hoje ex-casal — eles se divorciaram em 1998. “Hoje, as pessoas questionam mais a motivação do que leem em tabloides, por que as coisas estão sendo apresentadas daquela forma e quem é a vítima daquela situação”, acredita. “Com a série, espero que passem a ver os dois como pessoas, e não como um produto.”
Pamela Anderson preferiu não se envolver com a produção. Na série, ela é vivida pela atriz britânica Lily James, que vem arrancando elogios por sua performance. Já o ator Sebastian Stan chegou a se encontrar com Tommy Lee.
Gillespie foi só elogios a seu casal de protagonistas, embora confesse que eles já estavam escalados para o projeto quando foi convidado. “Quando me disseram que a Lily iria interpretar a Pamela, eu amei a ideia de a ver num papel tão inesperado”, diz. “Tive a certeza de que seria uma surpresa.”
Ele lembra que interpretar personagens muito conhecidos pode ser intimidador para o ator, já que o público tende a ser mais crítico. “Depois que capturaram a voz e a linguagem corporal, eles puderam se concentrar na emoção sem se preocupar com mais nada. Tanto que conseguimos improvisar algumas cenas, sem que eles jamais saíssem dos personagens.”
Com Sebastian Stan, ele já havia trabalhado em “Eu, Tonya”. “Ele é ótimo em transitar entre a comédia e o drama”, afirma. “Tínhamos algumas sequências complicadas e que poderiam ser intimidadoras, mas eu sabia que Sebastian conseguiria fazer.”
Uma dessas cenas já se tornou clássica antes mesmo de se tornar pública. Muito se fala de um momento do segundo episódio em que Tommy conversa com o próprio pênis, tentando convencer o membro a abandonar todas as outras mulheres por Pamela.
“A biografia do Tommy revela que falar com o próprio pênis é algo que ele fazia com frequência”, conta Gillespie. “É uma conversa honesta na qual ele se compromete com o amor que sente por Pamela, e eu sabia que Sebastian seria capaz de fazer essa situação absurda funcionar.”
Mas como transformar algo tão surreal numa gravação tranquila? “Era só uma marionete controlada por um cara. Em determinado ponto, fica tudo muito mecânico e você está tão concentrado na performance. Só precisei garantir que Sebastian estava confortável e deixar que ele atuasse.”
Pam & Tommy
Direção: Craig Gillespie. Com: Lily James, Sebastian Stan, Seth Rogen. Disponível no Star+. 18 anos