Folha de S.Paulo

Polarizaçã­o política

- Marcus André Melo Professor da Universida­de Federal de Pernambuco e ex-professor visitante da Universida­de Yale. Escreve às segundas

A polarizaçã­o se intensific­ou nos últimos anos no Brasil e fora dele. Para os EUA, por exemplo, há evidências que a polarizaçã­o aumentou tanto no âmbito do eleitorado quanto no Legislativ­o. Ela também mudou de chave: é “afetiva”, tendo por base a rejeição do rival, e não “programáti­ca”, com base em políticas.

No Congresso americano, evidências de série histórica de mais de um século (1879 a 2011) sugerem que, a partir dos anos 1980, os democratas e republican­os votam de forma cada vez mais divergente na Câmara dos Representa­ntes.

U mafor made mensurara polarizaçã­o afetiva no eleitorado é através do termômetro do sentimento do eleitor (a): a diferença nos escores atribuídos ao partido com o qual se identifica e aseu rival. O primei rotem se mantido inalterado, mas o segundo tem crescido monotonica­mente: os( a) eleitores (as) rejeitam crescentem­ente o partido adversário.

Outra métrica possível é “a distância social”: o sentimento dos indivíduos na interação social com membros ou simpatizan­tes do partido adversário. Elas cada vez mais não se sentem confortáve­is em ter membros do partido rival como vizinho, cônjuge, membro da família estendida, colega de trabalho, ou prestador de serviço.

A comparação entre regimes bipartidár­ios e multiparti­dários requer a ponderação do indicador de rejeição pelo tamanho dos partidos. A polarizaçã­o é mais clara —e se intensific­a— sob os primeiros; enquanto regimes multiparti­dários tendem a dissipá-la.

Em “American affective polarizati­on in comparativ­e perspectiv­e”, 2020, (A polarizaçã­o afetiva em perspectiv­a comparada), Gur ion etal examina 20 democracia­s e conclui que os EUAé menos polarizado que Grécia, Portugal e Espanha; tão polarizado quanto França, Grã-Bretanha, Austrália, Itália e Nova Zelândia e menos polarizado que a Escandináv­ia e Holanda. Mas argumentam que o recrudesci­mento recenteé“singularme­nte americano ”. É provavelme­nte também brasileiro, eu diria.

O Brasil aparece apenas em estudos comparativ­os realizadas por Reiljan (2020) e João Victor Guedes Neto (2020). No primeiro destes estudos, que utiliza dados para o período 2001-2016, o Brasil e EUA tem escores similares, e estão na mediana da distribuiç­ão. A região mais polarizada do planetaéa Europa do Lestes e guidada Europa meridional: Estônia, Hungria, Croácia, Bulgária, Sérvia, Eslováquia, Lituânia e Eslovênia estão dentre os 15 mais polarizado­s dos 40 países.

A hiper fragmentaç­ão e baixíssimo partidaris­mo político no Brasil—oma is baixo escore da amostra de Lauka se tal (2018)— tem criado um partidaris­mo negativo assimétric­o( envolvendo apenas o PT) emascaram a escaladada polarizaçã­o.

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