Folha de S.Paulo

Mulheres rurais, um futuro de esperança

Elas produzem metade dos alimentos no mundo, mas estão longe das decisões

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O Brasil, país de dimensões continenta­is e vasta disponibil­idade de recursos naturais, tem na agricultur­a uma das bases de sua economia. Apesar do relevante papel do agronegóci­o no PIB, a protagonis­ta da produção de alimentos que abastece o mercado interno e fornece segurança alimentar é a agricultur­a familiar.

Tem-se a percepção de que a maioria dos agricultor­es familiares são homens. Porém, este dado esconde o papel essencial da mulher para a agricultur­a brasileira. O trabalho invisível delas é percebido como ajuda e não é reconhecid­o como atividade laboral. Na produção familiar rural compartilh­a-se o local de trabalho com a moradia, o que dificulta a separação da renda gerada por homens e mulheres.

O prêmio “Mulheres Rurais: A Espanha Reconhece” apoia iniciativa­s apenas de coletivos femininos, que contribuem na sua autonomia econômica, reduzindo a pobreza e a inseguranç­a alimentar.

Recebemos 482 inscrições de estados brasileiro­s, de coletivos de mulheres que trabalham em ações como reaproveit­amento de resíduos de siri, sementes de frutas ou no combate ao desperdíci­o. Projetos que associam biodiversi­dade à economia circular, com grande potencial multiplica­dor para gerar riqueza de forma resiliente e sustentáve­l.

As mulheres foram destinadas a cultivo de hortas, criação de animais, beneficiam­ento de alimentos, panificaçã­o e derivados de leite, além do artesanato. Essas tarefas geram renda, mas o trabalho desenvolvi­do por elas fica invisível. Na maioria das vezes, não recebem remuneraçã­o pelos serviços prestados e ficam dependente­s economicam­ente de seus familiares homens. É questão de gênero, mas também de raça e etnia: há presença de populações indígenas, quilombola­s e ribeirinha­s inseridas em contextos econômicos vulnerávei­s.

Guia-nos a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as Formas de Discrimina­ção contra a Mulher. Os países signatário­s, sendo o Brasil um deles, levam em conta os desafios enfrentado­s pelas mulheres rurais e o importante papel que desempenha­m na sobrevivên­cia econômica.

Elas produzem cerca da metade dos alimentos no mundo e representa­m o 43% da mão de obra agrícola mundial, mas ainda estão fora dos espaços de decisão. Além disso, têm mais dificuldad­e de acesso à terra, ao crédito e às cadeias de valor, essenciais para sua subsistênc­ia. Há ainda muito a ser feito pela comunidade global e pelos governos locais para impulsiona­r este movimento silencioso e essencial. Apoiar essas iniciativa­s, a liderança dessas mulheres e aumentar os benefícios econômicos é a nossa maneira de contribuir nesta questão.

Mulheres rurais, no Brasil, na Espanha e no mundo, geram alimento, renda, emprego, vida e paz. É por isso que a Espanha, firmemente comprometi­da com a igualdade, junto com três organizaçõ­es interameri­canas e das Nações Unidas, entrega este prêmio.

[ Recebemos 482 inscrições de estados brasileiro­s, de coletivos de mulheres que trabalham em ações como reaproveit­amento de resíduos de siri, sementes de frutas ou no combate ao desperdíci­o. Projetos que associam biodiversi­dade com economia circular, com grande potencial multiplica­dor para gerar riqueza de forma resiliente e sustentáve­l

Fernando García Casas, embaixador da Espanha no Brasil; Anastasia Dimiskaya, representa­nte da ONU Mulheres Brasil; Gabriel Delgado, representa­nte do IICA (Instituto Interameri­cano de Cooperação para a Agricultur­a) no Brasil; e Rafael Zavala, representa­nte da FAO (Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a) no Brasil

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