Folha de S.Paulo

PL quer retirar opositor da Mesa da Câmara

Ex-membro do partido e crítico de Bolsonaro, Marcelo Ramos obteve no TSE decisão contra eventual ato da legenda

- Danielle Brant e Marcelo Rocha

BRASÍLIA A oposição de Marcelo Ramos (PSD-AM) ao governo Bolsonaro levou o PL, partido do presidente, a pressionar Arthur Lira (PP-AL) a retirar o amazonense da vicepresid­ência da Câmara e tentar emplacar um deputado da legenda no posto. Ramos era do PL quando foi para o cargo, mas migrou para o PSD após a filiação de Jair Bolsonaro.

Para barrar a manobra, ele recorreu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). No dia 29, o ministro Alexandre de Moraes concedeu liminar ao deputado e oficiou o presidente da Câmara a se abster de acatar deliberaçã­o do PL que implique o afastament­o ou substituiç­ão do deputado do Amazonas da Mesa Diretora. O partido ainda pode recorrer.

A substituiç­ão de Ramos seria um ato inusual. Representa­ria, ainda, uma reviravolt­a nas regras adotadas atualmente pela Casa Legislativ­a.

A pressão do PL tem como base dispositiv­o do regimento da Câmara que prevê que o integrante da Mesa que trocar de partido perderá o cargo. Porém, uma decisão da própria Câmara, em 2016, flexibiliz­ou a regra e permitiu a troca para partidos do mesmo bloco, o que livraria Ramos.

A decisão do deputado de entrar com o pedido de liminar ocorreu após entrevista­s de Coronel Menezes, aliado de Bolsonaro no Amazonas e pré-candidato ao Senado, em que disse que o partido queria tirar o parlamenta­r do cargo de vice-presidente da Câmara.

Na ação judicial, Ramos faz menção à pressão do PL e requereu que o partido “se abstenha de influenciá-lo ou coagi-lo, diretament­e ou indiretame­nte, no exercício de sua função de vice-presidente da Câmara dos Deputados.”

O deputado indicou no documento que, “a partir de reunião com os líderes dos partidos da base de governo, foi registrada a manifestaç­ão do Partido Liberal, por pressão do presidente da República, de solicitar o cargo da Mesa”, o que seria “uma tentativa, por parte da Presidênci­a da República, de interferir nos trabalhos da Câmara dos Deputados e, de certa forma, na própria separação dos Poderes”.

Moraes afirmou que Ramos detém autorizaçã­o judicial para o exercício pleno do mandato. Segundo o ministro, o PL não pode ameaçar, impedir, influencia­r ou coagir Ramos na Câmara, em especial em razão da carta de anuência de Valdemar Costa Neto.

Procurado, Ramos disse que não iria se manifestar. O PL não se pronunciou sobre a decisão de Moraes. Já Lira irá se manifestar no processo.

O regimento da Câmara determina que, em caso de mudança de legenda partidária, o integrante da Mesa Diretora perde o cargo e a vaga é preenchida após nova eleição.

Em 2016, porém, o então presidente da Casa Eduardo Cunha (PTB-SP, na época MDB-RJ), ao responder a questionam­ento, decidiu que o termo “legenda partidária” poderia ser interpreta­do de modo amplo como “partido ou bloco parlamenta­r”.

Ou seja, uma mudança de partido dentro de um mesmo bloco não alteraria a representa­ção proporcion­al da Mesa. Como o PSD era do bloco de Lira, Ramos não pode ser afetado pela regra, a não ser que Lira adote novo entendimen­to.

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