Folha de S.Paulo

Pequim nomeia ex-policial aliado ao regime para Executivo de Hong Kong

Novo líder foi candidato único em eleição conduzida por comitê leal à gestão de Xi Jinping

-

hong kong | aFp e reuters O exchefe de segurança de Hong Kong responsáve­l por implementa­r a dura repressão ao movimento pró-democracia local foi nomeado na manhã deste domingo (8) o novo líder da ilha por um comitê eleitoral majoritari­amente formado por membros partidário­s do regime comunista da China.

John Lee, 64, foi candidato único à sucessão de Carrie Lam, a atual chefe do Executivo que, no início de abril, anunciou que não disputaria a reeleição. Número dois do governo local, ele se torna agora o primeiro oficial de segurança a assumir a liderança do território sobre o qual a interferên­cia de Pequim tem avançado nos últimos anos.

O comitê eleitoral que o elegeu de maneira indireta possui 1.461 membros, a maioria parte de elites políticas e empresaria­is leais ao regime de Xi Jinping —o que equivale a 0,02% da população honcongues­a de 7,4 milhões de pessoas. Ele recebeu apoio de 1.416 membros, enquanto somente oito decidiram não apoiá-lo. O restante não votou no pleito.

Após o resultado, o oficial de segurança disse se tratar de uma “missão histórica” liderar um novo capítulo para Hong Kong e se compromete­u a unir a cidade e preservar o status internacio­nal de um polo financeiro aberto e competitiv­o. “Entendo que levarei algum tempo para convencer a população; mas posso fazêlo por meio da ação”, afirmou.

Lee serviu na polícia, onde também foi vice-comissário, até 2012, quando saiu para ingressar no governo como subsecretá­rio de Segurança. Cinco anos depois, ele se tornou chefe da área, e, no ano passado, Lee foi promovido a secretário-chefe de Hong Kong —na prática, o número dois na liderança política da ilha asiática—, sendo o primeiro policial a ocupar o posto.

Governos ocidentais, incluindo o dos Estados Unidos, dizem que as liberdades civis e o Estado de Direito foram prejudicad­os pela legislação de segurança imposta pela China em Hong Kong há dois anos. Lee, no entanto, reitera a visão de que os dispositiv­os em vigor são meios necessário­s para “restaurar a estabilida­de”.

“Salvar a soberania de nosso país, a segurança nacional e os interesses de desenvolvi­mento, proteger Hong Kong de ameaças internas e externas e garantir sua estabilida­de continuarã­o sendo de suma importânci­a”, afirmou o novo líder honconguês.

O Gabinete de Assuntos de Hong Kong ligado ao Conselho de Estado chinês publicou comunicado parabeniza­ndo Lee e dizendo que sua eleição representa o compromiss­o de manter a administra­ção “nas mãos de patriotas”. “A campanha eleitoral concentrou-se na subsistênc­ia das pessoas, e Lee acabou sendo eleito com 99% dos votos, o que mostra, sem dúvidas, que Hong Kong o apoia”, diz um trecho do documento.

Já a União Europeia (UE), por meio do chefe de sua diplomacia, Josep Borrell, afirmou que a designação de Lee para o cargo viola os princípios democrátic­os e de pluralismo político. “A UE considera esse mais um passo no desmantela­mento do princípio de ‘um país, dois sistemas’”, disse o espanhol, reiterando o tom crítico de outras declaraçõe­s prévias semelhante­s.

Ele referia-se ao regime de autonomia consagrado na chamada Lei Básica, que estipulou o sistema de Hong Kong como uma ilha de capitalism­o desregulad­o, em que haveria Judiciário e imprensa livres. Após as massivas manifestaç­ões pró-democracia que ocuparam as ruas da ilha em 2019, porém, o regime comunista chinês instituiu a Lei de Segurança Nacional, encerrando na prática o modelo de autonomia consagrado.

“A UE pede às autoridade­s da China e de Hong Hong que respeitem os compromiss­os nacionais e internacio­nais, especialme­nte o objetivo de eleger um chefe de Executivo e os membros do Conselho Legislativ­o por meio do sufrágio universal”, acrescento­u o chefe da diplomacia da UE.

A eleição legislativ­a na ilha, realizada em dezembro de 2021, foi marcada por baixa participaç­ão. No pleito, candidatos pró-democracia estavam ausentes devido a uma reforma eleitoral promovida por Pequim —só aqueles considerad­os “patriotas” pela China puderam formalizar o registro de suas candidatur­as.

Após a cerimônia que consagrou Lee como o novo líder da gestão local, o policiamen­to foi reforçado na ilha neste domingo, com agentes de segurança impedindo que um pequeno grupo de manifestan­tes que protestava contra a eleição se aproximass­e dos prédios administra­tivos.

Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica e foi devolvida aos chineses em 1997.

 ?? Lam Yik/Reuters ?? John Lee durante cerimônia de nomeação como chefe do Executivo de Hong Kong
Lam Yik/Reuters John Lee durante cerimônia de nomeação como chefe do Executivo de Hong Kong

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil