Novo presidente da Coreia do Sul é comparado a Moro
são paulo Toma posse nesta terça-feira (10) o novo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, eleito com uma plataforma conservadora com apenas 0,73% dos votos à frente do segundo colocado no pleito.
Ex-promotor de Justiça que se tornou estrela no país, Yoon entrou para a política partidária há menos de um ano, mas chacoalhou as estruturas de poder sul-coreanas, tanto com o impeachment e a prisão de uma ex-presidente quanto com propostas controversas.
Filho de professores universitários, Yoon, 62, estudou direito na Universidade Nacional de Seul. Sua trajetória é comparada, no Brasil, à do ex-juiz Sergio Moro. Além de terem passado a maior parte da carreira no Judiciário, os dois atuaram em casos que terminaram no impeachment de uma presidente em 2016.
Yoon liderava a equipe de investigação de crimes que levaram ao afastamento da primeira mulher presidente da Coreia do Sul, Park Geunhye, condenada em 2018 a 24 anos de prisão por uma série de violações envolvendo corrupção e abuso de poder. Liberta por um indulto, ela tornou-se aliada de seu algoz.
Com a projeção que ganhou no caso, Yoon foi nomeado procurador-geral pelo presidente, Moon Jae-in, em 2019, seis meses depois de Moro assumir o Ministério da Justiça —e ambos deixaram os governos pouco tempo depois.
“Os dois também romperam de forma dramática com os mesmos governos que os elevaram na esfera pública e possibilitaram sua própria jornada política”, diz Thiago Mattos, mestre em relações internacionais pela Uerj e especialista em Coreia do Sul.
Moro rompeu com o governo Bolsonaro em abril de 2020, e Yoon deixou a gestão Moon, progressista, no começo de 2021, após acusações de abuso de poder e embates com a ministra da Justiça, que tentava reformar a Promotoria sul-coreana. Fora do governo, Yoon se virou para a direita e se candidatou representando a oposição ao governo.
As movimentações políticas do ex-juiz mostram que as semelhanças com o ex-promotor param por aí. Para Mattos, o perfil de Yoon é mais próximo do de Jair Bolsonaro, uma vez que ambos conseguiram “surfar a onda conservadora através de múltiplas polêmicas”, com elogios à ditadura vivida nos dois países e desprezo por pautas feministas.
Vencendo por margem estreita de votos, Yoon vai ter que trabalhar duro para conquistar a oposição desde o início, avalia Yong-Chool Ha, professor de relações internacionais da Universidade de Washington, a começar pelas audiências a que seu primeiroministro e membros do governo foram submetidos no Parlamento. “As declarações de comprometimento com a Justiça levantaram a barra moral do governo, e a oposição tenta explorar isso em sabatinas públicas”, diz o docente.
Para Ha, o desafio maior será impulsionar a economia do país no período pós-pandemia, além de lidar com os problemas do aumento do endividamento doméstico e com uma grave crise imobiliária.