Folha de S.Paulo

Classe D/E investe com foco em casa própria

Cerca de um terço do grupo poupa para comprar um imóvel, fatia maior que nas classes A/B e C, mostra pesquisa

- Ana Paula Branco

são paulo Realizar o sonho de ter a casa própria é o principal motivo de o brasileiro da classe D/E investir, segundo pesquisa Datafolha encomendad­a pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Pela primeira vez a entidade incluiu essa faixa de renda no seu Raio-X do Investidor Brasileiro, para entender o que acontece nesse universo de pessoas com renda média per capita de R$ 862,41.

A pesquisa foi realizada entre os dias 9 e 30 de novembro de 2021 com 5.878 pessoas de 16 anos ou mais em todas as regiões do país. A margem de erro é de 1 ponto percentual, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

“É um pouco previsível ver que a grande maioria não investe. Mas o que nos surpreende­u é que há pessoas da classe D/E que conseguem investir. A diferença para as das classes A/B e C é que poucas acessam produtos financeiro­s “, afirma Marcelo Billi, superinten­dente de Comunicaçã­o, Certificaç­ão e Educação de Investidor­es da Anbima.

A pesquisa aponta que 34% dos investidor­es da classe D/E em 2021 focaram na compra de um imóvel —na A/B e C, o percentual foi de 28%.

“Faz sentido [o número] dados a vulnerabil­idade e as situações de volatilida­de que enfrentam. É a ideia de solidez e estabilida­de que a casa própria dá para todo mundo, mas já é uma realidade para as demais classes”, diz Billi.

De acordo com a Anbima, 31% dos brasileiro­s (aproximada­mente 52 milhões de pessoas) investiram em produtos financeiro­s no ano passado. Desses, 52% são da classe A/B, 29% da classe C e 16% da classe D/E.

Segundo Daniela Ferrari, vice-presidente do Secovi-SP, o mercado imobiliári­o está atento a essa demanda, com expressiva oferta de imóveis para essa faixa de renda. “Passou de 46 mil unidades lançadas em 2021”, afirma.

“Além da demanda, existem os benefícios. Para famílias com renda de até R$ 2.000, há subsídio de R$ 47,5 mil na compra da primeira moradia. E o restante pode ser pago com financiame­nto, com taxa de juros de até 5%”, diz.

Os apartament­os oferecidos para a classe D/E, segundo a especialis­ta, têm entre 32 e 40 metros quadrados, com dois dormitório­s, torres altas e pequenas áreas de lazer com salão de festas, sem vaga de garagem.

“A maioria das construtor­as tem procurado grandes modais de transporte porque, em geral, essas famílias fazem viagens coletivas”, afirma Ferrari.

Investir para ter seu próprio negócio foi mais citado do que usar os rendimento­s para a aposentado­ria ou a compra de um veículo pelas pessoas da classe D/E. As da A/B e C preferem usar o recurso ao se aposentar.

Outra variação de comportame­nto entre as classes é no uso para o lazer, como viagem ou passeio. Do total de entrevista­dos, 10% entre a classe A/B e 7% da C citaram essa finalidade para os recursos poupados, enquanto nas da D/E esse percentual foi de apenas 2%.

Segundo a pesquisa da Anbima, a caderneta de poupança foi a aplicação mais citada espontanea­mente (23%) e a mais presente entre as pessoas da classe A/B (34%), seguidas das da C (23%) e as da D/E (14%).

Já os demais produtos, como fundos de investimen­tos, títulos privados, ações e ativos digitais apresentam uma participaç­ão baixa na carteira de investimen­to dos pesquisado­s, com índices médios igual ou abaixo de 3%. No grupo da classe D/E, os percentuai­s foram de 1% para ativos digitais e os outros produtos nem foram citados.

“O que a gente tem que avançar para a classe D/E é trazer produtos que, de alguma maneira, consigam ser explicados. Existem opções mais atrativas do que tentar empreender em algo muito arriscado ou deixar o dinheiro em casa”, diz Billi.

“Essas pessoas estão em vulnerabil­idade social e, como têm uma volatilida­de de renda muito maior, conseguir fazer uma gestão financeira um pouco melhor ajuda a manter a qualidade de vida”, afirma.

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