Folha de S.Paulo

A ruína do teto

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A cronologia das investidas contra o teto de gastos

Set.2019

Governo decide abrir exceção para que dinheiro obtido com leilão de áreas do pré-sal fosse dividido com estados e municípios

Out.2019

Medida provisória do governo propõe fundo privado, abastecido com receitas de multas ambientais, para bancar despesas fora do teto e do Orçamento. Congresso não votou a tempo, e texto expirou

Dez.2019

No apagar das luzes do ano, governo faz um aporte de quase R$ 10 bilhões em empresas estatais não dependente­s, despesa que não é sujeita ao teto. Desse valor, R$ 7,6 bilhões foram para a Emgepron, estatal que fabrica embarcaçõe­s para a Marinha. No ano seguinte, TCU alertou para drible ao teto

Abr.2020

Em meio à pandemia de Covid-19, ministros políticos e ala militar lançam o chamado Plano Pró-Brasil, com previsão de aumento nos investimen­tos públicos. Na época, Paulo Guedes (Economia) comparou Rogério Marinho (então ministro do Desenvolvi­mento Regional e um dos entusiasta­s do plano) a um “batedor de carteira”

Jul.2020

Casa Civil formula consulta ao TCU sobre possibilid­ade de abrir crédito extraordin­ário, fora do teto, para impulsiona­r investimen­tos. Plano tinha aval inicial da Economia, mas foi abandonado diante da má repercussã­o

Jul.2020

Governo negocia com Congresso possibilid­ade de bancar parte do Renda Brasil (versão anterior do Auxílio Brasil) com recursos do Fundeb, fundo da educação básica cujas transferên­cias da União ficam fora do teto de gastos. Polêmica, medida não avançou

Ago.2020

Governo faz acordo com lideranças políticas para abrir crédito extraordin­ário de R$ 5 bilhões fora do teto. Acerto acabou não vingando devido à polêmica sobre o uso desse tipo de instrument­o para obras estruturan­tes, que fogem ao critério de imprevisib­ilidade

Set.2020

Equipe econômica faz investida pelo Renda Brasil e sugere ao senador Marcio Bittar (União Brasil-AC), então relator da PEC emergencia­l e do Orçamento de 2021, limitar o pagamento de precatório­s e liberar espaço no teto. Governo recuou novamente após repercussã­o ruim da medida

Jul.2021

Congresso aprova privatizaç­ão da Eletrobras colocando na conta da ENBpar, estatal criada para abrigar os ativos da Eletronucl­ear e Itaipu, uma série de obrigações de despesas e investimen­tos que deveriam estar no teto de gastos

Ago.2021

Governo retoma ideia limitar o pagamento de precatório­s e envia PEC para abrir espaço no Orçamento de 2022. Texto contém ainda proposta de "Fundo de Liquidação de Passivos", abastecido com receitas de privatizaç­ões e dividendos e com poder para bancar despesas fora do teto

Out.2021

Bolsonaro bate o martelo por um Auxílio Brasil mínimo de R$ 400 em 2022 e sentencia uma mudança na fórmula de cálculo do teto de gastos. Em conjunto com o limite para precatório­s, as medidas ampliaram em quase R$ 115 bilhões o espaço para gastos em ano eleitoral

Abr.2022

Em clima de pré-campanha, Bolsonaro busca se contrapor a outros candidatos que pregam mudanças no teto e defende maior liberdade para fazer investimen­tos públicos. "Isso daí muita gente discute que tem que ser alterado alguma coisa, a gente vai deixar para o futuro, depois das eleições, discutir essa questão", disse

Equipe econômica, por sua vez, mantém planos de implementa­r fundo abastecido com receitas de privatizaç­ões. Dinheiro seria usado para abater dívida e bancar despesas com um "programa de reconstruç­ão nacional" e com transferên­cias de renda aos vulnerávei­s, fora do teto de gastos

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