Folha de S.Paulo

Lições das derrotas que o Brasil não entende

- Paulo Vinicius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

O Palmeiras só empatou com o Fluminense e escalou seus titulares porque Abel Ferreira tenta campanhas fortes tanto na Libertador­es quanto no Brasileiro. Quando a vitória não vem, as críticas aparecem. Não há receita pronta. Mas a cada escalação em que poupa jogadores importante­s, Vítor Pereira é criticado.

Contra o Deportivo Cáli, os debates pós-jogo discutiam por que Willian ficou no banco. Ora, porque disputou 90 minutos contra o Boca Juniors e 87 contra o Fortaleza. E porque teve desgaste muscular, como explicou o técnico português em sua entrevista coletiva, depois do empate por 0 a 0 na Colômbia.

Tudo entendemos na vitória. Quase nunca nos tropeços. O desabafo de Pep Guardiola depois de perder para o Real Madrid evidencia que não é só aqui. Por outro lado, sua permanênci­a no cargo depois de tomar a virada nos dois minutos finais mostra que há diferenças em relação ao entendimen­to sobre o tempo e o limite do trabalho:

“O que aconteceu aqui foi futebol”, disse Guardiola. “Perguntam se faltou caráter ao nosso time. Se o chute de Grealish, salvo por Mendy sobre a linha, tivesse entrado, ninguém perguntari­a. Aí, teríamos caráter. Quando Ederson salva a última bola contra o Atlético de Madrid, não nos falta caráter. O que houve aqui hoje não foi falta de caráter. Foi futebol.”

O depoimento de Guardiola é importante ao final de uma semana em que só se discutiu se Jorge Jesus poderia voltar ao Flamengo porque Paulo Sousa é questionad­o por não fazer seu time ser brilhante em todas as partidas. Sousa tem 24 jogos; Guardiola tem 348.

Pep chegou ao Manchester

City com a missão de ganhar a Champions League. Ganhou três vezes o Campeonato Inglês, foi finalista de uma Liga dos Campeões e semifinali­sta de outra. Não venceu ainda. Guardiola segue sendo o melhor técnico do mundo, o mais transforma­dor, ainda que uns possam preferir Jurgen Klopp, outros Carlo Ancelotti.

Segundo Rodrygo, o mito italiano, único vencedor das cinco grandes ligas europeias, próximo de conquistar sua quarta Champions, Ancelotti colocou-o na semifinal aos 23 do 2º tempo, dando a seguinte instrução: “Vá lá e tente transforma­r o jogo.” Poxa, professor... Só isso? A proposta indecente de Jorge Jesus, que passou as últimas semanas no Rio dizendo em grandes e pequenas rodas que quer voltar ao Flamengo e espera até o dia 20, produziu comparaçõe­s com Abel Ferreira. Não é preciso arruinar o trabalho de um para elogiar o de outro.

Abel e Paulo Sousa são frutos da mistura lusitana, entre a academia e a prática do campo. Jorge Jesus é o mais empírico dos portuguese­s. O mais brasileiro, o que não lê e não pretende ler teorias de futebol moderno. Por outro lado, Jesus foi o mais impression­ante, com os 83% de aproveitam­ento nos 58 jogos no Flamengo.

Ninguém vai tirar de Jorge Jesus o impacto de sua passagem pelo Flamengo. Isto não exclui a falta de ética flagrada na semana passada. O ex-técnico do Flamengo admira Johan Cruyff. Abel Ferreira tem José Mourinho como referência. Os dois têm importânci­a para aumentar a cultura tática do futebol no Brasil.

Nós, brasileiro­s, é que somos maus alunos e julgamos normal trocar seis técnicos em cinco rodadas de campeonato.

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