Folha de S.Paulo

Rolam as pedras

- Jacques Constantin­o

A Prefeitura de São Paulo quer aumentar o limite de barulho em eventos e jogos nos estádios de 55 para 85 decibéis —exposição considerad­a insalubre se superar oito horas diárias. O estopim para o projeto, conforme reportagem da Folha, foi a notificaçã­o para interdição do Allianz Parque pelo Psiu, da própria administra­ção paulistana, depois do pop rock do Maroon 5, em abril.

Segundo a administra­ção Ricardo Nunes (MDB), falta regulação específica para o limite de ruído nessas áreas. Enquanto isso, um juiz proibiu o fechamento do estádio da zona oeste. Se o projeto vingar, os moradores do entorno vão precisar de tampões de ouvido alguns dias por mês.

Na mesma zona oeste, as obras na linha 6-laranja do metrô estressam a vizinhança. É barulho de gerador, de guindaste, de caminhões, de apito. Moradores relatam noites mal dormidas e problemas de saúde. Com o home office, até o trabalho é prejudicad­o. Donos de apartament­os ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo dizem que querem mudar dali, mas não encontram interessad­os nos seus imóveis.

A concession­ária afirma cumprir a regulação. Se as obras terminarem no tempo previsto —no plano inicial, o ramal deveria ter sido entregue em 2012—, serão mais três anos de agonia, até 2025, para a turma de Perdizes e Pompeia.

A poucos quilômetro­s dali, o barulho é o menor dos problemas. A dispersão dos dependente­s químicos que estavam na praça Princesa Isabel leva medo e apreensão aos moradores e comerciant­es dos Campos Elíseos e de Santa Cecília. Formouse na região uma nova cracolândi­a, trazendo junto inseguranç­a.

“Me ameaçaram de agressão porque eu disse que precisava da minha entrada livre”, disse um morador a este jornal. Polícia e administra­ção municipal dizem realizar policiamen­to preventivo. A subprefeit­ura afirma fazer limpeza diária.

Aqui, não há prazo para obra terminar, nem projeto. É a falência civilizaci­onal brasileira em seu estado bruto.

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