Folha de S.Paulo

Espanha é feia, e Brasil segue o mesmo modelo

País europeu já tem forte concorrent­e na destruição da paisagem litorânea

- João Lara Mesquita Editor do site www.marsemfim.com.br

O Brasil tem um rival na destruição da paisagem litorânea: a Espanha. O editor Andrés Rubio, do jornal espanhol El País, publicou um livro para denunciar a especulaçã­o imobiliári­a e a feiura produzida: “España Fea - El Caos Urbano, El Mayor Fracaso de la Democracia” (“Espanha feia - Caos Urbano, O Maior Fracasso da Democracia)”, um estudo das barbaridad­es cometidas na herança espanhola desde o fim da ditadura do general Francisco Franco.

“Por que a Constituiç­ão de 1978 não inclui a palavra ‘paisagem’?” Esta e outras são algumas das perguntas de Rubio (a Carta brasileira menciona e “protege” a paisagem, apesar de não ter adiantado). Com base em entrevista­s, ele descreve os absurdos praticados desde as costas mediterrân­eas até as do norte.

Segundo o site aldianews.com, “Rubio revela a estratégia de políticos e desenvolve­dores ignorantes e corruptos, com o silêncio cúmplice de uma guilda desmobiliz­ada, a da arquitetur­a, somada à indiferenç­a e ignorância do mundo intelectua­l e midiático”. Hoje, diz a Reuters, para combater as ocupações “o governo planeja usar compensaçã­o e expropriaç­ão para limpar empreendim­entos ilegais”. “O plano de 5 bilhões de euros tem como alvo mais de 3.000 propriedad­es ilegais.”

Enquanto os 5 bilhões não chegam, pesquisado­res publicam artigos como “Erosion by human impact on the Valencian coastline” (“Erosão por impacto humano na costa valenciana”) no Journal of Coastal Research.

Para o www.ethic.es, “o avanço do tijolo está destruindo tudo. Especialme­nte os recursos naturais, segundo o relatório ‘A Toda Costa’, elaborado pelo Greenpeace e pelo Observatór­io da Sustentabi­lidade, que avalia o estado da costa através da perda de bens e serviços ambientais”.

Em razão do modo deplorável com que “ocupamos” uma área imensa e belíssima, aproveito para sugerir uma reflexão antes que todas as nossas praias se transforme­m em Riviera de São Lourenço (SP) ou Balneário Camboriú (SC).

É hora de revermos o modelo brasileiro que pereniza a pobreza dos nativos, destrói a paisagem, prejudican­do o turismo (vocação natural do litoral), e ameaça a vida marinha.

A Espanha, país rico, conta com saneamento básico. Pindorama, não. Diariament­e são despejadas 5.300 piscinas olímpicas de esgoto nas águas brasileira­s, doces e salgadas.

Para piorar, os ecossistem­as mais importante­s, como mangues, são extirpados muitas vezes pelos próprios prefeitos —grande parte deles comanda a especulaçã­o— para a construção de condomínio­s, hotéis ou novos bairros.

Além desses problemas, a Câmara aprovoupro­postadeeme­ndaàconsti­tuição,dodeputado­federalalc­eumoreira (MDB-RS), que prevê o repasse dos terrenos da Marinha, hoje em poder da União, a estados e municípios.

Como esta Folha disse no editorial “Temeridade litorânea” (25/2), foi uma “votação açodada” que “envolve interesses e riscos ainda não inteiramen­te dimensiona­dos”.

O litoral brasileiro chafurda na decadência da qual jamais sairá se não tomarmos medidas urgentes (veja fotos da costa espanhola no post “A Espanha é feia, e uma mancada da imprensa omissa” em www.marsemfim.com.br).

Em razão do modo deplorável com que “ocupamos” uma área imensa e belíssima, aproveito para sugerir uma reflexão antes que todas as nossas praias se transforme­m em Riviera de São Lourenço (SP) ou Balneário Camboriú (SC). (...) É hora de revermos o modelo que pereniza a pobreza dos nativos, destrói a paisagem e ameaça a vida marinha

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil