Folha de S.Paulo

Sob pressão, PGR avalia aceno a STF e a Bolsonaro

Posição sobre indulto e Moraes deve sair na próxima semana; auxiliares tentam atenuar desgastes

- Fabio Serapião e Marcelo Rocha

Diante do pedido feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para que a PGR (Procurador­ia-geral da República) investigue o ministro Alexandre de Moraes por abuso de autoridade, auxiliares de Augusto Aras passaram a estudar soluções para diminuir o desgaste que o caso tem potencial de causar com o Planalto e com o STF (Supremo Tribunal Federal).

O tema preocupa o chefe do Ministério Público, uma vez que técnicos da PGR já sinalizara­m que não há espaço para dar prosseguim­ento à investigaç­ão contra Moraes —considerad­o um inimigo por Bolsonaro.

Diante disso, a tendência é que a Procurador­ia opine sobre o assunto simultanea­mente à manifestaç­ão que fará sobre o indulto individual concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), outro assunto de interesse do Planalto. As duas providênci­as devem ficar para a próxima semana.

De acordo com auxiliares de Aras, a PGR deve opinar pela regularida­de do indulto dado pelo presidente da República para esvaziar a condenação imposta a Daniel Silveira pelo STF.

Em ação penal relatada por Moraes, o parlamenta­r bolsonaris­ta foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão, além de multa e perda dos direitos políticos.

Ações de partidos de oposição, que estão sob a relatoria de Rosa Weber, defendem a derrubada do ato presidenci­al. A ministra do STF pediu um parecer da Procurador­ia.

Em relação à representa­ção contra Moraes, por sua vez, a PGR está inclinada a arquivála, segundo interlocut­ores de Aras. O argumento é que não há crimes nos atos do ministro à frente do inquérito das fake news, que tem Bolsonaro e aliados como alvos. Ressalvas ao trabalho de Moraes, porém, podem eventualme­nte ser feitas pela Procurador­ia.

Uma das reservas que podem ser feitas é o fato de a PGR não ter sido consultada previament­e sobre diligência­s determinad­as por Moraes ao longo da investigaç­ão instaurada ainda em 2019.

No julgamento que validou o inquérito da fake news, em junho de 2020, Aras afirmou que a apuração deveria prosseguir, mas que caberia ao STF assegurar sua legalidade, como a “participaç­ão constante” da PGR em todas as etapas da investigaç­ão e o fornecimen­to de cópias aos alvos investigad­os, para permitir o direito à ampla defesa.

Na quarta (18), Bolsonaro represento­u na Procurador­ia contra Moraes por abuso de autoridade no inquérito do fake news. A ação é similar à protocolad­a no STF e rejeitada pelo ministro Dias Toffoli.

Ao levar o assunto à PGR, o presidente obrigou o órgão comandado por Aras a se manifestar. A atual gestão no órgão é acusada de alinhament­o aos interesses do Planalto.

Bolsonaro afirma que Moraes “pode ter incorrido” em cinco delitos previstos na lei do abuso de autoridade, entre eles o que tipifica como crime a abertura de procedimen­to investigat­ório sem que haja “qualquer indício da prática de crime”.

Em trecho da peça assinada pelo advogado Eduardo Magalhães, inscrito na OAB do Paraná, Bolsonaro afirma que o inquérito das fake news “se estende por mais de três anos; prazo este que representa o dobro do lapso cronológic­o que o Supremo Tribunal Federal considera como capaz de causar constrangi­mento ilegal ao investigad­o por excesso de prazo”.

Toffoli entendeu que os fatos narrados no pedido de Bolsonaro não constituem crime e que não há justa causa para o prosseguim­ento do feito. Portanto, negou o prosseguim­ento da ação.

A avaliação entre os auxiliares de Aras é a de que o ministro entrou no mérito das acusações e que, nesse caso, não caberia à Procurador­ia defender a abertura de investigaç­ão.

Para formular seu cálculo político sobre como prosseguir, Aras levou em conta manifestaç­ões que a PGR fará a respeito dos dois casos de interesse do presidente.

Ele está em seu segundo mandato e sonha, em caso de reeleição de Bolsonaro, com a indicação ao Supremo. O próximo presidente fará duas indicações para a corte.

A ofensiva do chefe do Executivo contra Moraes é apontada como parte de uma estratégia para desestabil­izar a cúpula do Judiciário.

O presidente fez nas últimas semanas diversas insinuaçõe­s golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, enquanto ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do Supremo deram respostas duras a suas ilações.

Alvos das acusações de Bolsonaro e atual vice-presidente da corte eleitoral, Moraes sucederá Edson Fachin no comando do tribunal eleitoral e presidirá o pleito de outubro.

Bolsonaro voltou a desferir ataques contra Judiciário nesta quinta-feira (19). Em evento no Rio de Janeiro, ele afirmou que o supremo teminterfe­rido emsua atuação na presidênci­a.

“Mais da metade do meu tempo passo me defendendo de interferên­cias indevidas do Supremo Tribunal Federal”, disse.

Também nesta quinta, Moraes disse que a Justiça Eleitoral nasceu e segue com “vontade de concretiza­r a democracia e coragem para lutar contra aqueles que não acreditam no Estado democrátic­o de Direito”.

A declaração foi feita na abertura das celebraçõe­s de 90 anos da Justiça Eleitoral, no TSE. No discurso, Moraes não citou ataques promovidos por Bolsonaro e seus apoiadores ao sistema eleitoral.

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Leonardo Prado - 4.mai.22/secom/mpf O procurador-geral da República, Augusto Aras

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