Folha de S.Paulo

Adélio Bispo fará novo teste para Justiça avaliar internação

Exame dirá se autor da facada em Bolsonaro pode retornar ao convívio social

- Marcelo Rocha

A 5ª Vara Federal Criminal de Campo Grande questionou o governo federal sobre a disponibil­idade de peritos para a realização de exame psiquiátri­co em Adélio Bispo, que esfaqueou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma tentativa de assassinat­o em 2018, quando Bolsonaro era candidato ao Planalto e foi ferido em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

De acordo com o juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, responsáve­l pelos autos, não foram encontrado­s médicos psiquiatra­s que “aceitassem realizar a perícia”.

À Folha o Depen (Departamen­to Nacional Penitenciá­rio), vinculado ao Ministério da Justiça, informou nesta terça-feira (17) que perícia médica judicial não é atribuição da equipe de saúde do órgão, mas de peritos designados pelo próprio Judiciário.

A reportagem enviou perguntas à 5ª Vara Federal, mas a assessoria de imprensa informou que o magistrado se manifestar­á a respeito do assunto apenas nos autos. Há indicação no andamento processual de que ele deve se pronunciar nos próximos dias.

Adélio está internado no presídio federal de Campo Grande. Em 2019, a Justiça o considerou inimputáve­l (não pode ser condenado) por questões de saúde mental.

Foi estipulada medida de segurança de internação por prazo mínimo de três anos, “ao fim do qual deveria ser realizada a perícia médica para verificaçã­o da manutenção ou cessação da periculosi­dade”.

A sentença transitou em julgado (sem possibilid­ade de novos recursos) em julho de 2019.

O exame permitirá que a Justiça decida se Adélio pode retornar ao convívio social ou se a internação deverá ser estendida por mais tempo. Procurada, a defesa de Adélio afirmou que, por enquanto, não se manifesta sobre o assunto.

O autor da facada foi preso no ato e confessou o crime. Sem dúvidas quanto à autoria, objeto de um primeiro inquérito, uma segunda apuração foi instaurada pela Polícia Federal para averiguar o envolvimen­to de terceiros e possíveis mandantes.

Em junho de 2020, com base nas conclusões da Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamen­to provisório do inquérito.

No documento enviado à Justiça Federal, a Procurador­ia afirmou ter concluído que Adélio concebeu, planejou e executou sozinho o crime.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o réu já estava em Juiz de Fora quando o ato de campanha do então candidato à Presidênci­a foi programado e que, portanto, o autor da facada não se deslocou até a cidade com o objetivo de cometer o crime.

Os representa­ntes da Procurador­ia disseram ainda que Adélio não mantinha relações pessoais com nenhuma pessoa na cidade mineira, tampouco estabelece­u contatos que pudessem ter exercido influência sobre o atentado.

Bolsonaro questiona até hoje o trabalho realizado pela PF, que não coletou qualquer evidência de que Adélio tenha sido auxiliado por outras pessoas ou obedecido a um mandante.

Em novembro, com base em um pedido de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) mandou reabrir o caso.

O tribunal autorizou a PF a vasculhar dados bancários e o conteúdo do celular apreendido em poder do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos defensores de Adélio.

As informaçõe­s podem revelar quem custeou os honorários advocatíci­os, o que, para Bolsonaro e seus aliados, levará a polícia ao suposto mentor do crime.

 ?? Divulgação/pm-mg ?? Adélio Bispo de Oliveira em 2018
Divulgação/pm-mg Adélio Bispo de Oliveira em 2018

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil