Eduardo Serra, do PCB, afirma que tentará extinguir as polícias do estado
Eduardo Serra (PCB) diz que vai tentar extinguir as polícias Militar e Civil e criar uma nova instituição com bases civis caso seja eleito ao governo do Rio de Janeiro. Ele foi o terceiro pré-candidato às eleições fluminenses sabatinado pela Folha e pelo UOL.
“As polícias, como são organizadas atualmente, consideram todo pobre, todo negro, suspeito. Temos uma proposta que é a extinção das duas policias que existem hoje e a criação de uma policia civil uniformizada”, afirmou nesta quinta (19).
A medida dependeria de mudanças na Constituição.
A ideia, segundo ele, seria alterar a orientação da corporação para ações preventivas e investigativas, e criar o que chamou de um conselho popular de segurança, para debater com a população. “Sem nenhuma concessão ao crime organizado.”
Questionado se a proposta não seria inviável, o carioca rebateu que são poucos os países que têm policias militares. Criticou ainda as operações em favelas, que, para ele, não conseguem desarticular as facções, e defendeu que agir dentro da lei aumenta a eficácia da polícia.
Eduardo Serra tem 66 anos e é professor da UFRJ (Universidade Federal do RJ), na Escola Politécnica e no Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid). Nos anos 1970, participou dos movimentos estudantil e sindical que combatiam a ditadura militar (1964-1985).
Militante do PCB, o político já concorreu à prefeitura do Rio de Janeiro em 2008 e ao governo do estado em 2010. Também foi candidato ao Senado em 2014.
Com 5% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, divulgada em 7 de abril, Serra afirmou que as eleições “são parte de uma luta maior” para o Partido Comunista Brasileiro, que tem como objetivo “uma transformação profunda da sociedade, superando o capitalismo”.
O político argumentou que o partido não propõe uma utopia de curto prazo, mas um programa “realizável”, que visa a expansão da saúde pública gratuita de qualidade para todos, a universalização da educação, o pleno emprego, a reindustrialização do país e uma reforma agrária que gere empregos no campo.
“Nós debatemos as ideias socialistas adequadas ao período em que nós estamos vivendo. Fazemos um balanço crítico das experiências socialistas do século 20 e de algumas que continuam com esse caráter socialista no século 21.”
Ele refutou a teoria de que seus 5% de intenções de voto se devam a uma confusão por parte do eleitorado com os nomes do ex-governador paulista José Serra (PSDB) ou do prefeito carioca Eduardo Paes (PSD). Ele diz que grande parte de seus eleitores são jovens, negros, mulheres e pessoas de baixa renda.
A disputa ao governo do Rio hoje é liderada pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSB) e pelo atual governador fluminense, Cláudio Castro (PL), com 22% e 18% dos votos respectivamente, no cenário mais provável até aqui. Como a margem de erro é de três pontos percentuais, eles estão em empate técnico.
Perguntado sobre por que o PCB decidiu lançar um nome próprio em vez de, por exemplo, apoiar Freixo, Serra respondeu que “ele tem uma trajetória de luta, coragem, enfrentou milícias” e que o PSOL é um partido parceiro, mas que sua candidatura pelo PSB não é de esquerda.
Também questionado sobre a estratégia de concorrer a uma vaga no Executivo, e não no Congresso Nacional —onde o PCB não tem nenhuma cadeira—, o pré-candidato mencionou barreiras do sistema eleitoral brasileiro e afirmou que o partido vive um momento de lançamento de nomes.
“O partido passou por um momento difícil nos anos 1990, como o movimento comunista internacional de forma geral, e se reconstruiu. Hoje é um partido presente nas lutas sociais, na juventude, na intelectualidade”, disse, acreditando que haverá mais candidatos capazes de se eleger no próximo pleito e citando o Chile como exemplo.
A sabatina foi conduzida pelos colunistas do UOL Kennedy Alencar e Chico Alves e pelo repórter da Folha Italo Nogueira. As entrevistas são ao vivo, e cada pré-candidato tem direito a 60 minutos de fala.