Folha de S.Paulo

Em SP, Teatro-d vai encerrar as atividades e dar lugar a prédios

Terreno do espaço, inaugurado pouco antes da pandemia de coronavíru­s, foi comprado por uma construtor­a

- Jairo Malta Teatro-d R. João Cachoeira, 899, Itaim Bibi, zona oeste, tel. (11) 3079-0451

Na manhã de 27 de janeiro deste ano, Darson Ribeiro, dono do Teatro-d, recebeu com surpresa a notícia de que o espaço receberia nos próximos meses uma ordem de despejo.

“Chorei durante a reunião”, diz ele, lembrando o espaço, que fica dentro de um hipermerca­do Extra no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo.

O prédio, que ocupa uma área de 16,9 mil metros quadrados, é arrendado pelo Grupo Pão de Açúcar —que era dono da rede Extra até outubro do ano passado, quando anunciou a venda para a rede atacadista Assaí. O comprador foi uma construtor­a, que decidiu pôr fim ao atual espaço físico para erguer no terreno três blocos de edifícios com cinco andares cada um.

“O que me indigna é que descobri que o prédio foi vendido ainda em 2017”, diz Ribeiro, que assinou o contrato de locação em março de 2019 e inaugurou o teatro em novembro daquele ano. “Por que me deixaram gastar tanto, sabendo que iria fechar? Montei um teatro, não uma lojinha.”

A abertura teve show de Ney Matogrosso. Pouco depois veio a pandemia de Covid-19, que fez o espaço fechar e reabrir meses depois com capacidade reduzida. De lá para cá, recebeu espetáculo­s com atores como Eri Johnson e Heloisa Périssé, além de peças da Disney como “A Bela e a Fera”.

As áreas do café e da biblioteca também receberam pequenas montagens e exposições. No momento, na parede próxima ao piano de cauda no foyer do teatro, está em cartaz a exposição “Ícones Brasileiro­s e os Santos”, do artista Cláudio Tovar.

Na terça (17), contudo, o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu ao Teatro-d um efeito suspensivo que impede o despejo imediato do teatro.

A decisão, que é provisória, diz que o GPA, sigla do Grupo Pão de Açúcar, não respeitou prazos e procedimen­tos estabeleci­dos por lei quando pediu a liberação do espaço ocupado hoje pelo estabeleci­mento. Ainda não há data para a desocupaçã­o e ainda cabe recurso da decisão.

Procurado, o Grupo Pão de Açúcar afirmou em nota que “o contrato de locação, desde o início, não garantia ao locatário um prazo determinad­o”. O grupo também disse que tentou chegar a uma solução sobre o encerramen­to da locação e que propôs a negociação de dívidas. “A companhia enfatiza que permanece disposta a chegar a um entendimen­to sobre o assunto.”

O novo projeto prevê que a área vá dar espaço para uma nova edificação, com lojas no térreo e uma área arborizada integrando as ruas do quarteirão —reabrindo vias que foram fechadas ainda na época em que o prédio abrigava o extinto Mapping, nos anos 1990.

No momento, as 350 poltronas vermelhas da plateia estão sem destino. Ribeiro diz que usa o tempo com o teatro ainda aberto para visitar espaços em shoppings e outros locais pertencent­es à prefeitura que pudessem receber os materiais do Teatro-d e os seus atuais sete funcionári­os.

Por enquanto, a despedida do palco é feita com a comédia “DR - Discutindo a Relação”, apresentad­a aos sábados, às 21h. Os ingressos podem ser adquiridos diretament­e na bilheteria por R$ 80 e também no site sympla.com.br.

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Eliana Souza/divulgação Plateia do Teatro-d, formada por 350 poltronas vermelhas

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