Em SP, Teatro-d vai encerrar as atividades e dar lugar a prédios
Terreno do espaço, inaugurado pouco antes da pandemia de coronavírus, foi comprado por uma construtora
Na manhã de 27 de janeiro deste ano, Darson Ribeiro, dono do Teatro-d, recebeu com surpresa a notícia de que o espaço receberia nos próximos meses uma ordem de despejo.
“Chorei durante a reunião”, diz ele, lembrando o espaço, que fica dentro de um hipermercado Extra no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo.
O prédio, que ocupa uma área de 16,9 mil metros quadrados, é arrendado pelo Grupo Pão de Açúcar —que era dono da rede Extra até outubro do ano passado, quando anunciou a venda para a rede atacadista Assaí. O comprador foi uma construtora, que decidiu pôr fim ao atual espaço físico para erguer no terreno três blocos de edifícios com cinco andares cada um.
“O que me indigna é que descobri que o prédio foi vendido ainda em 2017”, diz Ribeiro, que assinou o contrato de locação em março de 2019 e inaugurou o teatro em novembro daquele ano. “Por que me deixaram gastar tanto, sabendo que iria fechar? Montei um teatro, não uma lojinha.”
A abertura teve show de Ney Matogrosso. Pouco depois veio a pandemia de Covid-19, que fez o espaço fechar e reabrir meses depois com capacidade reduzida. De lá para cá, recebeu espetáculos com atores como Eri Johnson e Heloisa Périssé, além de peças da Disney como “A Bela e a Fera”.
As áreas do café e da biblioteca também receberam pequenas montagens e exposições. No momento, na parede próxima ao piano de cauda no foyer do teatro, está em cartaz a exposição “Ícones Brasileiros e os Santos”, do artista Cláudio Tovar.
Na terça (17), contudo, o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu ao Teatro-d um efeito suspensivo que impede o despejo imediato do teatro.
A decisão, que é provisória, diz que o GPA, sigla do Grupo Pão de Açúcar, não respeitou prazos e procedimentos estabelecidos por lei quando pediu a liberação do espaço ocupado hoje pelo estabelecimento. Ainda não há data para a desocupação e ainda cabe recurso da decisão.
Procurado, o Grupo Pão de Açúcar afirmou em nota que “o contrato de locação, desde o início, não garantia ao locatário um prazo determinado”. O grupo também disse que tentou chegar a uma solução sobre o encerramento da locação e que propôs a negociação de dívidas. “A companhia enfatiza que permanece disposta a chegar a um entendimento sobre o assunto.”
O novo projeto prevê que a área vá dar espaço para uma nova edificação, com lojas no térreo e uma área arborizada integrando as ruas do quarteirão —reabrindo vias que foram fechadas ainda na época em que o prédio abrigava o extinto Mapping, nos anos 1990.
No momento, as 350 poltronas vermelhas da plateia estão sem destino. Ribeiro diz que usa o tempo com o teatro ainda aberto para visitar espaços em shoppings e outros locais pertencentes à prefeitura que pudessem receber os materiais do Teatro-d e os seus atuais sete funcionários.
Por enquanto, a despedida do palco é feita com a comédia “DR - Discutindo a Relação”, apresentada aos sábados, às 21h. Os ingressos podem ser adquiridos diretamente na bilheteria por R$ 80 e também no site sympla.com.br.