Futebol feminino conquista a Europa
Final da Liga dos Campeões será marcante e poderá inspirar meninas e gestores
Foi o recorde de público na Copa da Inglaterra feminina: no domingo (15), mais de 49 mil pessoas viram o Chelsea ser campeão sobre o Manchester City no estádio de Wembley. A equipe de Londres também venceu o Campeonato Inglês e é exemplo de como levar o futebol feminino a sério. Em breve, serão protagonistas de novo.
É que, quando o filho ou filha da meio-campo Melanie Leupolz nascer, em poucos meses, a meio-campo vai ser uma das primeiras beneficiadas por uma reforma importante na primeira e na segunda divisões inglesas. Agora, jogadoras têm direito a 100% do salário durante 14 semanas da licença-maternidade, e isso permite que a alemã de 28 anos tenha mais tranquilidade para escolher ser mãe no auge da carreira.
Por falta de segurança financeira e profissional, atletas ainda esperam até a aposentadoria ou desistem da maternidade. Também é um passo para mudar a mentalidade de alguns clubes. O anúncio da gravidez foi celebrado pelo Chelsea como algo positivo, não um inconveniente.
Arquibancadas vão continuar cheias. Em julho, a Eurocopa feminina, aqui na Inglaterra, terá jogos em estádios como Old Trafford e Wembley.
Mas, mesmo um país que investe no esporte feminino tem problemas, e eles começam cedo. Uma pesquisa com 4.000 meninos e meninas entre 11 e 18 anos da ONG britânica Women In Sport revelou que quase metade delas se desinteressa pela prática de esportes na adolescência.
Elas acham que têm menos oportunidades que os garotos, recebem pouco apoio do pai, sentem-se julgadas na puberdade, quando o corpo muda. Quase 80% não fazem atividade física no período menstrual por dor, cansaço ou vergonha.
O estudo aponta a importância de os pais levarem as filhas para ver e praticar esportes. Acrescento como sugestões que educadores físicos adotem uniformes que não as deixem com vergonha ou as exponham desnecessariamente e que gestores da área tenham mais mulheres em cargos de chefia.
Entre os vizinhos europeus, espanta saber que o futebol feminino na Itália é amador. Mas isso vai mudar: em 1º de julho, a primeira divisão se torna profissional. Atualmente, jogadoras têm limite de salário bruto de 30 mil euros por temporada, ínfimo se comparado com o masculino, e contratos sem direito a aposentadoria ou seguro-saúde. Desde 2017, todos os clubes da Série A precisam ter times femininos, e, em 2019, a seleção italiana voltou à Copa do Mundo pela primeira vez em duas décadas, o que impulsionou o crescimento.
Este fim de semana será marcante na Itália. Turim recebe a decisão da Liga dos Campeões feminina entre Barcelona e Lyon. No mês passado, em uma das semifinais, 91.648 pessoas assistiram a Barcelona x Wolfsburg no Camp Nou, recorde mundial no futebol feminino.
Até pouco tempo atrás, as jogadoras do Barcelona eram amadoras e tinham dificuldades para treinar. O time virou profissional em 2015, e o clube criou um projeto sério, melhorou sua estrutura se inspirando no masculino, investiu na base. Conquistou títulos espanhóis, a última Champions e ganhou o coração dos torcedores. A capitã, Alexia Putellas, foi eleita a melhor do mundo.
Essas mudanças são o básico, e há muito a avançar no futebol feminino, mas é preciso valorizar o que tem sido feito de bom. Se há poucos anos meninas cresciam querendo jogar como o Messi, agora têm nomes como o de Alexia para se inspirar. E representatividade importa.