Rússia renova ataques no Donbass, e guerra alcança ‘intensidade máxima’
Concentração de forças do Kremlin busca estabelecer controle e vitória estratégica para Putin
Os combates no leste da Ucrânia alcançaram “intensidade máxima” e o país caminha para uma fase “extremamente longa e difícil” da guerra, disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar. Ela se refere ao renovado esforço da Rússia para atacar e tomar algumas das principais cidades da região a fim de estabelecer, ao mesmo tempo, controle do território em que Moscou já apoiava grupos separatistas contrários a Kiev e uma vitória para Vladimir Putin.
Dois dos principais alvos são as cidades de Severodonetsk e Lisitchansk. Se tomadas pela Rússia, quase toda a província de Lugansk estaria sob controle russo —um dos objetivos-chave do Kremlin para a guerra chamada de “operação militar especial”.
De acordo com o governador de Lugansk, Serhii Gaidai, cerca de 15 mil civis ainda permanecem em Severodonetsk —que, antes da guerra, tinha cerca de 100 mil habitantes. A maioria se recusa a sair da cidade, e o próprio Gaidai disse, no início da semana, que era tarde demais para fugir dos ataques russos.
Já em Lisitchansk, o volume de mortos em decorrência da guerra levou a polícia a assumir os ritos funerários. Nesta quinta, segundo o governador, mais de 150 corpos foram enterrados em valas comuns. Os familiares que desejavam fazer cerimônias formais de sepultamento terão que esperar o fim da guerra.
Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, analistas militares dizem que houve uma inversão no fluxo dos combates. Há algumas semanas, eram as tropas ucranianas que forçavam as russas a recuar em direção à fronteira nordeste do país. Agora, as forças de Moscou conseguiram manter controle sobre uma faixa de território e impediram que os adversários cortem suas linhas de suprimento.
Nas áreas urbanas, os moradores se adaptaram ao sons das explosões. “Está barulhento aqui, mas pelo menos estou em casa”, disse Marina Karabierova, 38, ao ouvir mais um estrondo durante entrevista à agência Reuters. “Pode acontecer a qualquer hora. É assim que a vida é aqui.” Ela havia fugido para a Polônia e depois para a Alemanha no início da guerra, mas voltou a Kharkiv recentemente.
De acordo com o chanceler Dmitro Kuleba, algumas cida
des e vilarejos, em especial no leste da Ucrânia, já não existem mais. “Foram reduzidos a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas múltiplos de lançamentos de foguete”, disse, acrescentando que esse é precisamente o tipo de armas de que seu país necessita. Segundo Kuleba, a situação militar da Ucrânia no leste é ainda pior do que se diz.
O objetivo é tentar diminuir a enorme disparidade entre os arsenais russo e ucraniano. “A Rússia tem a vantagem, mas estamos fazendo tudo o que podemos”, disse o general Oleksii Gromov,
vice-chefe do principal departamento de operações do Estado-maior da Ucrânia.
Mais cedo, o presidente Volodimir Zelenski também admitiu a superioridade militar dos russos. “O inimigo é claramente superior em termos de equipamento e número de soldados. Precisamos da ajuda de nossos parceiros e, especialmente, de armas.”
Kuleba foi mais direto e alfinetou a Alemanha, cuja posição tem sido de cautela em entregar armamento pesado a Kiev. “Apreciamos todos os esforços do governo alemão, mas não entendo por que é tão complicado.” O premiê alemão, Olaf Scholz, tentou marcar uma posição mais firme contra a Rússia. Em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, afirmou que Putin não alcançou objetivos estratégicos. “Putin não deve vencer sua guerra, e estou convencido de que ele não vencerá”.
A fala de Scholz foi interpretada como um contraste com o que ele próprio teria dito a jornalistas. De acordo com um editor do britânico Guardian, o alemão afirmou em uma conversa com repórteres que não acredita numa eventual vitória ucraniana.
“[Vilarejos inteiros no leste ucraniano] foram reduzidos a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas múltiplos de lançamentos de foguete
Dmitro Kuleba