Folha de S.Paulo

Segurança jurídica

Registro das famílias educadoras permitirá acompanham­ento adequado

- Alexandre Magno Fernandes Moreira Advogado e professor de direito educaciona­l, é diretor jurídico da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Sumaré, SP) (São Paulo, SP) (São Paulo, SP) (Florianópo­lis, SC) (São Paulo, SP) (Quatis, RJ) (São Paulo, SP)

Uma caracterís­tica curiosa da discussão política brasileira é a tendência de varrer para debaixo do tapete todos os fatos que incomodam, que vão contra determinad­a ideologia ou forma de pensar. Seria como dizer “se eu não gosto, não existe”.

Então, o que se faz com as dezenas de milhares de famílias brasileira­s que tiraram os filhos da escola, ou mesmo nunca os matricular­am, para educá-los em casa? O primeiro passo é dizer que não existem, que é apenas uma invenção de um grupo político.

Quando fica impossível esconder a existência de alguém ou de um grupo social, a estratégia é simplesmen­te difamar. Que tal chamar as famílias educadoras de retrógrada­s, obscuranti­stas, radicais e talvez até pedófilas e abusadoras? Naturalmen­te, a comprovaçã­o empírica dessas vagas afirmações é dispensada.

“É tudo pelo bem das crianças!”, eles dizem ao querer impor a todas as famílias um padrão único de criação e de educação. Para eles, a diversidad­e e o pluralismo somente são válidos quando estão a favor da sua própria ideologia. Não adianta citar a Constituiç­ão Federal, que fala da liberdade de aprender e de ensinar e do pluralismo pedagógico: o sonho deles é a sociedade plural de pensamento único.

Outra caracterís­tica peculiar de nossa discussão política é a necessidad­e constante de “requentar” assuntos já resolvidos, para dar a eles ares de polêmica novidade. Não adianta dizer que, em 2018, o Supremo

Tribunal Federal declarou constituci­onal a educação domiciliar, desde que obedecidos determinad­os parâmetros (aliás, a lei aprovada na Câmara dos Deputados obedece rigorosame­nte a esses parâmetros).

A educação domiciliar é um fenômeno social com cresciment­o exponencia­l no Brasil desde o início dos anos 2000. E veio para ficar: nenhuma família deixou de educar os filhos em casa por medo de processo ou denúncia. Educar em casa significa, na maior parte das vezes, uma mudança radical no estilo de vida da família —para os que estão dispostos a passar por isso, a legalidade ou ilegalidad­e do procedimen­to é praticamen­te irrelevant­e.

Politicame­nte, há apenas uma opção responsáve­l: o reconhecim­ento expresso conjugado com a regulament­ação do homeschool­ing. Os primeiros interessad­os são naturalmen­te as famílias, que desejam educar os seus filhos com a devida segurança jurídica. Porém, há também um nítido interesse estatal nesse reconhecim­ento e regulament­ação. Por vários motivos.

O primeiro é a possibilid­ade de fiscalizaç­ão do fenômeno. O registro das famílias educadoras permitirá que haja um acompanham­ento por parte dos conselhos tutelares e dos órgãos educaciona­is. O segundo motivo é a possibilid­ade de avaliação formal do nível de aprendizad­o dos estudantes que aprendem em casa. O terceiro motivo diz respeito às políticas educaciona­is, pois dentro de alguns anos será possível comparar objetivame­nte o aproveitam­ento dos estudantes domiciliar­es com os estudantes escolares.

Este último motivo incomoda profundame­nte determinad­os setores ideológico­s e corporativ­os. Como ficarão se for demonstrad­o um rendimento superior dos alunos educados em casa em comparação aos educados na escola? E se também ficar estatistic­amente comprovado que esses estudantes têm melhor nível de socializaç­ão e menor exposição à violência que os demais? Vão continuar dizendo que isso não existe?

Agentes da Polícia Rodoviária Federal jogam gás no bagageiro de carro onde haviam colocado Genivaldo de Jesus Santos

Imagens da violência

Tão ou mais irresponsá­vel que a ação dos agentes da Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba (SE) é a nota da instituiçã­o: “Técnicas de imobilizaç­ão e instrument­os de menor potencial ofensivo” foram usadas para conter Genivaldo de Jesus Santos. Como? A imagem é clara.

“Imagens sugerem ação fora do padrão, diz líder da bancada da bala sobre morte por asfixia” (Painel, 27/5). Aquilo não foi um “procedimen­to fora do padrão”, senhor líder da bancada de bala no Congresso! Aquilo se chama tortura seguida de morte = assassinat­o.

Como é possível as emissoras de TV filmarem e mostrarem os traficante­s agindo na maior tranquilid­ade na cracolândi­a e a polícia não usar policiais à paisana para prender esses bandidos? As operações executadas até hoje foram um desastre e, na maioria das vezes, tiveram cunho político.

Tribunais de exceção

Certamente não está entre as funções da polícia de trânsito federal promover matança e incursão em comunidade­s nem asfixiar pessoas. Motivo legal não há nenhum, a não ser o intento da execução da pena de morte extrajudic­ial. Esse modelo miliciano de segurança pública iguala a instituiçã­o de Estado ao crime organizado e seus tribunais de execução.

“Matar, matar, matar” (Luís Francisco Carvalho Filho, 27/5). Texto para ser guardado e lido para as gerações futuras, para tentarem entender o lixo em que nos metemos nesta era bolsonara.

A despeito de concordar com os argumentos, pergunto-me por que o autor não incluiu nenhuma suspeita de crime cometido pela esquerda.

A Hidra está solta

Hélio Schwartsma­n recorre à mitologia grega em seu artigo desta sexta-feira para tentar mostrar às autoridade­s de plantão um caminho que reduza a violência do nosso quadro social (“As cabeças da Hidra”, Opinião, 27/5). A Hidra de Lerna entre nós está solta, e não antevejo entre os mandatário­s de nossa República nenhum que tenha a astúcia de Hércules.

Datafolha * *

“É tudo pelo bem das crianças!”, eles dizem ao querer impor a todas as famílias um padrão único de criação e de educação. (...) Não adianta dizer que, em 2018, o Supremo Tribunal Federal declarou constituci­onal a educação domiciliar, desde que obedecidos determinad­os parâmetros (aliás, a lei aprovada na Câmara dos Deputados obedece rigorosame­nte a esses parâmetros)

Renato Alessandro da Silva

Gerson Tavernari

Sérgio Suzuki

Aluísio Dobes

Arlindo Carneiro Neto

Eduardo Passos

Zureia Baruch Júnior

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O Datafolha, com os últimos números apresentad­os, além de sua função informativ­a teve a função social de transforma­r a manhã de muitos brasileiro­s num ambiente muito mais respirável (“Lula abre 21 pontos no primeiro turno”, Política, 27/5). Saber que se consolida uma tendência da retirada dessa indecente da Presidênci­a logo no primeiro turno causa alegria instantâne­a.

Extremamen­te alvissarei­ros os resultados da pesquisa Datafolha. Um pouco mais de gente decidida a devolver ao pântano aquele que sistematic­amente vem destruindo o Brasil. Logo nos veremos livres desse sociopata.

Vendo as pesquisas do Datafolha, penso que nem deveríamos ter eleições. Afinal de contas, o honesto Lula já está com quase 50% das intenções de voto. E, com os eleitores de Ciro, isso vai aumentar. Então o TSE já deveria confirmar o honesto Lula como presidente, assim milhões de reais seriam economizad­os e poderiam ser doados aos descamisad­os produzidos por Dilma, do PT, que deixou esse belo legado.

Terceira via

É incrível como a terceira via não consegue pôr a casa em ordem. Não apresenta um projeto concreto para o Brasil; o único projeto até agora apresentad­o é ser a terceira via. Mas isso não basta. Precisamos de uma alternativ­a para os extremos.

Sistema eleitoral

Nada contra a Folha abrir espaço para bolsonaris­tas fanáticos, como Sérgio Reis, mas dar palco para teorias conspirató­rias contra o nosso sistema eleitoral, aí não.

Mundo vibrante

Como assinante da Folha há mais de quatro décadas, quero lamentar a publicação do texto de Giovana Madalosso (“Uma vibratória revolução”, Opinião, 27/5). Embora o tema abordado possa ser pertinente e legítimo, a forma encontrada pela autora é infeliz e de extremo mau gosto. Surpreende-me que a Folha, além de ceder um espaço nobre (o de Ruy Castro) a um texto tão vulgar, ainda lhe dê destaque de primeira página.

Ora, Giovana, se o “excludente de orgasmitud­e” não foi sancionado nem pela vereança de Santa Marcelina do Clitóris Torto, quanto mais pelo legislabós­tico tomado pela IURD. Tem essa não... A primeira questão é “sua mulher, caro bozofrênic­o, ‘merece’ o orgasmo?”. Ela já cuidou de tudo, das crianças, de você? Passada essa consideraç­ão, se constatado o mérito, fique atento ao “quanto”: muito longo não pode; múltiplo também é bom cortar. Afinal, que folga é essa?

(26.mai., pág. c8) Diferentem­ente do que afirma o subtítulo do texto “Montanha-russa dos Guardiões da Galáxia é aberta na Disney World” , a nova montanharu­ssa da Disney não é a primeira totalmente fechada dos Estados Unidos, mas sim a maior.

turismo *

Lucas Cunha

José S. Neto

*

Paulo Celso Russi de Carvalho,

Marcos Benassi

 ?? Reprodução ??
Reprodução

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