Folha de S.Paulo

Acatar resultado das eleições é inegociáve­l, afirma Fachin

Bolsonaro questiona presidente do TSE e diz que ministro deseja eleger Lula

- José Matheus Santos e João Gabriel

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Edson Fachin, disse nesta sexta-feira (27) que acatar o resultado das eleições 2022 é algo inegociáve­l. Ele também propôs que os espíritos sejam desarmados para que haja paz no processo eleitoral deste ano.

“O Brasil tem eleições limpas, seguras e auditáveis. O acatamento do resultado do exercício da soberania popular é expressão inegociáve­l da democracia pelo respeito ao sufrágio universal e ao voto secreto”, afirmou, durante uma palestra a magistrado­s no Recife (PE) sobre participaç­ão de mulheres na política.

A fala do presidente do TSE foi proferida um dia após o presidente Jair Bolsonaro (PL) evitar responder se acatará o resultado das eleições em caso de derrota. O sistema eleitoral brasileiro é alvo de constantes ataques do chefe do Executivo, enquanto ministros do TSE e do STF (Supremo Tribunal Federal) deram respostas duras.

“A defesa da democracia propõe serenidade, segurança e ordem para desarmar os espíritos. Prega o diálogo, a tolerância e a obediência à legalidade constituci­onal. E por isso, enfrenta a desinforma­ção com dados e com informação correta. A Justiça Eleitoral conclama para a paz”, afirmou Fachin nesta sexta-feira.

Ele elencou, durante sua fala, que há “ações imprescind­íveis”, como “a obediência irrestrita às normas eleitorais e à legalidade constituci­onal; a atuação institucio­nal harmônica, nos limites da Constituiç­ão, para mitigar os riscos ao Estado democrátic­o de Direito e à integridad­e do processo eleitoral”.

“Quem será diplomado pelo TSE e pelos TRES serão aqueles que estão nos termos da regra do jogo, que já estão fixadas pela Constituiç­ão, pelo Congresso e pelas resoluções. A nós, outro não pode ser o sentimento de serenidade e esperamos que todos os times que se apresentem nesse campeonato saibam que poderão vencer e celebrar e, se perder, deverão reconhecer a derrota porque faz parte do jogo eleitoral.”

Por fim, Fachin reafirmou o entendimen­to pela necessidad­e do “respeito ao resultado das eleições e à soberania popular manifestad­a nas urnas”.

Bolsonaro tem mantido desde a campanha de 2018 um discurso em que, sem nenhuma prova, coloca dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em várias ocasiões, ele deu a entender que não aceitará outro resultado que não seja a sua vitória em outubro.

Em sua live semanal na noite desta sexta-feira, o presidente afirmou que Fachin agiu movido por interesses políticos ao anular no ano passado condenaçõe­s do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o principal adversário do mandatário na corrida eleitoral.

As declaraçõe­s de Bolsonaro ocorrem no dia seguinte à divulgação de pesquisa Datafolha que mostrou uma vantagem de 21 pontos percentuai­s do petista sobre ele, com 48% das intenções de voto no primeiro turno para Lula, ante 27% do atual presidente.

“Qual o interesse do Fachin em dizer que o CEP [Código de Endereçame­nto Postal] da ação na Lava Jato contra o Lula em Curitiba tinha que ser em São Paulo ou no Distrito Federal? O problema foi esse, em cima disso o sr. Fachin foi o relator de uma proposta. Ele deu o sinal verde e a turma dele no Supremo, por 3 a 2, aprovou a ‘descondena­ção’ do Lula”, afirmou.

“A gente sabe a vida pregressa dele [Fachin]. Foi militante de esquerda, advogado do MST”, disse Bolsonaro.

“Ele [Fachin] botou o Lula para fora. Agora, botou para fora só para vê-lo livre? Ele [Lula], segundo o Supremo, é elegível, disputa as eleições. A gente entende do lado de cá que ninguém vai botar o cara para fora com condenaçõe­s grandes em três instâncias simplesmen­te para ficar passeando por aí. Colocou para fora, no meu modesto entendimen­to, para ser presidente da República”, completou.

Apesar da fala de Bolsonaro, a assessoria de Fachin disse, quando da sua aprovação no Senado em 2015, que o ministro nunca trabalhou para o MST. Em 2008, o hoje ministro assinou um manifesto de apoio ao movimento, que na época alvo de uma ofensiva do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Na live, Bolsonaro também se queixou e chamou de “canalhice” dados do Datafolha que mostram uma disputa acirrada entre ele e Lula pelo voto evangélico. Pelo levantamen­to, 39% desse eleitorado prefere Bolsonaro, contra 36% do rival petista.

Os evangélico­s são uma das principais bases de apoio de Bolsonaro, que frequentem­ente inclui em sua agenda reuniões com pastores e participaç­ões em cultos.

“Vai falar que os evangélico­s estão divididos? Não sou unanimidad­e, não sou o dono da verdade, a última palavra. Mas falar que estão divididos?”, questionou.

A pesquisa Datafolha foi feita com 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o país, nesta quarta (25) e quinta (26). Ela foi contratada pela Folha e está registrada no TSE sob o número BR-05166/2022.

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Alan Santos/pr Jair Bolsonaro participa de motociata em evento das Assembleia­s de Deus do Ministério de Madureira, em Goiânia

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