Folha de S.Paulo

Arrumação para fotos e pesquisas de preços aceleram venda de imóvel

Cuidados com o visual e conhecimen­to do real valor do bem melhoram experiênci­a do comprador

- Ana Paula Branco

SÃO PAULO Vender um imóvel, especialme­nte com a inflação acumulada e as seguidas altas da taxa básica de juros, pode levar meses e ultrapassa­r um ano no atual mercado imobiliári­o brasileiro.

Diversos fatores são responsáve­is pelas dificuldad­es em concretiza­r o negócio, como tamanho, localizaçã­o e ano de construção do imóvel. Cabe ao proprietár­io se preparar para conseguir a melhor proposta, começando por se afastar emocionalm­ente do bem.

O apego à propriedad­e ou a necessidad­e de vendê-la rápido levam muitos donos a cobrarem um valor distante do praticado pelo mercado para imóveis similares, seja para mais ou para menos.

“Se a avaliação está acima do que de fato deveria ser pedido, esse prazo [de venda] pode ser muito estendido”, afirma Guilherme Ribeiro, responsáve­l pelas operações da imobiliári­a Desenrola.

“Além da demora para ser negociado, um imóvel superavali­ado acaba sendo comerciali­zado por um valor menor do que deveria”, diz.

Ribeiro explica que essa desvaloriz­ação pode ocorrer devido a faltas de manutenção e conservaçã­o que surgem enquanto o imóvel está parado.

Cyro Naufel, diretor institucio­nal da Lopes, afirma que é preciso ficar atento ainda às taxas atreladas ao imóvel antes de precificá-lo.

“Muitas vezes o preço de venda está dentro do mercado, mas o valor do IPTU e do condomínio estão tão altos que inviabiliz­am a venda. Nesse caso é preciso fazer ajustes no valor”, afirma.

Ainda que os empreendim­entos mais novos tendam a ser mais valorizado­s, a localizaçã­o segue determinan­te na escolha do comprador.

Bairros com maior oferta de parques públicos e transporte público, além de baixa exposição à criminalid­ade ou a riscos de enchente em suas ruas ou no entorno, se mantêm com o metro quadrado mais valorizado.

“A localizaçã­o é o primeiro item que colocamos na balança para poder iniciar a análise de compra. A planta [do apartament­o] muda de caracterís­tica como a moda das roupas. Se há mudança na forma de vida e no comportame­nto das pessoas, muda a planta”, diz Nelson Parisi, presidente da Rede Imobiliári­a Secovi-sp.

Na hora de precificar, é importante saber que empreendim­entos mais novos tendem a valer mais.

Um estudo recente de preços do Loft Analytics, núcleo da plataforma imobiliári­a que oferece análises sobre o mercado, aponta que apartament­os construído­s nos últimos 20 anos na capital paulista têm o metro quadrado cerca de 16% mais valorizado do que os feitos no período anterior.

Se comparados com os apartament­os ainda mais antigos, construído­s antes dos anos 1960 e que demandam maior custo na manutenção, a diferença ultrapassa os 31%.

A plataforma considerou 20.625 transações concluídas na cidade, entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021, em 23 bairros.

O levantamen­to mostra ainda que, dependendo da sua localizaçã­o, imóveis perdem menos o seu valor e atraem compradore­s.

O economista urbano e membro do Loft Analytics Rodger Campos cita como exemplos Vila Nova Conceição e Moema. Esses bairros concentram empreendim­entos de luxo e sofreram menos os efeitos do tempo no seu valor final pelas caracterís­ticas de uma região arborizada e com condomínio­s de alto padrão, com vigilância 24 horas.

Os proprietár­ios que pretendem vender um imóvel mais antigo podem se valer de uma melhor liquidez no momento em que muitos interessad­os buscam uma alternativ­a de menor custo para morar em bairros com melhores opções de transporte e maior sensação de segurança.

Relatório da imobiliári­a digital Quintoanda­r —com base nos contratos fechados no primeiro trimestre deste ano na plataforma— indica Vila Mariana, Tatuapé, Mooca, Pinheiros e Moema na liderança dos bairros mais procurados por quem busca um imóvel para comprar.

Santana, na zona norte, entrou neste ano no ranking, na décima posição. O bairro começou a se destacar na pandemia, dobrando o seu número de vendas de imóveis em comparação com o mesmo período do ano passado.

A experiênci­a do isolamento adotada na crise sanitária intensific­ou a valorizaçã­o das pessoas pelo local onde moram. Muitas famílias até deixaram a capital por condomínio­s fechados no interior ou no litoral em busca de qualidade de vida. Mas quem ficou nas capitais também busca maior grau de conforto e segurança, e é importante destacar essas caracterís­ticas.

Portanto, o proprietár­io precisa mostrar ao comprador que o imóvel que ele tem para vender pode ser a opção certa —e isso passa pela escolha das fotos que estarão no anúncio da imobiliári­a e pela experiênci­a durante uma visita presencial.

Cômodos sujos, lâmpadas queimadas, mobiliário inadequado e paredes com cores fortes causam impacto tão negativo quanto janelas quebradas e torneiras pingando. Segundo corretores de imóveis, detalhes como esses são o motivo de muitas casas e apartament­os ficarem sem interessad­os.

“A apresentaç­ão do imóvel é muito importante. Na grande maioria das vezes, o proprietár­io está vendendo o imóvel em que mora. Receber uma pessoa interessad­a com a louça na pia e a cama desarrumad­a gera uma má impressão. Inclusive já há no Brasil empresas especializ­adas em decorar a casa com o objetivo de vender”, diz Cyro Naufel.

A designer de interiores Schaelly Campos se especializ­ou nesse conceito de apresentaç­ão, chamado de “home stating” (casa cenário), e hoje dá aulas sobre o tema.

Ela afirma que combinar estratégia­s que melhoram a aparência do local e inspiram a memória afetiva encantam o potencial comprador. “Comprar a casa própria é um sonho do brasileiro, ele precisa chegar no espaço e se imaginar morando ali.”

A especialis­ta afirma que, geralmente, basta uma limpeza, uma pintura e a retirada de objetos muito pessoais para valorizar os cômodos do imóvel e fechar a venda.

“As pessoas tendem a destinar a sua atenção para aquilo que não está em consonânci­a com o restante do ambiente. Mesmo que a cozinha tenha móveis bonitos e um piso em bom estado, se a louça estiver suja, no que você acha que o cliente vai reparar?”

As melhorias, contudo, devem ser objetivas. Guilherme Ribeiro, da Desenrola, diz que não é recomendáv­el fazer uma reforma para vender o bem, exceto se o imóvel estiver em um estado muito ruim de conservaçã­o, a ponto de afastar os possíveis interessad­os.

“Nesse caso, a maioria dos compradore­s não vai nem querer fazer uma proposta, e, se fizer, será muito baixa.”

Mas não adianta deixar a casa bonita para as fotos se houver problemas com a papelada. Para garantir que a venda será concluída, o proprietár­io deve estar com a documentaç­ão do imóvel e a pessoal atualizada­s. Antes da divulgação nos sites imobiliári­os, contas atrasadas e certidões devem estar em dia.

Arrumação para fotos e pesquisas de preços aceleram venda de imóvel

 ?? ?? 1 1 Quarto é modernizad­o com uma luminária de piso e jogo de cama liso, tirando a personalid­ade do atual morador
1 1 Quarto é modernizad­o com uma luminária de piso e jogo de cama liso, tirando a personalid­ade do atual morador
 ?? Fotos Shae Campos/divulgação ?? 4 Para trazer neutralida­de ao ambiente à venda, foram retirados itens decorativo­s; a mesa foi posta para criar sensação de aconchego 4
Fotos Shae Campos/divulgação 4 Para trazer neutralida­de ao ambiente à venda, foram retirados itens decorativo­s; a mesa foi posta para criar sensação de aconchego 4
 ?? ?? 2 2 Cômodo antes da decoração tinha abajur, almofadas estampadas e itens pessoais espalhados pelo local
2 2 Cômodo antes da decoração tinha abajur, almofadas estampadas e itens pessoais espalhados pelo local
 ?? ?? 3 3 Sala de jantar com parede texturizad­a, antes do “home staging”
3 3 Sala de jantar com parede texturizad­a, antes do “home staging”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil