Folha de S.Paulo

Acerto de contas

Liverpool quer dar o troco no Real Madrid pela final perdida em 2018

- É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University College Marina Izidro

“É hora da vingança.” Ver Mohamed Salah falando assim, nesse tom, até surpreende. O atacante do Liverpool tem perfil de bom-moço, é um exemplo dentro e fora de campo, não se envolve com polêmicas. Mas essa entrevista recente não foi a única vez em que o egípcio provocou o Real Madrid, adversário da final da Liga dos Campeões deste sábado (28).

Quando o time inglês se classifico­u para a decisão do torneio ao eliminar o Villarreal, o egípcio foi questionad­o sobre quem gostaria de enfrentar e não teve dúvidas: “Quero jogar contra o Real Madrid”. Logo depois, escreveu em um tuíte: “Temos um placar para resolver”, o popular acerto de contas. E conversou publicamen­te de novo sobre o assunto: “Todos querem este jogo, não sei por que não se pode falar sobre isso”. Como aquela final de 2018 vencida por 3 a 1 pela equipe espanhola deve estar engasgada na garganta...

Salah tem motivos para sentir-se assim. Eu estava em Liverpool no dia da decisão disputada em Kiev, quatro anos atrás, cobrindo a atmosfera na cidade e a reação dos torcedores. Um palco foi montado em uma praça, moradores apaixonado­s por futebol lotaram ruas e pubs. Foi dentro de um deles que vi olhares incrédulos quando o egípcio deixou o campo chorando, ainda no primeiro tempo, depois de um lance com Sergio Ramos.

O zagueiro não está mais no Real Madrid e hoje atua no PSG, clube de Paris, justamente a cidade onde será a final. E no último encontro entre Liverpool e Real Madrid na Liga dos Campeões, nas quartas de final do ano passado, também deu Madrid. Ainda por cima, Ramos estava machucado, portanto a revanche de Salah nunca aconteceu. Lembrando que é a última chance de troféu para o egípcio neste ano, já que ele não vai para a Copa do Mundo e ficou sem a Premier League, vencida pelo Manchester City na última rodada e por apenas um ponto de diferença.

Mas a motivação, claro, está no time inteiro. Até o técnico Jürgen Klopp apimentou a rivalidade, dizendo: “Jogar contra o Real Madrid na final é nosso destino”. Quatro anos depois, novos personagen­s são candidatos a protagonis­tas pelo lado do Liverpool, como o brasileiro Alisson, que entrou no lugar do alemão Lorius Karius, o colombiano Luis Díaz, entre outros. Também há novos duelos, como o do francês Karim Benzema contra o holandês Virgil Van Dijk, e o entre dois dos maiores treinadore­s do planeta na atualidade, Klopp e Carlo Ancelotti.

É também sempre bom lembrar como o Brasil estará bem representa­do nas duas equipes: além de Alisson e Vinicius Junior, há Fabinho, Casemiro e Éder Militão, só para citar prováveis titulares, além de Roberto Firmino, o decisivo Rodrygo e Marcelo.

O Liverpool chega como leve favorito, mas sabe o tamanho da dificuldad­e que terá pela frente: como vencer uma equipe com uma camisa pesadíssim­a como a do Real Madrid, com 13 títulos na competição e que nesta temporada saiu de situações que pareciam perdidas e foi avançando de forma heroica, principalm­ente contra Chelsea e City?

Foram meses de trabalho intenso, reviravolt­as e resultados improvávei­s. Em um jogo único em solo neutro o vencedor leva tudo, nesta final que ficará marcada na história do futebol. Nesta semana, Salah deixou um último recado. Postou nas redes sociais uma foto levantando o prêmio de artilheiro da temporada da Premier League com a frase: “Ainda não terminamos”.

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