Fantasia de Frida Kahlo é abordada na Coleção Folha Grandes Pintores
Volume ‘A Dor e o Amor em Pintura’ explora de que modo os autorretratos e a genealogia influenciaram a mexicana
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Frida Kahlo chegou a dizer que pintava a si mesma porque estava sempre sozinha, mas também porque era o assunto que conhecia melhor. Por esse motivo, não é impossível analisar sua obra inteira como se tratasse de um único autorretrato.
É o que mostra agora “A Dor e o Amor em Pintura”, terceiro volume da Coleção Folha Grandes Pintores que chega às bancas neste domingo para elucidar a trajetória da artista cuja pintura é biográfica.
O autorretrato mostra tanto como Frida se vê, como quer ser vista. Ela realiza desde representações clássicas e idealizadas, com inspirações que remetem a Botticelli, aos prérafaelitas e a Modigliani, até outras nas quais assume sua latinidade, substituindo a fisionomia delicada pelo buço acentuado e as sobrancelhas unidas, sua marca registrada.
Nos exemplos analisados pela coleção, Frida aparece ora com vestimentas típicas e penteados diversos, ora com trajes masculinos. São inúmeras as telas nas quais está acompanhada por animais de estimação (perus, esquilos, macacos, papagaios) que substituíram os filhos que não teve.
Sua árvore genealógica, representando a origem mexicana e europeia, é um tema recorrente. Está tanto em “Meus Avós, Meus Pais e Eu”, de 1937, como em “Minha Família”, de 1949, trabalho inacabado que a artista realizou cinco anos antes de morrer, quando estava internada e se recuperando de uma das 32 cirurgias pelas quais passou.
Como resultado do acidente de ônibus que sofreu, em 1925, Frida fraturou três pontos na coluna, a clavícula e a pelve, além de ter o útero perfurado e o pé direito esmagado. Sobre o episódio, há apenas dois registros —“O Ônibus”, de 1929, tela na qual representa personagens da sociedade mexicana, e “Acidente”, de 1926, em que aparece deitada sobre uma poça de sangue, enfaixada e com o coração visível. Desde a primeira cirurgia, sua mãe instalou um cavalete e um espelho sobre a cama para que Frida pudesse se ver.
Foi após o casamento com Diego Rivera, em 1929, e a mudança temporária do casal para Detroit, nos Estados Unidos, onde ocorreu o primeiro aborto, que Frida criou a primeira pintura a respeito de suas dores. Além dela, a Coleção Folha também enfatiza outras obras que funcionam como uma projeção da dor. Entre elas, estão “Umas Facadinhas de Nada”, de 1935, e “Memória (O Coração)”, de 1937, ambas realizadas após a artista tomar conhecimento do relacionamento de sua irmã caçula, Cristina, com Rivera.
Não é incomum a mistura da realidade e da fantasia, algo que chamaria a atenção dos surrealistas. Frida enfatizava, porém, que nunca pintara sonhos, mas apenas a realidade.
No fim da vida, ela passa a se dedicar às naturezas-mortas, embora prefira chamar essas obras de naturezas-vivas, já que seus arranjos de flores e frutas eram exuberantes e projetavam seus sentimentos e sua sexualidade.