Folha de S.Paulo

Mostra pergunta o que é um imigrante desejado

Artistas Anaís Escalona, Shambuyi Wetu e Zé Vicente expõem obras no Museu da Imigração em parceria com a Folha

- Eu Vim de Lá Museu da Imigração - r. Visconde de Parnaíba, 1.316, São Paulo. Abertura no sáb. (28), às 11h; de ter. a sáb., 9h às 18h, e dom., 10h às 18h. Até 2/10. R$ 10. Grátis aos sábados

Uma série de indagações impulsiono­u a montagem de “Eu Vim de Lá”, a principal instalação da mostra que o Museu da Imigração, em São Paulo, inaugura neste sábado. O brasileiro é mesmo um povo acolhedor? Diferentes fluxos migratório­s foram recebidos da mesma forma ao longo das décadas?

A criação de três artistas que vivem na capital paulista —a venezuelan­a Anaís Escalona, o congolês Shambuyi Wetu e o brasileiro­s Zé Vicente— não oferece uma resposta fechada à pergunta, mas lança reflexões por meio decolagens, recortes, bordados e uma escultura.

Inicialmen­te, eles fizeram uma extensa pesquisa nos acervos fotográfic­os do museu e da Folha, instituiçõ­es parceiras na realização da mostra. Essa busca por imagens de diferentes períodos se somou às vivências dos artistas. Escalona trocou Caracas por São Paulo há 16 anos, e Wetu deixou Kinshasa, capital da República Democrátic­a do Congo, rumo à capital paulista oito anos atrás. “Tínhamos a intenção de desconstru­ir um discurso colonialis­ta ao qual estamos acostumado­s”, afirma Zé Vicente, que também assina a curadoria ao lado de Rachel Amoroso. “No começo do século 20, quem eram os imigrantes desejados pelo Brasil? Quais são os desejados hoje? O que as fronteiras dizem sobre os nossos preconceit­os?” Ao citar “imigrantes desejados”, ele se refere principalm­ente aos europeus estimulado­s a se mudar para o Brasil no final do século 19 e começo do 20, quando as ideologias de branqueame­nto eram muito populares no país.

A partir de questões como essa, os artistas criaram uma colagem com centenas de imagens, que ligam imigrantes de diversas origens e épocas.

Segundo Wetu, a intenção é apresentar de maneira realista as dificuldad­es de quem troca o país natal por uma terra desconheci­da.

Ao lado dessa estrutura com colagens e recortes, no primeiro andar do museu, há uma série de bandeiras de tecido, elaboradas pelas Emprendedo­ras sin Fronteras, cooperativ­a de costureira­s da Bolívia e de outros países da América Latina. Numa delas, o bordado anuncia que “o Brasil não recebe a cabeça do imigrante, recebe apenas o seu corpo”.

De acordo com Anaís Escalona, “o imigrante é valorizado no Brasil para o trabalho manual, não para trabalhos intelectua­is ou artísticos”.

A exposição se estende pelo jardim. O visitante será recebido por um totem criado a partir de uma performanc­e de Wetu intitulada “Bagagem”.

A mostra abre às 11h. Ao meio-dia, o museu recebe um show da banda La Caravana Orquestra, formada por instrument­istas de países como Chile, Cuba e Venezuela.

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Gabriel Cabral/folhapress A venezuelan­a Anaís Escalona, o brasileiro Zé Vicente e o congolês Shambuyi Wetu ao lado da instalação

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