Aceno à direita mais radical pode explicar revés do presidente no Datafolha, diz Lira
O desempenho do presidente Jair Bolsonaro (PL) na pesquisa Datafolha pode ter sido reflexo de acenos à base mais radical da direita, disse o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ressaltando que o mesmo acontece quando o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz gestos à ala mais radical da esquerda.
Lira participou de programa da rádio Bandeirantes na manhã desta sexta (27). Ele foi questionado sobre o resultado do levantamento divulgado na quinta (26), que mostrou Lula com 21 pontos percentuais de vantagem sobre o presidente.
Lira foi questionado especificamente se o resultado de Bolsonaro no levantamento poderia ser reflexo da graça concedida ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), no final de abril. Ele respondeu que o país está polarizado à esquerda e à direita.
“Quando os dois candidatos fazem gestos às suas alas mais radicais, eles perdem espaço”, disse, citando discurso do petista contra a independência do Banco Central, a reforma trabalhista e privatizações, além de falas incentivando a volta do imposto sindical ou discursos em ambiente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra).
Lira disse que, quando isso ocorreu, “o presidente Bolsonaro saiu tirando quatro, cinco pontos por mês nas pesquisas”.
Ele fez referência a pesquisas não divulgadas feitas na semana em que Bolsonaro perdoou Silveira. “Naquela semana, isso não repercutiu”, disse, antes de acrescentar que “toda vez que o presidente fala mais na linha dos mais radicais da direita, isso pode influir.”
“Fatos mais radicais de parte a parte prejudicam momentaneamente aquele candidato”, avaliou Lira.
Para ele, quem vai decidir a disputa de outubro é o eleitor moderado. “Os brasileiros que querem previsibilidade e que vão escolher o que cada um representa. Com a polarização nesse nível no Brasil, os que ficam ao centro, 33%, 34% de eleitores, é que vão decidir o que cada um representa.”
Lira ponderou que é cedo para uma avaliação mais segura sobre as eleições e que muita coisa ainda vai acontecer.
“Não é fácil para qualquer país discutir eleição numa crise energética, inflacionária mundial, mas que aqui no ano de eleição ninguém quer saber”, defendeu o deputado.
“O eleitor lá na ponta, no Nordeste ou no Norte, que vai no supermercado e não consegue comprar um quilo de carne, que vai num posto e não consegue abastecer, ele não quer saber se o problema é lá nos EUA também, com 9% [de inflação], na Inglaterra com 9%, na Argentina com 60%. Ele quer saber que no Brasil ele não está comprando.”
Criticou a campanha que circula nas redes sociais mostrando a perda de poder de compra do brasileiro na gestão Bolsonaro. “Pelo amor de Deus, naquela época não tínhamos crise, não tínhamos pandemia, não tínhamos guerra, não tínhamos nada. Tínhamos um mundo em ascensão”, afirmou.
Sobre os alertas do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Edson Fachin, ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em relação ao código eleitoral aprovado a toque de caixa pela Câmara em setembro passado, defendeu que cabe ao Congresso elaborar, votar e fazer as leis que vigoram no país.